ETERNAL SUMMERS – “THE DROP BENEATH”
Depois de “Correct Behavior”, disco de 2012 (leia resenha aqui), se mostrar só meio aproveitável, metade genial, metade insosso, o Eternal Summers nos apresenta aqui uma peça singela, “The Drop Beneath”, pop e adocicada, ao mesmo tempo que rude, pesada e rascante. Acima de tudo, atolada em recursos de produção, que, a despeito de parecer um defeito em razão da pasteurização, joga a favor.
Logo de cara, o começo climático de “100” (lembrando levemente, lá no fundo da mente, o começo de “The End”, dos Doors) é cortado pela bateria Daniel Cundiff e somos apresentados a uma Nicole Yun finalmente cantando bem (palmas pra engenharia, pra experiência ou pro treino?), com suavidade e leveza, agradabilíssima.
Os gostosos vocais da oriental se destacam ainda mais quando o ouvinte se depara com baladinhas que, à primeira vista, causam estranheza, dentro do universos um-dois-três-quatro da banda. “Keep Me Away” e “Until The Day I Have Won” são bons exemplos. Mas o DNA do grupo está mesmo em peças pop-garageiras, balançáveis e assobiáveis, como “Gouge”, o single linha-de-frente, “Never Enough” e “Capture”, embora aqui, em todas elas, a crueza e a tosqueira deram lugar à limpeza, empacotadas com as benesses da tecnologia de estúdio.
Mas o Eternal Summers não largou os ’80 e as microfonias. “Make It New” é um primor, guitarra alucinada, climão de perseguição, a grande canção do disco. E tem “Not For This One”, uma pérola. É uma banda que não para de surpreender – e o melhor, parece não batalhar desafogadamente por isso. É natural.
NOTA: 7,5
Lançamento: 4 de março de 2014
Duração: 46 minutos e 12 segundos
Selo: Kanine Records
Produção: Doug Gillard
Pra ouvir: “Gouge”
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REAL ESTATE – “ATLAS”
“Um disco delicioso e um dos melhores do ano!”: não se espante com o provável exagero de afirmações desse naipe (que já andam pipocando por aí), porque, sim, “Atlas”, o terceiro disco do Real Estate, está bem próximo disso – merece todas as exclamações, todo o seu entusiasmo, palmas e adjetivos de admiração.
Alt-indie-rock de categoria, “Atlas” é daquelas obras em que apontar uma música de destaque é tarefa um tanto árdua. Lembra Wilco e lembra Midlake, se é que servem de referências aos mais jovens, duas bandas cujas almas transbordam leveza, melancolia e beleza. Ao mesmo tempo. O Real Estate é assim.
O trio central da banda, Matt Mondanile, Martin Courtney e Jackson Pollis, vai oferecendo riquezas sonoras até básicas, marteladas no ideário indie por anos, mas, música após música, da inicial e aconselhável “Had To Hear” à instrumental “April’s Song”, o ouvinte se entrega e logo está formulando exclamações como a que inicia este texto.
Talvez não seja uma banda pra grandes espetáculos ao vivo. Não a deseje em grandes festivais, por favor. É intimista, uma música pra chamar de sua, um disco pra agradar visitas em casa e aplacar o próprio anseio por descanso. Um disco pra ouvir dentro do coração.
NOTA: 9,0
Lançamento: 3 de março de 2014
Duração: 37 minutos e 58 segundos
Selo: Domino Records e Mexican Summer
Produção: Tom Schick
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GALLON DRUNK – “THE SOUL OF THE HOUR”
Estamos diante de uma das bandas mais legais e caóticas do mundo. James Johnston e sua turma do Gallon Drunk colocam a insanidade a serviço da música e “The Soul Of The Hour” é um bom resultado disso. O oitavo disco do grupo tem apenas sete canções, mas o nível de doideira perdura por muito mais tempo do que os quarenta e poucos minutos do álbum.
Os garranchos vocais de Johnston, que muito remetem ao igualmente endiabrado Nick Cave, conduzem a tensão sinfônica do disco. A primeira, “Before The Fire”, tem um começo climático, cheio de mistério, antes de martelar a cabeça do ouvinte. Daí pra frente, não se espera nada diferente de demência, até mesmo na baladinha “Dust In The Light”. “The Dumb Room” e “The Exit Sign” são grandiosas o bastante pra valer o ingresso em qualquer birosca onde você encontrar a banda tocando por aí, mundão afora (um prazer, diz-se, difícil de superar).
A discografia do Gallon Drunk tem boa dimensão e os últimos discos – esse e o anterior, “The Road Gets Darker from Here”, de 2012 – são obras que oferecem grande inspiração de Johnston, há tempos trabalhando sem nenhum outro integrante original, embora bem assessorado pelo potente baterista Ian White, assecla desde 2000, um dos protagonistas de “The Soul Of The Hour” (senão, ouça “The Speed Of Fear”). Um gênio que os brasileiros precisam enaltecer.
Essa é uma obra pra desabafar, desestressar, dançar, extravasar. Mas só funciona numa pista de dança pra gente grande, indies-festivos vão estranhar.
NOTA: 9,0
Lançamento: 7 de março de 2014
Duração: 43 minutos e 43 segundos
Selo: Cloud Hill Recordings e Rough Trade
Produção: Johann Scheerer
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LIARS – “MESS”
Num primeiro momento, parece que o Cabaret Voltaire e o She Wants Revenge se encontram num estúdio qualquer e resolveram fazer um som juntos. “Mess”, sétimo disco dos nova-iorquinos do Liars, oferece uma eletrônica pesada e sem frescuras, direta e reta, mas retrô. Impressiona, embora esteja bem abaixo do maravilhoso “WIXIW”, de 2012.
Angus Andrew está raivoso. “Mask Maker” e “Vox Tuned D.E.D.”, emula essa improvável junção, que aos noventistas vai soar “apenas” como um bom Chemical Brothers (ouça “I’m No Gold”). Isso é bom. Mas engana-se quem acha que essa é a parte boa do disco. Se ele pode fazer as vezes de bate-estacas em pistas descoladas, o ouvinte apressado pode ficar nas massacrantes peças do início e deixar de conhecer o que realmente importa no álbum, que é sua segunda metade.
A nota de corte é o candidato a hit “Mess On A Mission”, primeiro single. “Facts are facts, fictions are fictions”, sentencia Andrew, separando duas metades numa verdade indiscutível. A metade “ficção” do disco, por assim dizer, tem experimentos eletrônicos como “Darkslide” e “Boyzone”, incompreensíveis pra quaisquer pistas de dança, descoladas ou não. É nessa parte que está a estranha “Perpetual Village”, talvez a melhor do disco.
O Liars de “Mess”, enfim, bate na trave quando pretende falar com a testosterona das pistas e consegue bons acertos quando experimenta. Parecem dois discos e os dois são promissores, com ideias empolgantes, mas que cansam rápido. É um daqueles casos em que é preciso torcer pro futuro dar razão e uma leitura mais clara do que de fato se pretendeu.
NOTA: 6,5
Lançamento: 24 de março de 2014
Duração: 9 minutos e 58 segundos
Selo: Mute
Produção: Angus Andrew
Pra ouvir: “Mess On A Mission”
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