O Øyafestivalen é hoje o maior festival de música jovem/pop/rock da Noruega. Mas começou nanico: o evento teve sua primeira edição em 1999 e levou menos de mil e quinhentas pessoas pra ver apenas bandas norueguesas. A primeira banda de fora do país a se apresentar foi Asian Dub Foundation, na edição seguinte, o que fez o público triplicar. Na edição de 2016, mais de cem mil pessoas atenderam ao chamado de bandas como Massive Attack, Beach Slang, PJ Harvey, Jamie XX, Neurosis, Mastodon, Julia Holter, New Order, Haim, Foals e muito mais. O ecletismo se tornou a marca (veja aqui a escalação de 2017, que acontece de 8 a 13 de agosto) e fincou estacas da popularidade.
Entretanto, a curadoria do festival não parece fazer o tudo-ou-nada por público. Uma edição, em especial, mostrou que houve na construção do ideário do festival uma preocupação com a qualidade, abraçando bandas com ficha corrida exemplar na música, ao invés de optar apenas pelos nomes que povoam os blogues mais “antenados”.
Em 2006, o Øyafestivalen conseguiu juntar na mesma escalação, Yoko Ono, Morrissey, Hot Chip, Les Savy Fav, dEUS, Black Mountain, The Fall e The Cramps. Uma escalação de fazer inveja. Ainda mais quando se leva em conta que 2006 seria o derradeiro ano nos palcos pro Cramps.
Além do Øyafestivalen, o Cramps se apresentaria mais quatorze vezes naquele ano, pra nunca mais pisar num palco. O último show da banda aconteceu em Tempe, Arizona, Esteites, menos de três meses depois, dia 4 de novembro, numa apresentação explosiva com o Demolition Doll Rods.
Naquele agosto, o Cramps estava na sua última turnê europeia, que incluiriam mais duas apresentações na Suécia (em Malmö e Estocolmo), uma em Londres e outra o tradicional festival Paredes de Coura, em Portugal.
Três anos antes, o grupo havia lançado seu derradeiro trabalho, o oitavo disco de estúdio, “Fiends Of Dope Island” (você consegue ouvir aqui na íntegra). Lux Interior morreria em 4 de fevereiro de 2009, em decorrência de uma dissecção da aorta, aos 62 anos.
Na edição de 2006 do Øyafestivalen, Lux Interior estava prestes a completar 60 anos e Poison Ivy, o amor de sua vida e companheira de banda desde sempre, 53 anos. Não eram exatamente meninos e, a despeito desse imaginário cruel sobre a (falta de) juventude, a apresentação do Cramps foi, como de praxe, dinamite de cérebros.
Começou com duas do primeiro disco, “Songs The Lord Taught Us” (1980), “The Mad Daddy” e “Rock On The Moon”, pra depois abrir o diálogo sempre divertido com a plateia e seguir fazendo o que a banda faz de melhor: o vampiresco (desculpe-me pelo termo) rock afiado de sempre, divertido, dançante, bêbado, alucinado e empolgante.
O show está na íntegra no YouTube (numa qualidade de imagem bem ruim, infelizmente, embora o som esteja bem ok) e o vídeo inclui um trecho curto da entrevista de Ivy e Interior (com closes um tanto NSFW) deram pra uma TV local. É imperdível: um show desses faz falta.
01. The Mad Daddy
02. Rock On The Moon
03. The Way I Walk (Jack Scott cover)
04. Hanky Panky (Tommy James cover)
05. Hang Up
06. Fissure Of Rolando
07. Papa Satan Sang Louie
08. Big Black Witchcraft Rock
09. It Thing Hard-On
10. Primitive (The Groupies cover)
11. Caveman
12. Let’s Get Fucked Up
13. Dames, Booze, Chains And Boots
14. TV Set
15. Psychotic Reaction (Count Five cover)
16. Wrong Way Ticket
17. Tear It Up (Johnny Burnette cover)