PHANTOGRAM – “VOICES”
Entendo quando um fã defende a banda até os últimos momentos. É natural tentar se manter fiel a uma ideia já concebida por alguns bons trabalhos e relutar em aceitar tropeços. O Phantogram é um desses casos. Depois do empolgante e distante “Eyelid Movies”, de 2009 (!), criou-se uma boa e delirante expectativa em torno do seu sucessor. Mas a musa Sarah Barthel e seu comparsa Josh Carter entraram pro circuitão (é o primeiro disco por uma grande marca) e, trabalhando com rappers, com o Flaming Lips, empolgando-se com o que de mais moderno os estúdios podem oferecer, talvez tenham se deslumbrado e a maionese desandou.
Com o EP “Nightlife”, de 2011, já dava a conta do exagero. O Phantogram estava deixando pra trás aquela aura baixa-fidelidade-tosqueira que atraía tanto no seu synthpop-shoegaze (ou algo do tipo). Mas ainda havia esperanças. “Eyelid Movies” no fazia lembrar disso a todo instante.
Porém, uma a uma das canções liberadas de “Voices”, o segundo disco, foi reforçando a aura de decepção. Sartah Barthel incrementou seus vocais, ganhou destaque, mas a forçada pegada new wavista super-produzida pesou e “Nothing But Trouble”, “Black Out Days”
e “Fall In Love” foram sendo difíceis de engolir, dependendo do humor do ouvinte.
Fica claro que a banda idealizou em cada recurso do disco alcançar o sucesso, e a balada “Bill Murray” pode ser umas das faixas a se encarregar disso. O caso é que apesar de todo o apelo modernoso, dos vocais bem cuidados, do carisma de Barthel e de alguma criatividade inserida, o Phantogram parece mesmo um caso perdido nesse momento.
NOTA: 4,0
Lançamento: 18 de fevereiro de 2014
Duração: 32 minutos e 58 segundos
Selo: Republic
Produção: Phantogram e John Hill
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JUÇARA MARÇAL – “ENCARNADO”
Apesar de interpretar com intensidade canções de Tom Zé (“Não Tenha Ódio No Verão”), Itamar Assumpção (“E O Quico”) e Romulo Fróes (“Queimando a Língua”), Juçara Marçal, em seu primeiro disco solo, “Encarnado”, tem o maior trunfo em seu canto e nas execuções guitarrísticas da dupla Rodrigo Campos e Kiko Dinucci (no Metá Metá com Juçara).
Embora as letras estejam aí, a melodia esteja aí, são as duas guitarras e a voz que dão a 2014 um dos seus grandes discos (sem medo de tão antecipada definição). Enquanto Juçara canta, as guitarras cortam, experimentam, envolvem, arranham, desgastam as arestas, e você pode até, se quiser, esquecer a mensagem e mergulhar nos ruídos sônicos. Não há percussão de qualquer tipo. Só que há, ainda e de quebra, aos amantes dos noise, a poesia desses ótimos letristas, da velha e da nova geração, falando sobre morte e, consequentemente, sobre viver.
Pra não ter dúvidas, vá direto a “Odoya” (de autoria de Juçara) e “Ciranda Do Aborto”, unidas na visceralidade, no furor, na paixão. “Ciranda Do Aborto” ainda tem o brilhantismo de se embaralhar numa teia ruídos pra entorpecer qualquer mente. Um disco que une a MTB e a MPB de um jeito irretocável. Baixe agora!
NOTA: 8,0
Lançamento: 18 de fevereiro de 2014
Duração: 36 minutos e 23 segundos
Selo: Independente
Produção: Fernando Sanches
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WALLACE COSTA – “EVERY GLOBE ABOVE OUR HEADS EP”
Um dos preferidos da casa, Wallace Costa e seus muitos codinomes (Um Camenzin, Transparente Intenso) seguem soltando discos e mais discos, com, a bem da verdade e da lógica, podendo, pela grande velocidade de criação, errar ou acertar na mesma medida. “Every Globe Above Our Heads”, um EP de menos de dez minutos e cinco músicas, é um bom exemplo disso.
Começa com duas músicas sublimes, “Sigh” e “Less Blue”, que já valem o disco – ou até mesmo qualquer disco do cantor (principalmente “Less Blue”); pra depois cair em folks menos inspirados, embora não necessariamente ruins, como “This Song”.
“Every Globe bove Our Heads” é despretensioso, vai passar rápido e talvez você não dê atenção merecida a ele. Mas mostra que Wallace é um dos compositores mais interessantes do Brasil hoje em dia. Um compositor que não está nos holofotes e mesmo assim segue firme despejando sua cordialidade sonora pra história.
NOTA: 8,0
Lançamento: 14 de fevereiro de 2014
Duração: 9 minutos e 58 segundos
Selo: Independente
Produção: Wallace Costa
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BLEEDING RAINBOW – “INTERRUPT”
Música jovem inconsequente das melhores que temos hoje em dia, junto com o Eternal Summers. Canções curtas, aceleradas, divertidas e… esquecíveis. O Bleeding Rainbow chega ao seu quarto disco, sucedendo o pouco ouvido “Yeah Right”, de 2013, com vigor, torcendo pra que a juventude abrace a causa e dê ao disco a visibilidade que ele merece.
Não seria uma surpresa. Muito mais do que nos anteriores, os estadunidenses Sarah Everton, Rob Garcia, Al Creedon, e Ashley Arnwine se apegam aos resquícios do grunge, mesmo que com resultados diferentes (“Images” é sensacional; “Cut Up”, nem tanto), e fazem do lo-fi noventista algo ainda interessante, com as distorções características (“Tell Me”, “Start Again”, “So You Know” e “Out Of Line”). A melhor do disco, porém, é a instrumental-viajandona “Monochrome” – e vale dar uma ouvida na garageira e envolvente “Dead Head”.
Um disco bem legal pra animar festas, regadas à cerveja barata, som alto, reclamações dos vizinhos e ressaca no dia seguinte. Tudo o que adolescentes deveriam fazer em todos os finais de semana.
NOTA: 6,0
Lançamento: 25 de fevereiro de 2014
Duração: 38 minutos e 55 segundos
Selo: Kanine Records
Produção: Kyle Johnson
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