BALACLAVA FEST 2018 – COMO FOI

Texto: Alexandre Lopes

A maior e mais festejada edição do Balaclava Fest aconteceu no domingo, dia 4 de novembro, em São Paulo. Quatro atrações gringas (Warpaint, Deerhunter, Mercury Rev e Julien Barbagallo) e quatro brasileiras (Metá Metá, Jaloo, Marrakesh e Moons) se dividiram em dois palcos da Audio Club, casa de shows localizada na região da Barra Funda. Sem muito compromisso com horários e todas as atrações, o Floga-se foi dar uma conferida no evento.

Por falta de planejamento pessoal (um combinado de “faxina atrasada” com “desventuras com transporte”), entrei na Audio Club enquanto o Mercury Rev já tocava seu último número, “The Dark Is Rising”, seguida por um barulhento crescendo após a apresentação de grande parte do disco “The Deserter’s Songs”. Aquele som atordoante me apontava uma impressão diferente que tive da banda há treze anos, quando os vi no Curitiba Rock Festival. Infelizmente, ao encontrar um local bom na pista pra assisti-los, o show terminou no mesmo momento.

Mas o final estrondoso do Mercury Rev não foi a única oportunidade de ouvir algo ensurdecedor naquela noite. Desde que subiu ao palco às 19:42h, iniciando com “Cover Me (Slowly)”, o Deerhunter me surpreendeu. Tendo como referência o pop experimental e psicodélico dos álbuns de estúdio do grupo, não estava preparado pro tamanho esporro sonoro causado pelos americanos em sua versão ao vivo. O volume estava deliciosamente alto, ao passo que até mesmo canções mais melódicas, como “Agoraphobia”, “Desire Lines” e “Helicopter” eram tomadas por guitarras inundadas de delays, distorções e demais efeitos. Vale muito a pena ficar surdo dessa maneira.

Liderados pelo inquieto vocalista e guitarrista Bradford Cox, o tímido guitarrista (e ocasional vocalista) Lockett Pundt, o baixista Josh McKay, o preciso baterista Moses Archuleta e o tecladista Javier Morales centraram o repertório nos álbuns “Halcyon Digest” (2010), “Fading Frontier” (2015) e “Microcastle” (2008). O Brasil também contou com o mais recente single “Death In Midsummer”, uma prévia do próximo disco “Why Hasn’t Everything Already Disappeared?”, previsto pra lançamento em janeiro de 2019 (saiba mais aqui). Depois de um “falso fim” com a hipnotizante “He Would Have Laughed”, a banda ainda voltou pra um inesperado bis: uma versão empolgante de “Nothing Ever Happened”, creditada ao ex-baixista Josh Fauver – cujo falecimento foi noticiado horas antes do show e motivou o cancelamento de todo o restante da turnê sul-americana. Ao final do set, Bradford Cox se despede do público, dizendo que a banda “esperava há muito tempo tocar no Brasil” e ainda tascou um singelo “I love you, Stella” pra a baterista da próxima atração.

Às 21:42h, o Warpaint subiu ao palco pra sua terceira passagem pelo Brasil. Após as explosões guitarrísticas de Cox e cia, o som do quarteto feminino pareceu quase “magro demais”; as sutis camadas de delay e chorus e linhas minimalistas de seus instrumentos não casaram com uma equalização sofrível da casa (que neste momento só poderia se chamar “Audio Club” por pura ironia). Mas se o grupo não contava com uma massa sonora ao seu favor, o Warpaint tinha uma boa carta na manga: o carisma.

Sendo a banda de encerramento e concentrando a maior parte do público durante sua apresentação, o Warpaint já estaria com o jogo ganho. Mas além de fazer sua parte impecavelmente como guitarrista e vocalista, Theresa “TT” Wayman foi o elo com a plateia durante a maior parte do show, distribuindo sorrisos e provocações – tudo isso enquanto superava alguns contratempos com seus pedais de efeito. Em determinado momento, Theresa comentou que o público estava “cheirando bem”, em uma clara referência à maresia que passou a emanar no local. “É marijuana”, entregou a vocalista Emily Kokal, que se mantinha mais introspectiva e focada até então.

No setlist, a banda apresentou canções de todos os discos, priorizando o álbum homônimo lançado em 2014, além de “Exquisite Corpse” (2008) e “Heads Up” (2016). Entre os pontos altos, “Elephants” e “Billie Holiday” brilharam (esta última com direito a coro marcante da plateia feminina).

Perto do final, uma camiseta branca com a inscrição “Ele Não” foi arremessada ao palco. Theresa pega a peça de roupa e mostra à plateia, que não hesita a começar o coro de “Ele não”. A baixista Jenny Lee e a baterista Stella Mozgawa então misturam a manifestação ao ritmo de “We Will Rock You”, do Queen. Visivelmente confusa, Theresa pergunta no microfone “mas quem é ‘ele’?”. Após ouvir o público colado ao palco, as duas vocalistas entendem que se tratam de palavras contra um certo Coiso. As gritos de “fascista”, Emily responde “nós também temos o mesmo problema” – referindo-se ao fascista deles, Donald Trump. Theresa chega a puxar um novo coro de “Fuck Trump”, ao passo que Emily prefere confortar o público com um outro tipo de mensagem mais apaziguadora: “Não se preocupem,vocês ficarão bem. Apenas cuidem uns dos outros”.

A banda então emenda um momento de catarse com a pop “New Song”, revelando-se a preferida do público geral, e “Disco//Very” – com direito a um momento exibicionista de Emily, que enfim se soltava cada vez mais, chegando a puxar sua camiseta pra cima. O Warpaint deixou o palco ovacionado, mas não retornou pra um bis. E nem precisava.

Setlist Mercury Rev
01. Holes
02. Tonite It Shows
03. Endlessly
04. Opus 40
05. Hudson Line
06. Goddess On A Hiway
07. The Funny Bird
08. Pick Up If You’re There
09. Delta Sun Bottleneck Stomp
10. The Dark Is Rising

Setlist Deerhunter
01. Cover Me (Slowly)
02. Agoraphobia
03. Revival
04. Breaker
05. Desire Lines
06. Death In Midsummer
07. Take Care
08. Snakeskin
09. Helicopter
10. He Would Have Laughed
BIS
11. Nothing Ever Happened

Setlist Warpaint
01. Warpaint
02. Elephants
03. Bees
04. The Stall
05. Love Is To Die
06. Intro
07. Keep It Healthy
08. Beetles
09. Drive
10. Krimson
11. So Good
12. Billie Holiday
13. Above Control
14. New Song
15. Disco//Very

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. Olha, eu só prefiro nao ficar surdo, se tiver a opcao… do meio da pista, achei que o deerhunter, pra mim a melhor banda gringa da atualidade, exagerou demais no volume e nas barulheiras de guita. Nao vejo tanto sentido em uma versao de 15 min da he would have laughed onde nao se entendia muito bem as nuances com todos o excesso de médio agudo nos tímpanos, embolados nos reverbs… acho que o audio pecou aí, e nao no warpaint… pelo menos da minha posiçao…
    Agora, a noticia da morte do ex-baixista certamente os influenciou de alguma maneira, a coisa ficou mais dark….

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