Em 1981, o New Order ainda era uma criança. Lançou o primeiro disco, “Movement”, em 13 de novembro de 1981, pela minúscula Factory, e gozava de uma certa desconfiança da crítica após a morte de Ian Curtis, em 18 de maio do ano anterior.
Desde que se apresentou pela primeira vez no Beach Club, em 30 de julho de 1980, com o nome de “No-Names” e se apresentando como “os remanescentes do Crawling Chaos”, o New Order só havia ido aos Esteites uma única vez, em setembro daquele ano, pra quatro apresentações, uma em Nova Jérsei, duas em Nova Iorque e uma em Boston.
Mas 1981 chegou e com o novo ano veio uma banda disposta a deixar o passado pra trás. Uma série de apresentações ocorreu no Reino Unido, nos cinco primeiros meses, até o quarteto resolver voar pela Europa (França, Bélgica, Alemanha, Escandinávia) e, logo após o lançamento do primeiro álbum, pelos Esteites.
O grupo chegou à Califórnia na primeira semana de novembro, pra cinco shows. Depois, deu uma meia-trava no Canadá, pra uma única apresentação em Toronto, passou por Boston, e então chegou a Nova Iorque.
Na primeira parada, o Ritz, um show um tanto confuso. Depois, o Ukrainian National Home (conhecido como Taras Shevchenko, em homenagem ao poeta ucraniano), no East Village de Nova Iorque.
Esse show é famoso porque acabou virando DVD, chamado “New Order 3 16”, que inclui também a apresentação no Reading Festival de 1998 e um documentário filmado em 2000. O DVD foi lançado em 2001 e tem esse título porque, juntando as duas apresentações, são três músicas do Joy Division (“Isolation”, “Atmosphere” e “Heart And Soul”, todas no Reading) e dezesseis do New Order, juntando os dois shows.
No começo do vídeo aqui vemos uma série de imagens de Shevchenko manipuladas por Peter Saville e Carter Burwell (a música mesmo começa lá pelo terceiro minuto, mas há um corte remasterizado sem esse início do DVD, neste endereço aqui, com som até de melhor qualidade).
O show completo no Ukrainian National Home você vê aqui. São 54 minutos:
O setlist desse show no Taras Shevchenko está abaixo, mas é também interessante ler a resenha do show feita por Tim Sommer, jornalista estadunidense à época com 19 anos, que depois virou produtor, representando da Atlantic Records e correspondente e VJ da MTV. Ele destaca, já na fase “Movement”, como o New Order era diferente do Joy Division, e exaltava essa diferença:
“Ficar ali ao redor do Ukranian National Home no fim da Segunda Avenida de Manhattan, me deixa puto. Esse é um show de prestígio num lugar estranho, e o público, como o hall, é mesmo pretensioso na sua auto-consciente despretensão. O lugar é cheio de pseudo-intelectuais, os transparentes e ridículos boêmios da nova década com seus longos casacos darks, lenços e rostos. Infelizmente, muita do público que você esperaria pro New Order.
“Todo o humor da noite era bem anti-rock, por isso é refrescante e agradavelmente surpreendente quando o show do New Order começa brilhante, com uma força e um poder reais. É uma grande melhora da sua estreia aqui, uns quatorze meses atrás. Seus shows ano passado, os primeiros como New Order e com um membro a menos, é melhor serem esquecidos. A banda estava estática, sombria, impenetrável. Mas agora, vemos um grupo caloroso, humano, aberto e confiante. Se seus antecessores tinham a reputação de ser o Joy(less, sem alegria) Division, o New Order é justamente o contrário, mesmo trabalhando quase da mesma maneira – eles são positivamente mais edificantes.
“Como uma banda ao vivo, o New Order não tem de fato nada a oferecer a não ser eles mesmos e suas habilidades. Não há um nada pra se ver, pra prender a atenção no palco, a não ser sua música que brilha, e isso é bom o suficiente. O som e a música do New Order é de cair o queixo, e embora a música tenha muitos picos e altos e baixos, acho que é surpreendentemente simples. Albrecht e Morris e Hook e Gillian usam o som tão bem, eles são tão firmes e ao mesmo tempo tão intrincados, são verdadeiramente expansivos. Sim, eles são sérios, mas de forma alguma são sombrios. Há esse desenvolvimento pro New Order que como Joy Division dificilmente haveria (ou estava começando a rolar, perto do fim), um desenvolvimento que mantém eles em movimento, nunca pra baixo.
“Cada instrumento explicita uma melodia e ritmo, tecendo e interagindo juntos espetacularmente. O baixo de seis cordas de Peter Hook define tando a melodia quanto o andamento, Albretch tocando e mergulhando sua guitarra pra além dele, tudo com o sólido e básico sintetizador de Gilliam e a bateria envolvente de Morris. New Order é capaz de transmitir segurança e força em seu som, trazendo-o da delicadeza e da vulnerabilidade. Dificilmente você achará uma banda tão boa em usar a música como metáfora expressiva da emoção.
“Entretanto, a plateia, infelizmente, se manteve educada, aplaudindo depois de cada número, mas pior, mal respondia ao sentimento que o New Order transmitia. O grupo merece muito mais do que ser intelectualizado e observado de forma indigesta, do que ser encaixado numa pastinha de pós-nova música, pós-nova-disco melancólica. Muito das outras novidades musicais que eu ouvi estão no nível da mentira sem vida, sem alma, mas o New Order está acima disso”.
1. Chosen Time
2. Dreams Never End
3. Everything’s Gone Green
4. Truth
5. Senses
6. Procession
7. Ceremony
8. Denial
9. Temptation
Po Fernandão, postei esse show uns tempos atrás, mas sem essa maravilhosa história. parabéns, bro!