ÁCIDAS – UMA VOZ E TUDO

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Eu sigo na busca incansável pelas vozes femininas mais bonitas desta década, século, era. nos últimos artigos, falei de cinco delas, com estilos diferentes, vozes diferentes, sons diferentes, todas maravilhosas.

Tem pra todos os gostos. Emmy The Great, Beabadoobee e Ela Minus neste texto. A inquieta Billy Nomates neste outro. E a tumultuada Becca Manacari aqui, uma das minhas preferidas – sem contar a maravilhosa Aldous Harding (vá aqui).

Maple Glider (ou Tori Zietsch, seu nome de documentos), australiana de Melbourne, lança neste ano seu primeiro disco, “To Enjoy Is The Only Thing” (em 25 de junho de 2021, cortesia do trabalho da Piater e da Partisan Records), e pelo pouco que ouvi, não tenho como escapar de escrever sobre ela.

Que voz (leia de maneira dramática, assustada, espantada, encantada, estupefata)! Mas não só. Vozes bonitas existem por aí. Há quase nenhum esforço dela em traduzir sentimentos – quais sejam! – em seus altos e baixos vocais, normalmente sussurrantes.

Ao esforço mínimo pra realizar muito bem e destacadamente uma tarefa que qualquer outra pessoa simplesmente não consegue chamamos de “talento” (ou capacidade, habilidade… no caso de Glider, é talento, com letras maiúsculas, como o que ela nos entrega).

Não me pergunte se ela bonita. Não me importa. Fisicamente ela é tão bonita quanto qualquer pessoa que alguém possa achar bonita, então não espere de Glider fazer poses de diva pop, que dependem bastante da sua imagem pra alavancar sua construção artística (as roupas provocantes sexualmente, das danças, as caras e bocas). Glider vai gastar quase nenhuma caloria pra cantar e todo o resto virá automaticamente: as sensações no ouvinte serão incontáveis.

Ao contrário de Nomates, cujo jeito desengonçado de se expressar fisicamente é uma arma pra provocar; e diferente de Mancari, que tem nos seus atributos a timidez, e de Harding, que parece muitas vezes cômica, com seu rosto e movimentos expressivos; Glider pode simplesmente fazer vibrar as cordas vocais e não precisar de mais nada.

Tá bom, tá ok, as outras cantoras citadas aqui são talentosas também, poderiam apenas sentar em frente a um microfone e mandar ver, o suficiente pra encantar suas plateias; mas Glider oferece algo que transcende. Não parece ser necessário saber de onde está saindo aquela voz e talvez nem mesmo entender o recado daquela poesia. O negócio é aceitar, ser passivo. É um poder incomparável.

É easy listening (ah, se os elevadores tocassem isso!), não há provocação e não há discussão. Há graça – o vídeo de “Swimming” mostra Glider dançando com um esqueleto, tirando uma onda com o que restou de um amor findo – mas tal graça também surge de quase nenhum esforço, um tanto inocente, infantil, sem profundidade.

Gostar de Glider parece fácil. Uma voz pra acompanhar em momentos solitários, uma música pra largar os problemas. A senhorita Glider tem esse talento.

1. As Tradition
2. Swimming
3. View From This Side
4. Friend
5. Be Mean, It’s Kinder Than Crying
6. Good Thing
7. Baby Tiger
8. Performer
9. Mama It’s Christmas

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Foto que abre o artigo: Bridgette Winten (Facebook)

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