Paulo Caetano, uma das pontas do soberbo Bemônio, perdeu o pai recentemente e, como todos que já passaram pela experiência (eu incluído), precisava extravasar a dor. A forma que ele encontrou é nesse disco do seu novo projeto ADEUS. O trabalho chama-se apenas “pai” e tem cinco músicas.
“Não estou usando do meu luto como pretexto pra lançar e muito menos pra que vocês se sintam obrigados a ouvir. Apenas estou fazendo isso como uma lição pra mim mesmo, de algo que não consegui fazer com ele presente, vivo. Apenas um arrependimento de poder ter agradecido antes. Mas sei que estará sendo sabedor mesmo lá em cima”, disse Caetano, em postagem no Facebook.
Utilizando guitarra e sintetizador, Caetano cria uma atmosfera ora raivosa, ora introspectiva, que bem pode ser percebida como nossos espamos de sentimentos não compreendidos por nós mesmos diante de situações limites. Mas pode ser também só isso: expurgo da dor, criatividade fluindo como alívio.
Com “Duque”, com a guitarras rasgando a alma, e “Zarko”, respeitosa, Caetano abre o disco imprimindo uma marca que parece não querer ver no Bemônio, o da organização de pensamentos. Enquanto no seu projeto principal (ou, pelo menos, naquele que ficou mais conhecido), a balbúrdia e o esporro se mostram no centro das atenções, aqui em Adeus é o olhar pra dentro do vazio da alma que é caro.
“pai” não é, entretanto, o primeiro trabalho como Adeus. Em outubro de 2013, ele já havia lançado “Cantiga Ninar” (ouça e baixe aqui).
Ouça “pai” na íntegra:
1. Duque
2. Zarko
3. Bartô
4. Ane
5. Atento