Nada demais com essa manchetona, porque não ligo muito pra isso. Mas chama atenção o tratamento dado ao fato, pela mídia especializada.
Semana passada, a Billboard anunciou com pompa e festa que o Arcade Fire havia chegado ao número 1 em álbuns (não em singles) na Inglaterra. Poderia ser mais um resultado bem sucedido de uma força-tarefa da Internet (campanhas no Twitter e Facebook), com os fãs tentando tirar do topo o novo “Recovery”, do Eminem, se não fosse algo mais bem pensado pela Mercury/Universal, gravadora/distribuidora da banda na Europa.
O curioso é que na semana em questão, o Arcade Fire vendeu 61 mil cópias de “The Suburbs”, seu terceiro disco, contra 66 mil do seu predecessor, “Neon Bible”, de 2007, que acabou apenas com a segunda colocação à época, numa comparação equivalente de lançamento. Vendeu menos, mas fez mais barulho.
Entretanto, não parou por aí. Nos Esteites, na semana seguinte (essa que corre agora), com 156 mil cópias vendidas, “The Subusbs” consegue também o primeiro lugar, com comemorações entusiasmadas da grande Merge, a gravadora do Arcade Fire no país.
Mais manchetes.
Eis o que se lê, então: “Este é o primeiro número 1 no EUA da banda. Seu último LP, ‘Neon Bible’, estreou em segundo lugar. O rock independente aparentemente anda bem popular agora!”.
É pra se exclamar mesmo a afirmação da Pitchfork. “Rock independente”, com essas gravadoras gigantes por trás? Não senhor, calma lá. Não é bem assim…
Nada demais em não ser mais independente, ou alternativo – porque o Arcade Fire não é mais alternativa a nada (ou a American Express não ia gastar uma bolada pra transmitir um show deles no Madison Square Garden, via Internet, derrubando barreiras de direitos autorais – além do mais ninguém que toca no Madison Square Garden pode ser aclamado como alternativo, pode?).
É uma vitória da boa música e nada mais. Melhor Arcade Fire do que… sei lá, do que qualquer coisa que costuma habitar o topo dessas paradas de vendas, de popularidade, produzidas e alimentadas por grandes lojas e grandes gravadoras. Não há nada de independente aqui.
O lance é que ser alternativo ou independente é uma marca, um selo que aproxima certo tipo de consumidor a esse ou aquele artista. É como essa camiseta resume bem:
E sua variante para “Ilike bands that don’t even exist yet”, sucesso no último Lollapalooza, encerrado no domingo passado.
Se a banda é desconhecida, beleza, é legal. Se ela começa a vender muito e gente demais compra suas camisetas, ela deixa de ser cool. É um processo que não é de hoje. A cultura indie é uma indústria – menor, mas ainda assim uma rentável indústria. Por isso, talvez, haja esse esforço dos blogues, sites e rádios alternativos para manter a aura de independente em alguns dos seus ícones, como o Arcade Fire.
A você, vale apenas o aconselho que sigo pra mim mesmo: tanto faz se vende ou não vende, se é primeiro, segundo ou último lugar na parada… Vale o gosto pessoal e pronto, certo? É óbvio – ou deveria ser – mas parece que não é.
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ATUALIZANDO (em 16 de agosto)…
E tudo voltou ao normal. O fôlego do Arcade Fire durou uma semana apenas. Eminem, com seu “Recovery”, volta a ser o número 1 em vendas na Inglaterra. A coisa ficou assim:
1º Eminem – Recovery
2º Arcade Fire – The Suburbs
3º Plan B – The Defamation Of Strickland Banks
4º Eliza Doolittle – Eliza Doolittle
5º Lady Gaga – The Fame
6º Michael Buble – Crazy Love
7º Tom Jones – Praise & Blame
8º Paolo Nutini – Sunny Side Up
9º Jason Derulo – Jason Derulo
10º The xx – xx
Nada demais, repito. A banda vai vender o mesmo tanto que sempre vendeu, um pouquinho mais, um pouquinho menos, não importa. “The Suburbs” vai continuar legal da mesma maneira.
Boa, Notorious.
Como deve ter reparado, dada minha constância nos “pitacos”, a quantidade de trabalho aqui na Schin, tá bem fraca essa semana. Hehehe….