4 DISCOS: MOON DUO, JACK NAME, DISAPPEARS, PINKSHINYULTRABLAST

MOON DUO – “SHADOW OF THE SUN”

“Shadow Of The Sun” é o terceiro disco do Moon Duo. Vem depois de “Mazes” (2011) e “Circles” (2012). Quem se debruçar na hora da dupla Ripley Johnson e Sanae Yamada poderá achar que já ouviu tudo e talvez queira dispensar o novo rebento. Há de se notar, pois, que entre eles surgiu “Live In Ravenna” (2014), disco ao vivo que acrescentou o baterista John Jeffrey à engrenagem e no qual a viagem adquiriu novas rotações.

Além disso, o disco nasce em um novo endereço, agora “num porão escuro” em Portland, como se a banda tivesse largado a jaquetona de couro e a Harley pra se trancar num vagão sem entrada de ar e luz e se deixasse levar pela velocidade ditada pela locomotiva, sem se importar com o que há lá fora e se alguém está ouvindo. O single “Animal”, em alta velocidade, é bom, cheia de adrenalina, mas não é a cara do disco.

A locomotiva de “Shadow…” trafega em velocidades distintas, partindo da hipnótica “Wilding” pela sem-destino “Night Beat”, sempre arrastando em looping o rife-base, numa espiral aparentemente infinita. O psicodélico é a chave-mestra, como indicam as luzes estrobo de “Free The Skull”, mas o ouvinte ainda pode ouvir adendos de reggae (!!) em “In A Cloud”, de pop praiano em “Zero”, e um pouco, bem pouco, de shoegaze em “Ice” (a melhor do disco).

Se o seu brilhante Wooden Shjips é engessado no formato psicodélico (e aparece aqui em “Slow Down Low”), Johnson consegue aparentemente se divertir mais com o Moon Duo. Sem amarras, o trem segue nos mais variados ritmos e rotações, pelos caminhos que a mente aberta pode levar. Feche os olhos e envolva-se nessa viagem.

NOTA: 7,5
Lançamento: 3 de março de 2015
Duração: 42 minutos e 49 segundos
Selo: Sacred Bones Records
Produção: Ripley Johnson
Pra ouvir (o single “Animal”): clique aqui
Detalhes do disco: clique aqui

JACK NAME – “WEIRD MOONS”

Jack Name (ou John Webster Johns) é um cara que provavelmente você já deve ter trombado por aí, caso não tenha ouvido o estranho e terrível disco de 2013, “Light Show”, que é algo como uma ópera-punk-rock. Ele é amigo de gente como Ariel Pink e Cass McCombs e tocou com o White Fence, Summer Twins e, assinando como John Dust, com tanta gente, que nem vale o crédito. O Thee Oh Sees figura entre os entusiastas de suas doideiras.

Porém “Weird Moons” não é terrível. É, por certo, um apuro do que ele intencionava em “Light Show”: fazer o The Who ovular e o David Bowie ejacular pra nascer um som que é o que o disco é. Esse rebento continua estranho, aparentemente mal acabado, mas não duvide que todos os pingos foram cuidadosamente colocados nos “i”s e nos “jota”s.

“Under The Weird Moon” é um Bowie transloucado (ok, o original também é). “Running After Ganymede” é um psych-pop teatral, escuro e com alguns ruídos. “Lowly Ants” tem afetação sessentista desbundante. E por aí vai, em todas as oito canções, sem muita lógica.

Aqui, isso não faz diferença. Jack Name é tão xarope que consegue transformar em algo imaginavelmente palpável a bizarra história que tenta contar: sobre a influência das sessenta e sete luas de Júpiter sobre o planeta. Bem… O Flaming Lips é mais descolado em credibilidade pra essas maluquices.

O disco pode ficar cansativo com tantas variações, mesmo sendo curto. Isso é algo que a loucura de Jack ainda não resolveu. Mas ele está avançando, de modo que é bom ficar de olho. Não duvido que logo, logo, ele acerta a mão e podemos nos ver diante de um disco e tanto.

NOTA: 5,5
Lançamento: 20 de janeiro de 2015
Duração: 27 minutos e 45 segundos
Selo: Castle Face
Produção: Jack Name
Pra ouvir: clique aqui

DISAPPEARS – “IRREAL”

“Irreal”, o quinto disco do Disappears, é o oposto do que se sente ao ouvir os aclamados discos do renascimento do Swans (“The Seer”, 2012; e “To Be Kind”, 2014): enquanto Michael Gira te empurra pra fora pela força centrífuga do seu som, Brian Case e sua turma parecem te dragar pra uma espécie de buraco negro sufocante, tirando seu ar, seu equilíbrio mental, seu prumo.

