Foi em julho de 2016. O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer já havia morrido quatro anos antes, aos 104 anos, no Rio de Janeiro. Mas a banda francesa Air se unia a Niemeyer num show exclusivo, pra poucos felizardos: uma apresentação bienal na sede do Partido Comunista Francês, em Paris, projetado pelo brasileiro na década de 1960.
“Integrado no programa, nas condições locais e possibilidades construtivas, iniciei os estudos do Partido Comunista Francês, tendo como preocupação primeira, esconder a parede alta do prédio vizinho que a meu ver não deveria contar no ambiente arquitetural. Isso explica a localização do bloco principal e as curvas da fachada descaindo entre ele e o prédio anexo o espaço necessário aos acessos verticais, solução que, internamente, garante a flexibilidade desejada”, disse o arquiteto, sobre sua obra iniciada em 1965.
Comunista convicto, Niemeyer foi pra França assim que o golpe militar no Brasil tomou o poder em 1964 e lá deixou sua marca na paisagem, especialmente em Paris.
A RFI conta que “em Paris que (Niemeyer) aliou suas convicções políticas a sua arte”, com a contratação pra fazer “a sede do Partido Comunista Francês (PCF), projetado em 1965 e inaugurado seis anos depois. Tombado como patrimônio histórico da cidade, a sede do PCF é o prédio mais visitado durante a jornada do patrimônio francês, que ocorre cada ano, em setembro. O jornal comunista L’Humanite, também confiou o projeto de sua sede ao arquiteto brasileiro. O prédio, construído em Saint Dennis, no norte de Paris, foi inaugurado em 1989″.
Sobre o prédio do Partidão, que fica localizado na Place du Colonel-Fabien, no 19° arrondissement, na região norte da capital francesa (pra chegar lá, tem que pegar a linha 2 do metrô, até a estação Colonel Fabien), ele escreve: “fixado o bloco e os acessos, passei a estudar o térreo e os subsolos. Não queria um edifício em ‘pilotis’, nem o hall no térreo ocupando demasiadamente o terreno, preferia um hall mais discreto, semi-enterrado, e externamente, volumes e espaços livres se correspondendo como convém. E criei o hall semi-enterrado – o foyer da classe operária – com salas de espera, exposições, livraria, etc, e o grande auditório que localizado nesse piso, surge nos jardins como um dos elementos essenciais da composição”.
“Pra dar aos que chegam uma impressão de mais amplitude”, ele segue, “projetei a escada externa bem estreita o que permitirá, pelo contraste, o efeito desejado. E procurei em todo o prédio a mesma liberdade plástica e a curva livre e lógica que o concreto armado sugere. É o que vocês encontrarão, com unidade, nas curvas da fachada, no corredor sinuoso, nas formas variadas, quase barrocas, do hall e da cobertura que atendem razões de circulação, utilização e visibilidade”.
O show do Air foi realizado no auditório, que é descrito por este belo artigo da seguinte maneira: “s portas futuristas do tipo airlock ao longo do perímetro do auditório se abrem para revelar uma cúpula de onze metros de altura revestida em milhares de lâminas de alumínio anodizado difusoras de luz. O carpete continua no espaço e gradualmente se transforma no palco no ponto mais ao norte. Um grande toldo de concreto branco – similar ao plano acima da entrada principal – se dobra da parede da cúpula à estrutura e envolve o palco”.
No vídeo criado pelo coletivo francês La Blogothèque, famoso por colocar artistas pop nas ruas do país pra interpretar músicas ao vivo, em conjunção com a vida urbana, se vê o Air envolto nessas milhares de lâminas de alumínio difundindo as luzes coloridas, especialmente azuis.
A banda, inclusive, tem uma ligação com o arquiteto. Naquele mesmo ano, quando veio ao Brasil pra se apresentar num Popload Gig, em em 15 de novembro, Nicolas Godin deu entrevista ao portal G1 e contou que foi à Brasilia pra conhecer as obras de Niemeyer: “eu gosto do Brasil. Amo o país, minha mulher é brasileira. Então, ir até aí não envolve só fazer o show, tem uma coisa pessoal envolvida também. E, sim, fui para Brasília, visitei a cidade. Passamos algumas noites lá”.
Tocar num local projetado por Niemeyer, foi, com tudo isso, uma satisfação pra banda.
Foram onze músicas apresentadas, todas maravilhosamente captadas pelo coletivo francês, que levou o programa ao ar em setembro daquele ano.
01. Venus
02. Don’t Be Light
03. Cherry Blossom Girl
04. Playground Love
05. Radian
06. Alpha Beta Gaga
07. Talisman
08. How Does It Make You Feel
09. Kelly Watch The Stars
10. Sexy Boy
11. La Femme D’argent