AO VIVO: HÜSKER DÜ NO THE ENTRY (1981)

Em setembro de 1981, Prince havia acabado de lançar seu “Controversy”, quarto álbum, que sucedia o clássico e aclamado “Dirty Mind”. Porém, em Minneapolis, Esteites, cidade natal de Prince, as filas eram pra ver outro artista, nascido em Saint Paul, área metropolitana da cidade, o Hüsker Dü.

Não eram filas gigantes. Longe disso. Prince, já aplaudido como gênio e melhor discípulo prático de James Brown, enchia estádios e plateias inclusive na Europa (o show-teste de “Controversy” foi em Paris, França). Mas Bob Mould, Grant Hart e Greg Norton eram três garotos suburbanos, com 21, 20 e 22 anos, respectivamente, que queriam gritar e tocar o mais alto, distorcido e sujo possível e com o máximo de energia que conseguiriam colocar no palco. Isso atraía um público cada vez maior, desde 1979, quando a banda tocou as primeiras notas.

Em Minneapolis, nessa época, se você tinha uma banda iniciante e totalmente fora dos padrões radiofônicos, havia basicamente dois lugares onde você deveria tocar de qualquer maneira (ou acabaria tocando de qualquer forma): o Longhorn Bar e o 7th St Entry.

O Hüsker Dü começou a explodir ouvidos e mentes nesses dois palcos, mas principalmente no segundo. Em 1980 e 1981, a banda tocou basicamente nesses dois palcos, sendo uns 70%, cerca dez shows por mês, no 7th St Entry, conhecido como The Entry, que tem hoje capacidade permitida pra duzentas e cinquenta pessoas, mas que dependendo da noite abarrotava com umas quinhentas.

Fica bem no centro da cidade e é uma casa conjugada com a First Avenue, pra shows maiores, com capacidade quase dez vez maior, duas mil pessoas.

The Entry é de longe reconhecida, já que é “a casa das estrelas”, com suas paredes forradas de estrelas com nomes de bandas que já passaram por lá. Nelas se lê The Misfits, The Pixies, Soul Asylum, Mick Ronson, Rage Against The Machine, Sun Ra, Shellac, The Buzzcocks, L7, Melvins, The Cramps, The Psychedelic Furs, The Exploited, The Sugarcubes, Tito Fuente, Black Uhuru e, claro, não só o Hüsker Dü, como Bob Mould e Grant Hart.

Foi em 15 de agosto de 1981 que o Hüsker Dü gravou lá o seu primeiro disco, o ao vivo “Land Speed Record”, lançado em 1982 (clique aqui pra ouvir). A banda vinha de uma extensa turnê pelos Esteites e que chegou ao Canadá, a primeira da carreira deles, sem ter lançado um EP sequer. Foram vinte e três shows em quarenta e cinco dias, viajando por onze cidades diferentes e cobrindo oito mil e novecentos quilômetros. A volta pra casa foi celebrada com a gravação do disco – já programado antes da partida.

Mas não seria a única gravação programada. Entre 1º e 5 de setembro de 1981, no mesmo clube, a Twin/Tone Records havia escalado quinze bandas pra gravar um grande álbum ao vivo, com uma variedade de câmeras VHS no local, pra captá-las em som e imagem. Era um esquemão ultra profissional, que tais artistas nunca tiveram contato até aquele momento. Essas bandas incluíam o Timbuktu, o Replacements, o Hypstrz e o Hüsker Dü. A ideia é que fosse um disco triplo ou até mesmo quádruplo.

Só que não houve lançamento comercial dessas sessões ao vivo, embora a Twin/Tone tenha programado pra breve (2017 ainda) o lançamento dessas fitas editadas e tratadas.

Algumas daquelas fitas acabaram vazando. A do Hüsker Dü, que aconteceu dia 5 de setembro, acabou no YouTube em 2014 e circula amplamente desde o início dos anos 1990 (é até bem fácil encontrar em cassete e vídeo), com dois vídeos separados e editados, já que a banda fez dois sets naquela noite, um tocando “Land Speed Record” tal e qual e outro com novas músicas, mais lentas, pós-punks e mais elaboradas, que dariam o tom no primeiro disco de estúdio, “Everything Falls Apart”, de 1983, e pro resto da carreira.

A qualidade de som e imagem é ruim, mas não sofrível. Equipara-se com a do disco “Land Speed Record”, numa época em que a banda não se importava com nada mais além de tocar o mais rápido que conseguia e fazer barulho, com as cabeças cheias de anfetaminas. Os caçadores de bootlegs têm shows Hüsker Dü dessa época com qualidade superior.

Mesmo assim, o que se vê aqui é a transição de uma primeira fase agressiva e inconsequente (set 1) pro som que guiou uma das maiores bandas da história (set 2): rápida, explosiva e provocativa.

Com a morte do baterista Grant Hart, aos 56 anos, em decorrência do câncer, no dia 14 de setembro de 2017, é provável que a Twin/Tone acelere o lançamento oficial dessas apresentações. Mas você já pode ver tudo antes aqui (e se já o fez, vale muito rever).

Sobre a morte do companheiro de banda, com quem o desentendimento culminou no fim do Hüsker Dü, no final da década de 1980, Bob Mould escreveu: “Era outono de 1978. Estudava na Universidade de Macalester, na cidade de Saint Paul, em Minnesota. Próximo ao meu dormitório, ficava uma pequena loja chamada Cheapo Records. Havia um sistema de som perto da porta de entrada tocando punk rock. Entrei na loja e acabei saindo com a única pessoa que estava lá. O nome dele era Grant Hart. Depois disso, passei nove anos da minha vida ao lado dele. Nós fizemos músicas incríveis juntos. Nós quase sempre concordávamos sobre como mostrar nossa música ao mundo. Quando brigávamos por causa dos detalhes, era porque nós dois nos importávamos. A banda era nossa vida. Foi uma década incrível. Nós paramos de trabalhar juntos em janeiro de 1988. Seguimos nossas carreiras solo, tocando nossas próprias bandas, encontrando formas diferentes de contar nossas histórias individuais. Nós mantivemos contato nos últimos 29 anos — nem sempre foi fácil. De qualquer forma, a história quis dessa forma, e ocasionalmente é isso que acontece quando duas pessoas se importam uma com a outra”.

Como o próprio nome indica (Husker Du em dinarmaquês/norueguês quer dizer “você lembra?”, e colocando os tremas, Hüsker Dü em turco quer dizer “malicioso”): essa é uma banda pra ser lembrada sempre.

Aqui, cada um dos setlist separados apropriadamente e seu respectivo vídeo:

SET 1
01. All Tensed Up
02. Don’t Try To Call
03. I’m Not Interested
04. Guns At My School
05. Push The Button
06. Gilligan’s Island
07. M.T.C.
08. Don’t Have A Life
09. Drug Party
10. Bricklayer
11. Tired Of Doing Things
12. You’re Naive
13. Strange Week
14. Big Sky
15. Ultracore
16. Let’s Go Die
(teste de bateria)

SET 2
01. In A Free Land
02. Wheels
03. Call On Me
04. Private Hell
05. Won’t Say A Word
06. Diane
07. Sexual Economics
08. Do You Remember?
09. Gravity
10. (instrumental)
11. Statues (trecho)

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