É desse jeito que você irá ficar ao embarcar em “Irreal”. Intenção perseguida, objetivo alcançado.

É um disco pesado não pela sonoridade em si, mas pelo clima que a banda constrói nas oito canções. Não há explosões sonoras ou rifes hipnóticos e envolventes como nos discos anteriores. O Disappears não está aqui pra facilitar. Quando o ouvinte chegar à faixa-título (é a quarta), poderá estar fisicamente acabado, pra baixo, e aqueles noises esparsos não serão a salvação, pelo contrário, eles vão piorar o quadro, te rasgar por dentro.

Está claro que “Irreal” não é um trabalho fácil de se ouvir. Aconselha-se a fazê-lo por partes. Numa tocada só pode ser pesado o suficiente pra acabar com seu dia.

É uma obra crua. Há aqui o kranturock do Can se encontrando com a escuridão do Bauhaus (ouça “Mist Rites”), no que poderia dar em algo teatralmente divertido – afinal o Bauhaus era uma banda-teatro das mais divertidas.

Porém, o Disappear pegou o sumo de cada uma, o experimentalismo matemático dos alemães e a profundeza gótica dos ingleses. Daí que surgem “I_O” e “OUD”, essências de “Irreal”. “Halcyon Days”, a que seria o descanso “palatável”, também não dá sossego, está na mesma linha. Nela, a bateria de Noah Leger, instrumento que comanda as ações em todo o álbum, está magnânima.

Você pode se perguntar o motivo de alguém querer encarar um disco tão depressivo. A resposta está na própria ideia do buraco negro, onde tudo é sugado pra dentro, onde mora o irreal. Pois bem, “Irreal” não é exatamente um álbum “depressivo”, mas uma obra carregada de emoções pesadas que te sugam a energia. No final das contas, você estará livre delas, purificado e mais leve, ficará aliviado, pronto pra encarar sua dura realidade.

NOTA: 9,0
Lançamento: 19 de janeiro de 2015
Duração: 45 minutos e 19 segundos
Selo: Kranky
Produção: John Congleton
Pra ouvir (o single “Irreal”): clique aqui
Detalhes do disco: clique aqui

PINKSHINYULTRABLAST – “EVERYTHING ELSE MATTERS”

O nome da banda vem de um disco do Astrobite, “Pinkshinyultrablast” (originalmente de 2002, mas lançado em 2004). A banda é russa e “Everything Else Matters” é o primeiro disco cheio. Antes, o quinteto só havia lançado o ótimo e ruidoso EP “Happy Songs For Happy Zombies”, de 2009. A história desse mundo pós-banda larga é abarrotada de grupos que chamaram a atenção e depois sumiram sem deixar vestígios.

Seis anos depois, “Everything Else Matters” aparece pra responder se era fogo de palha ou não. A resposta, porém, passa pelo termômetro do fanatismo: o quanto você gosta de shoegaze?

Porque o Pinkshinyultrablast ainda tem muito daquele fogo de cinco anos atrás, mas não é só porrada, como mostrado no EP (“Honeybee” era a exceção climática). Está muito mais longe do My Bloody Valentine e perto do Cocteau Twins e isso é bom. A ambient abertura de “Wish We Were” antes da porradaria mostra uma banda mais versátil.

E segue com “Holy Forest”, com uma suingada no início antes de apresentar a vibração Cocteau Twins (principalmente no vocais), vibração que se acende mais e mais em “Glitter”. Quem espera um shoegaze mais contundente encontra em “Land’s End”, ou mais leve em “Umi”, mas no disco predominam mesmo os climões, com as longas construções de “Metamorphosis”, de baixo protagonizando o balanço, e da viajantemente ruidosa “Marigold”.

O recado que os russos parecem dar é que camadas de guitarras são deliciosas, mas há um mundo mais amplo a ser explorado, uma gama de sons que realmente importam. Quando se trata de dar vazão aos impulsos criativos, não se pode fechar o foco.

Que não demorem pra lançar o próximo.

NOTA: 7,0
Lançamento: 26 de janeiro de 2015
Duração: 44 minutos e 54 segundos
Selo: Club AC30
Produção: Pinkshinyultrablast
Pra ouvir: clique aqui
Detalhes do disco: clique aqui

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