AFRO HOOLIGANS – CORPO FUNDO

“Corpo Fundo” é o disco em que o Afro Hoolingans pisa no freio do “incômodo”, mesmo seguindo na experimentação. Comparando-se com o primeiro, “The Retrofuturist”, de 2012; ou com o “techno sexual” a la Cabaret Voltaire/Front 242 de “Hard Vanilla”, a banda formada por Marcos Felinto, Everton Andrade e Guilherme Henrique, apresenta sons menos disformes e provocativos, o que não quer dizer que seja “pior”.

Felinto chama o grupo de “projeto xamânico de música eletrônica experimental”. É certo dizer que “Corpo Fundo” talvez seja a melhor tradução disso. É um disco viajante, literalmente – pra tomar algo e deixar a música invadir a mente. É reflexivo. Chega a ser progressivo.

“Em seus trabalhos, os Afro Hooligans trazem estranhos encontros de sonoridades perdidas entre a crueza do drone e as sutilezas de uma house music mística e primitiva”, dizem eles, na apresentação oficial de “Corpo Fundo”. “Ao longo dos anos de existência, o grupo descolou-se dos padrões sonoros mais ácidos que os marcaram na pequena cena eletrônica paulistana e partiram em busca de danças mais leves, labirínticas e sublimes”.

É uma boa descrição. E o melhor exemplo é a rítmica e “indígena” “Chico Saiu Para Caça”. São oito minutos de um ritual de purificação e concentração, com especial atenção aos “tambores” envoltos por um clima de suspense. Não confunda com musak, passa longe disso. Tampouco é música ambiente. “∆” é outro ritual de preparação, mas o estímulo aqui é em grupo.

“Mercabah” e “Luzes” são o trecho progressivo da obra. A primeira é mais encorpada e eletrônica (alguns diriam “kraftwerkiana”). Enquanto a segunda busca uma mistura das duas primeiras (a natureza) com a tecnologia. E “Fogo” é uma “rave na selva”.

A imprecisão na definição da sonoridade de Felinto e sua turma, por parte do ouvinte, é uma das graças deste disco, que tem DNA, mas seu código principal desenvolveu várias órgãos e definiu funções diferentes pra cada um deles. As músicas são apenas seis, mas diversas entre si.

A produção de Felinto teve apoio decisivo na mixagem e masterização de Ivan Chiarelli e principalmente do músico, compositor, e engenheiro de som Muep Etmo. Experimentar é com ele mesmo.

O disco foi lançado em 21 de março de 2016, pela sempre atenta Fluxxx (baixe de graça aqui). Você ouve abaixo:

Ao vivo, o trio se veste teatralmente com roupas, digamos, ritualísticas (ver foto que abre o artigo). Mas também são mais agressivos nos noises e drones. É uma experiência que precisa ser presenciada – sentida e ouvida, seja em estúdio, seja ao vivo.

1. Chico Saiu Para Caça
2. ∆
3. MercabaH
4. LUZES
5. Fogo
6. Companhia

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