ECHO & THE BUNNYMEN – “METEORITES”
Um novo disco do Echo & The Bunnymen. É claro que, de uns quinze anos pra cá, a desconfiança sempre vem casada com tal frase. Mas “Meteorites”, o décimo segundo trabalho da banda de Liverpool, acaba com a desconfiança rapidamente. É, ao longo da jornada de suas dez faixas, um disco tão bom como pode ser qualquer disco médio do Echo & The Bunnymen.
Pense racionalmente. Talvez tirando “Crocodiles” (1980) e “Ocean Rain” (1984), duas pérolas preciosíssimas, praticamente todos os outros discos do Echo & The Bunnymen são como “Meteorites”: possuem dois ou três potenciais candidatos a “best of” e uma penca de músicas tão agradáveis quanto sublimes ou esquecíveis, dependendo do humor do freguês. As boas de “Meteorites” são a faixa-titulo, que abre o disco com um climão digno do auge do Echo, “Lovers On The Run” e a excepcional “Market Town”.
Não que o resto seja ruim e dispensável. Até as mais redondinhas e radiofônicas, como “Holy Moses”, têm lá sua graça. Os fãs ferrenhos certamente irão se empolgar com o clima mais nublado da vigorosa “Constantinople” e com a balada “Burn It Down”, embora possam se frustrar com a levada suingada e descompromissada de “Is This A Breakdown?”.
O grande prazer de “Meteorites” está em perceber que a tecnologia pode nos preservar prazeres, como o de ouvir a voz “acabada” de Ian McCulloch ainda parecida com aquela que maravilhosamente nos encantou nos anos 1980. É assim que ela se apresenta aqui. Junte a isso o fato de haver uma banda inspirada (ou McCulloch e Will Sergeant inspirados) e temos realmente um dos melhores discos do Echo em muito tempo, como andou afirmando McCulloch.
Pode ouvir sem desconfiar.
NOTA: 7,0
Lançamento: 2 de junho de 2014
Duração: 47 minutos e 38 segundos
Selo: 429 Records
Produção: Martin “Youth” Glover
Pra ouvir: “Lovers On The Run”
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CADU TENÓRIO – “1987/1990”
É preciso conhecer a carreira de Cadu Tenório pra, talvez, conseguir se encantar com esse trabalho altamente conceitual. Ele é uma continuação de “Cassettes” (2014), sua estreia assinando como Cadu Tenório, ao mesmo tempo em que é “diferente”, como ele mesmo afirma.
Esse é mais cinematográfico, por assim dizer, com muitas colagens – e com colagens muito mais aparentes. Menos drones, menos “melodia”. É música “acidental”, não tenha medo de afirmar, embora o artista não vá concordar com esse raciocínio. Mas, veja: enquanto os trabalhos anteriores, com todas as suas assinaturas, serviam a um propósito qualquer ao ouvinte (a mim, por exemplo, a um propósito de contemplação e, acredite, concentração), esse “1987/1990” exige muito mais atenção pra perceber os detalhes, o que pressupõe-se também observar defeitos.
No caso, “1987” é incômoda, enquanto “1990”, lá pelas tantas, traz algum conforto.
Cadu buscou no seu baú de memórias musicais e digitais as bases pra criar suas lembranças (os anos são datas importantes pra ele) e salientando demais as colagens acabou dispensando uma das características que mais me agrada em sua obra: a experimentação numa linha de raciocínio pertinente ao ouvinte. Não é demérito, o artista não tem que agradar bases estabelecidas, ainda mais nessa estrada que ele trafega, mas se ele oferece base de comparação, há como pinçar preferências. “1987/1990”, pois, não está entre elas.
NOTA: 6,0
Lançamento: 29 de abril de 2014
Duração: 28 minutos e 18 segundos
Selo: Independente
Produção: Cadu Tenório
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BLACK POLYGONS – “SILENCE”
Não faço ideia de quem seja Cyril Rampal. Nem sei se ele existe de fato, ou quem assume tal codinome (se isso for um codinome). Mas há que se agradecer publicamente pela sua sensibilidade. “Silence” é seu terceiro disco e tal como o de estreia, de 2012, auto-intitulado, exibe uma beleza experimental sem igual hoje em dia.
Rampal faz um ambient denso, mas contemplativo, não recomendável a potenciais suicidas ou solitários em geral. São peças curtas, que variam de um a dois minutos e meio, que se encerram sem muita explicação e parecem exercícios de algo maior que ainda vai ser criado. Rampal é econômico ou, talvez, apenas não saiba exatamente como desenvolver suas ideias.
Tentar entender seu perfil, porém, não importa ao ouvinte que se debruça em “Silence”. O disco, como o próprio nome indica, é uma sinfonia de silêncios. É o silêncio pelo som, já que tirando no vácuo, não há ausência de som.
O que Rampal parece nos dizer aqui é: ouça o silêncio. Ouça: é impressionante o que se pode descobrir.
NOTA: 8,5
Lançamento: 5 de maio de 2014
Duração: 23 minutos e 49 segundos
Selo: Independente
Produção: Cyril Rampal
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NEIL YOUNG – “A LETTER HOME”
É uma pena que esse disco acabe renegado a uma mera peça publicitária do novo serviço de música de Neil Young, o Pono. Está longe de só servir a isso. E também está longe de se valer apenas da forma curiosa como foi gravado, numa cabine de gravação dos anos 1940, chamada Voice-o-Graph, apertada, onde só cabem o artista, um violão e a gaita – e olhe lá – e cujo resultado é gravado direto no vinil. São fatores relevantes, mas é só ouvir a música, o produto final, pra se impressionar.
Com “Psychedelic Pill” e “Americana”, ambos de 2012, são retratos de uma seção da história dos Esteites. “A Letter Home” não é diferente. Por outra, é até mais incisivo nisso, ao escolher apenas canções escritas pelos compositores preferidos de Young. É ele, seu violão, gaita e voz (eventualmente, piano, a cargo de Jack White, em “On The Road Again” e “I Wonder If I Care As Much”) reinterpretando-as na tal cabine, da maneira mais “baixa fidelidade” possível, como transportando-as pra metade do século passado, quando o pós-guerra destruía toda inocência e, num impulso, jogava a cultura nos braços do povo (a largada pra criar a cultura pop) e dos números de mercado.
Neil Young manda uma carta pra casa, falando com sua mãe: era assim que funcionava antes da tecnologia e da ganância ferrarem tudo.
Se há exagero, se é papo saudosista (no nível tiozão dizendo que no tempo dele era melhor) ou se é mero instrumento promocional, basta ouvir “Changes”, “Needle Of Death”, “Reason To Believe”, “On The Road Again” ou “Since I Met You Baby” (lembrando muito Robert Johnson) pra você dar de ombros. Neil Young ainda consegue te emocionar, te fazer arrepiar. Só por esse motivo, que é um motivo puro a qualquer arte, é um cara que vale ser ouvido, a despeito de quaisquer desculpas.
NOTA: 9,5
Lançamento: 19 de abril de 2014
Duração: 38 minutos e 50 segundos
Selo: Third Man Records
Produção: Jack White e Neil Young
Pra ouvir: “Needle Of Death”
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