Ninguém resiste a uma festa junina. Nem mesmo os hipsters, que normalmente são os mais metidos a besta com coisas, digamos, populares. É que, sinceramente, não há como não curtir uma iniciativa dessas da produção do 5º All Folks Fest de fazer do evento uma festa junina. Tem tudo a ver com a questão central: folk tem, na essência, ligações umbilicais com nosso sertanejo de raiz, aquele afastado das universidades e festas de gente bem nascida (nada contra pessoas bem nascidas, vale sublinhar).
No Centro Cultural Rio Verde, dia 29 de junho de 2013, o público participou de uma rara conjunção entre o popular, de emotiva relação pessoal em cada um do público, e o moderno uso de guitarras, banjos, bateria e apreço pelo o que é importado dos Esteites.
O folk nacional representado aqui pelo baiano Benjamin, pelos paulistas do The Outside Dog e pelos mineiros d’O Berço, tem todo esse espectro de cores que representa o estilo: da banda-de-um-homem-só-a-la-Dylan ao blues-folk-pop de beira de estrada, daqueles de filmes estadunidenses.
Vale lembrar que não é um estilo urbano e aí temos um dilema: como atrair mais público pra um tipo de música voltado, no Brasil, basicamente pra hipsters ou descolados, que transformam em deuses artistas como Wilco, Mumfords & Sons e afins?
Pipoca e paçoca gratuitas, pesca de prêmios, derruba-latas, biribinha, bandeirinhas, sinuca e, claro, música – pronto, o All Folks Fest equilibrou o dilema e conseguiu atrair mais de duzentas pessoas pra sua quinta edição, a mais enxuta delas, a mais divertida, como se ouviu por entre o público que participou.
Nada daria certo, porém, se as atrações musicais não tivessem feito bonito. De cara, com certo atraso, Benjamin encantou com seu folk a la Dylan e Tallest Man On Earth. Benjamin causa certo estranhamento com a composição baiano-albino-folker. Baiano… folker? Preconceitos de lado, a surpresa maior, pra quem não conhecia seu trabalho, foi causada pela qualidade das canções apresentadas pelo músico.
Com um EP no currículo, “Live From A Dead Room – A One Take Session”, de 2012, e um novo a caminho, Benjamin só pecou mesmo pelo set exageradamente longo, o que causou visível irritação em vários presentes, que simplesmente abandonaram a apresentação e passaram a conversar alto, do meio pro fim, incomodando quem queria acompanhar o show.
Mas a destreza das composições de Benjamin, sua simpatia e sua voz quase-lá (não tão grave quanto sua música pede) valeram a estampa de melhor show da noite. Se não o mais animado, foi musicalmente o melhor.
01. Waters
02. Ceilings
03. Sheets
04. Weathers
05. Revelation Blues (The Tallest Man On Earth cover)
06. Islands
07. Traveller
08. Heal
09. Stun
10. Silent (recital no meio da música: poesia “Só Os Encontros São Reais”, do poeta Quirino)
11. Coconut Skins (Damien Rice cover)
12. Stand
13. Soldier
O The Outside Dog estava jogando em casa, quando subiu ao palco: muitos familiares e amigos davam uma sensação de que qualquer coisa feita pela banda iria agradar. Não há mal nenhum nisso, até porque seu som de “banda cheia” realmente empolgou mais, no sentido de animar – e contagiou quem não tinha ligação alguma com a banda, fazendo do ambiente um legítimo saloon.
Embora o início do show tenha tropeçado por conta de problemas técnicos (com o microfone), a banda logo superou o imprevisto e fez a pista da bela arena do CCRV ensaiar uma quadrilha. Definitivamente, não era um show pra “contemplar”, era preciso entrar na dança, mesmo que as coveres “inusitadas” não se prestassem diretamente a isso.
A The Outside Dog tocou a trilha sonora da quadrilha da festa junina que virou o festival. Mas seria só aquecimento.
01. The Rooster’s Gonna Crow
02. Dias De Chuva
03. Contramão
04. Esperança
05. Lot Of Fools
06. So Close To The Edge
07. Open D Blues
08. Brown Eyed Girl (Van Morrison cover)
09. É Preciso Lutar
10. Romaria (Renato Teixeira cover)
11. Rasta Bonito (Almir Sater cover)
A animação gerada pela The Outside Dog ganhou outra dimensão com O Berço. Foi aqui que o pessoal realmente se entregou à dança e à quadrilha, com “o caminho da roça”, trenzinho e tudo o mais que faz a alegria popular nessa época do ano.
Mas uma festa junina folk-rock, como propôs O Berço, com direito a Elvis Presley, Chuck Berry e Crosby, Stills, Nash & Young, resolve a equação que afasta muitos dos jovens urbanos de tradições como os festejos juninos.
O 5º All Folks Fest foi bastante feliz no conceito, mas esse conceito não vai funcionar sempre (até porque o festival não acontece sempre nessa época do ano) e a equipe precisará de criatividade pra se superar. O folk brasileiro merece essa tribuna pra disputar os espaços urbanos (e o coração) que seu público só oferece aos similares gringos.
01. Tomoleite
02. Insisto
03. Carry On (Crosby, Stills, Nash & Young cover)
04. Talvez Eu Corte O Meu Cabelo
05. Alice
06. Pense, Dance
07. Little Lion Man (Mumford And Sons cover)
08. Agridoce
09. Palpitante
10. Fidalua
11. Miss Deise
12. Little Less Conversation (Elvis Presley cover)