Há quem não goste dele (quer dizer, do texto dele, porque nem conheço o cidadão). Mas o sujeito é, no mínimo, engraçado. Não fala bem por falar. Ele fala bem do que ninguém gosta e quando passam a gostar ele fala mal. Bom, todo esse mundinho “indie” é mais ou menos assim. Não tenho nada contra. É sempre legal ter algumas bandas de estimação, aquelas que aparentemente só você “tem”, só você conhece. Depois que cai no gosto do povão, mesmo que o povão sejam apenas alguns centenas de pessoas (ou a Folha de São Paulo, ou a MTV), a banda começa a pisar na bola, embora continue fazendo o mesmo tipo de som que fazia quando te encantou. Tudo bem, é assim e nem acho ruim, repito. Até porque sou um pouco assim também. Quer se dane.
O Álvaro Pereira Jr. pelo visto é assim. Só que ele escreve melhor do que eu. Alfineta como poucos, o que sempre é legal. Enche o saco ouvir como uma banda é legal o tempo inteiro. Uma bajulação sem tamanho.
Outro dia falei mal aqui do Klaxons e do Muse. Meu deus! Para quê? Recebi alguns e-mails ofensivos e um comentário desiludido com minha pesosa. Não se pode falar mal de algumas “instituições”. Quando falaram mal do Jesus & Mary Chain, uma das bandas mais bacanas de todos os tempos, não me senti ofendido, mas falei “pô, não era para tanto”. Sim, os caras voltaram por dinheiro e o tempo deles já passou. Por que me ofendo por eles? Nem os conheço! Ou, por outra, conheço, sim. Quando comprei o primeiro LP deles, o “Psychocandy”, em 1986, eles passaram a fazer parte do meu dia-a-dia, como se fosse da família, entende? Entende, sim… Embora seja uma idiotice é assim que eu vejo as bandas que eu gosto.
Do Clap Your Hands Say Yeah não sou assim tão “chegado” como com o Jesus & Mary Chain. Mas acho uma das bandas mais legais da atualidade. O Álvaro Pereira falou mal do segundo diso. Eu achei o disco o máximo. Bom mesmo. Concordamos apenas que “Satan Say dance” é a melhor (talvez porque seja a que mais pareça com as do disco anterior). Mas ele chamou de “hippie lixo”. Não fiquei puto. Mais uma vez, dei risada. Que se dane, é aquela história democrática do “cada um tem sua opinião”.
Não é o que acha o baterista do Cansei de Ser Sexy, Adriano Cintra. Nem sabia que a banda tinha baterista. Talvez seja a banda mais chata da atualidade, junto com o Bonde do Rolê. E falo pela música, porque não conheço os cidadãos que as compõem. Mas eles devem ser bem chatos também. Aqueles indiezinhos que adoram adorar o que ninguém adora, com as mesmas roupas de brechó de sempre, tênis bamba, mulheres dorme-sujo, que odeiam praia (odiar praia não dá). Pois bem, o tal baterista da banda ruim ficou puto com o Álvaro Pereira, quando na sua coluna da Folha na semana passada disse que so caras não são tudo isso que a imprensa diz ser (em resumo, em resumo).
A réplica do músico é que a Folha estava certa em elevar os feitos de sua banda: “Esse tipo de jornalismo egocêntrico e negativo combina muito mais com um blog do que com um jornal. Eu não entendi de onde veio essa bronca toda com a Folha por ela estar cobrindo nosso trabalho de forma tão profissional”.
Quer a resposta do colunista? “O baterista do Cansei de Ser Sexy, Adriano Cintra, ataca ‘Escuta Aqui’ da semana passada. Na coluna, eu critiquei a cobertura, que considero excessiva e aduladora, que a banda recebe da imprensa brasileira, Folha à frente. Adriano rejeitou meus pontos de vista e defendeu a atenção – ‘profissional e íntegra’ – que o jornal lhe dá. Deve ser a primeira vez desde Gutenberg que um artista escreve a um jornal não para reclamar da cobertura que recebe, mas para declarar apoio. Obrigado, Adriano: era esse mesmo meu ponto”.
Percebe o que eu quero dizer? O Cansei de Ser Sexy sempre foi aplaudido pela imprensa local como a banda nacional que está levando o nome da música indie brasileira para o mundo ou sei lá por qual motivo. Quando um sujeito fala mal, o baterista da banda se morde. Adriano fala no texto dele de uma passagem sua na Ordem dos Músicos do Brasil, quando ele foi tirar a carteirinha e foi tratado como um manezão qualquer: “Quando eu li essa coluna (a do Álvaro Pereira), me senti como no dia em que fui tirar a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil e a Dona Eulália (a encarregada de decidir se você era músico ou não, um autêntico bastião dos tempos da ditadura) me humilhou e só acabou me dando a maldita carteirinha de músico depois de um bate-boca infernal de 15 minutos. Nesse dia, achei que ia acabar sendo preso por não saber tocar uma rumba na bateria…”. Pois é, pois é, a Dona Eulália é foda por não dar a carteirinha, a Ordem é foda por obrigar os artistas a ser filiados a ela, caso contrário ficam impedidos de tocar ao vivo, mas o baterista do Cansei de Ser Sexy foi reaça quando ficou puto por alguém falar mal da sua banda… Legal assim.
Não falo mal do Cansei de Ser Sexy por nenhum motivo que não seja a música irritantemente chata deles. Juro que procurei ouvir várias vezes para tentar entender o que tem de tão legal. Não tem jeito, não gostei, não gosto e tal. Idem para o Bonde do Rolê (embora as letras sejam bem engraçadas e a mistura de batidão com sujeira fique boa às vezes). Só que agora posso falar mal do cidadão que é baterista do Cansei…
Quero que o Álvaro Pereira e o Cansei de Ser Sexy vão todos pro mesmo ralo. Tô nem aí. Mas que foi engraçado foi. Barraco público. Bacana.
É isso.
Ah! Para quem torceu o nariz… Sim, eu leio Folhateen, ora! Sou uma criança…