BARTOLO E MARCOS CAMPELLO – VENDO

“Vendo” é uma união bem-sucedida entre Bartolo, Marcos Campello, violões, guitarras, baixos e inspiração, dedos, suor e muita inspiração. Nas quatro faixas apresentadas, a dupla coloca o ouvinte à espreita: algo pode acontecer a qualquer momento, sensação que, de fato, se concretiza.

O disco de pouco mais de vinte e cinco minutos traz ilusões de canções, experimentos em cordas que atraem o ouvinte pela evolução dos temas. Ora dedilhados, ora expressivos, ora explosivos, as notas e cordas atuam como faíscas pra acender um fogareiro como por aleatoriedade, na base do “vamos ver no que vai dar”, e invariavelmente conseguem seu intento, entrando em combustão. Não há uma passagem que não se valide, impressionando – embora basicamente pela contemplação de quem admira dois habilidosos em uma habilidade que não possuímos.

Mas longe de atuar como macaco de circo – tem muito guitarrista por aí mais preocupado em demonstrar velocidade e técnica do que em criar e emocionar – Bartolo e Marcos Campello têm uma característica abrasileirada bem saborosa, que supera a desconstrução e o experimentalismo da distância pop empregada. O exercício de imaginação do ouvinte pode levar a sobrevoar cânticos e sonoridades já experimentadas em distante recantos do país, sem uma etiqueta supermercadista de identificação.

A apresentação oficial dá conta que este é “um disco de cordas em improviso, que inicia acústico e vai caminhando para a amplificação. Os instrumentos variam de faixa a faixa, e consequentemente os timbres e as estratégias de composição instantânea se modificam, mas parece que no contato dos dedos com as cordas um certo espírito se mantém, evitando ou dosando a sustentação da nota, criando arquipélagos de sons microscópicos que variam infinitamente o ritmo e o ataque (…). Um senso lúdico sobressai o tempo todo na audição, porque cada contato entre dedo e corda parece inaugural, cheio de uma sabedoria de anos de prática mas ao mesmo tempo livre de todas as formas normativas de tanger o instrumento”.

O “vendo” em questão dá conta de uma transação comercial, mas pode ser do verbo ver, de admirar, contemplar, de imaginar, de rememorar.

“Vendo” foi lançado em 18 de janeiro de 2019, pelo selo Sê-lo!. A produção e mixagem é da dupla, que gravou a obra no Casinha Studio na primeira metade de 2018, com masterização de Martin Scian.

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