Banda importante da segunda metade dos anos 1990 e de toda a década de 2000, a Wry, paulista, vai voltar – pelo menos, a princípio, pra um show único, em Sorocaba, interior de São Paulo, no Asteroid, casa de shows do guitarrista e vocalista Mario Bross, do guitarrista Luciano Marcello, e do produtor Jon Hassuike.
A apresentação acontece dia 24 de maio de 2014, um sábado, vinte anos após o primeiro show da banda.
“Mario Bross, Lou Marcello, Chokito (baixo), Renato Bizar (bateria) e André Barbosa (bateria), com participação de William Leonotti -, tocando as músicas de maior expressão dos 16 anos de carreira, no palco do Asteroid, em Sorocaba”, diz a página oficial do evento.
O que motivou essa volta? A Wry é uma banda que conseguiu se manter de música durante um tempo, angariou elogios da MTV e da Bizz, foi pra Inglaterra e tocou com The Subways, The Cribs, entre outras, e encantou de Ash a My Bloody Valentine (vale ler esse texto), e que, embora tenha acabado “oficialmente” em 2010, tem uma boa parcela do público brasileiro que não a conhece.
Nessa entrevista curta e exclusiva, Mario Bross responde o que motivou a volta e o que pode vir a partir dessa apresentação, que deve ser o trampolim pra novidades: “sim, existe a possibilidade de coisas novas e outros shows; não sou saudosista, por isso precisa ter algo novo e interessante ao mesmo tempo!”.
Essa volta é muito bem-vinda, afinal, qual banda nacional teria no Velvet Underground, como Mario cita abaixo, a fagulha inspiradora pra uma reunião?
Floga-se: A Wry fará uma apresentação ao vivo agora em maio. Será uma apresentação única, comemorando 20 anos do nascimento da banda, ou a banda está se aquecendo pra “voltar” de fato, de modo que esse show seja um pontapé pra uma turnê ampla e um disco novo? Vocês estão ensaiando ou vai ser naquela pegada de uma “grande jam”?
Mario Bross: Estamos ensaiando, sim. Queremos tocar muitas músicas pois estamos muito com vontade. E, sim, existe a possibilidade de coisas novas e outros shows, nada certo, mas o caminho parece seguir pra esse lado. E a vontade também. Não sou saudosista, por isso precisa ter algo novo e interessante ao mesmo tempo!
F-se: Como foi juntar todo mundo? Foi uma engenharia muito complicada?
MB: Na verdade, a parte mais difícil de voltar o Wry sou eu. Não tenho facilidade de cuidar de muitas coisas ao mesmo tempo, e já tenho o bar e a minha casa, esposa, jardim e uma cadela, a Lyla. Mas depois de cantar uma música do Velvet Underground no Bar Secreto recentemente, meus olhos brilharam e já resolvi mandar uma mensagem pros outros Wry, pra materializar e não dormir com aquilo e esquecer; e tudo já ficou claro, todos querem voltar! Eu, Luciano e o Jon, nosso técnico de som, temos o Asteroid. O Chokito está em Londres, com esposa, mas volta sempre. O André e o Renato também estão casados e têm seus trabalhos.
F-se: A Wry fez o nome na década de 1990, quando ainda existia a força de filtros como a revista Bizz e a MTV. Depois, foi ganhar a vida na Inglaterra. Hoje, os tempos são outros. Acredita que a banda teria, começando agora, a mesma projeção que teve à época? E hoje seria possível a banda sobreviver?
MB: Uma pergunta muito difícil de responder, como na teoria d’O Gato de Schrodinger (Nota do Editor: sobre a indeterminação do paradoxo), mas imagino que seria a mesma coisa, a projeção seria a mesma. Pois nós também seríamos outras pessoas, não as mesmas da segunda metade dos anos de 1990. Em 1995 nós aparecemos, mas foi a partir de 2000 que ficamos bem mais conhecidos, e com “Flames In The Head”, de 2005, foi mais ainda. Eu sempre acho que somos um pouco atrasados, não acho tão anos 90 assim, mesmo tendo começado ali. Talvez porque era tudo mais devagar. Primeiro disco em 1998 e o “Heart-experience”, no final de 1999, já pra 2000.
Vídeo de “Flames In The Head”:
F-se: É certo que muita gente das novas gerações não conhece a banda, pela distância do tempo. Então, há plano em vista de reeditar os discos e EPs, lançando em vinil, por exemplo? Há muito material não lançado?
MB: Estamos lançando o site Mondo Wry e disponibilizando toda a discografia em alta qualidade e com capas e encartes. Existem coisas não lançadas, mas dificilmente iremos lançar, pois estão perdidas nas mãos de outros pessoas, e muitas não temos mais o contato – pessoas dos EUA ou Inglaterra.
F-se: As pessoas cobram muito o retorno da Wry? O que foi determinante pra vocês toparem esse show-homenagem?
MB: Não sei o que seja “muito”, mas nunca morreu, sempre tenho mensagem inbox, e-mail ou ao vivo, de gente querendo ver porque nunca viu, gente nova. A grande maioria de fãs veio de 2005, com a Internet, Londres, MTV, acho que deu uma boa refrescada nesse setor pra gente. Na última turnê, em 2009, muitos fãs eram da nova geração ou dessa do “Flames In The Head”.
F-se: O que a Inglaterra ensinou pra vocês como artistas no sentido criativo e no sentido de gerenciamento de carreira?
MB: Tudo, praticamente. Lá até as crianças podem ensinar, já está no gene deles esse tipo de coisa. Sinto que é difícil pras bandas brasileiras, não todas, perceberem-se como profissionais como outros profissionais, e não se acharem especiais apenas, porque são artistas. Os músicos de uma banda de rock alternativo precisam se ver como profissionais também, que precisam se renovar, aprender, escrever melhores canções, se adaptar, mudar, pesquisar etc. Parece que muitos se sentem mimados, mas não imagino por quem.
Boas pessoas fazendo boa música e me trazendo boas memórias!
Abraço a todos da WRY!
[…] entrevista ao Floga-se, você disse que havia material do WRY “perdido nas mãos de outras pessoas”, certo? O que […]