BEACH FOSSILS NO SESC BELENZINHO – COMO FOI

O Beach Fossils ensinou uma boa lição nesse sábado, 28 de setembro de 2013: nem sempre a imprensa gringa está errada quando dá destaque ao que costumamos, cá em terras tropicais, chamar de “bandecas”, aquelas que se desconfia tal o exagero com que são elogiosamente tratadas. É o mal do hype: sempre é bom desconfiar.

O problema é que esse quarteto do Brooklyn, Nova Iorque, é bem melhor ao vivo do que em disco, destruindo qualquer desconfiança que se pudesse ter tanto pela abordagem crítica da imprensa internacional, como pela sonoridade pálida dos dois discos – e tantos EPs e singles – lançados.

Sim, há por onde. O Beach Fossils é uma boa banda ao vivo, bem mais encorpada do em disco. O som cristalino dos dois álbuns, “Beach Fossils”, de 2010, e “Clash The Truth”, de 2013, somem sem cerimônia em cima do palco. Há sujeira, acima das poucas distorções do estúdio.

Faz sentido. Se o Beach Fossils é um veículo pra Dustin Payseur mostrar sua arte e poesia em estúdio, ao vivo ele precisa de uma banda, ele precisa de apoio, e, mais do que isso, precisa de gente que acoberte seus erros, principalmente a sua impossibilidade de cantar. Dá certo.




Alie a isso uma boa dose de ousadia, diversão e relaxamento e a plateia se depara com algo mais do que “hype”. Payseur se cercou de bons comparsas pra crescer o seu som no altar do palco. A começar pelo guitarrista Tommy Davidson, um cabeludo com cara de office boy: ele sustenta as loucuras do chefe, segurando a onda nas melodias e vibrando nos ruídos. Mas principalmente pela dupla da cozinha: o baterista Tommy Gardner sempre tenta uma batida diferente, um improviso; e o baixista com cara de criança de fraldas Jack Doyle Smith não se priva de distorcer seu instrumento e levá-lo à boca dos amplificadores – os quatro se divertem, mas parecem levar bem a sério esse troço de fazer barulho.

Foi assim no começo da apresentação, na introdução, antes de “Calyer”, seguida de “What A Pleasure” (ambas do EP “What A Pleasure”). Foi assim na insanidade de “Clash The Truth”, mas principalmente na extasiante e vibrante “Twelve Roses”, que encerrou a apresentação com tal onde de ruídos que ninguém saiu dali achando que era a mesma banda que ouvia em disco.

Veja “Calyer”:

Veja “What A Pleasure”:

No miolo, músicas pop, mas não tão pop assim – nenhum delas tem um refrão identificável e pegajoso – e gracinhas de quem tem seus vinte e poucos anos. Davidson e Payseur, a todo momento, diziam que queriam farrear, chamando os fãs. São jovens e querem esbórnia. A música os trouxe até aqui, que mal tem em aproveitar?

Além disso, Payseur dedicava as músicas a quase todo mundo e todo sentimento que conhecia (inclusive a um amigo que morre-mas-não-morreu). Era o retrato de uma banda estupefata com o alcance que conseguiram, cujo gestual e discurso trêmulo parecia quer dizer algo como “uau, estávamos na Nova Zelândia semana passada e agora estamos no Brasil!”. Um espanto de quem se deu conta do alcance do seu trabalho.

Nos 65 minutos do show, a audiência que lotou a comedoria do SESC Belenzinho, formada pelos tipinhos estranhos de sempre, pouco se importou com a cara de calouros dos ídolos e dançou com “Daydrem”, “Youth” e “Vacation”, todas do primeiro disco; além das do novo trabalho, a base do show, “Generational Synthetic”, “Taking Off”, “Birthday” e a dupla “Careless” (com um noise de quase três minutos) e “Clash The Truth”. Nessa última, Payseur desceu à platéia e cantou no meio dos seus – são todos jovens, da mesma idade, o que dá todo sentido a essa entrega.

Veja “Careless” e “Clash The Truth”:

Mas o que diferencia o Beach Fossils daqueles jovens da plateia, onde muitos devem ter uma banda ou desejar ter uma, e faz a quarteto merecer os elogios daquela ou dessa imprensa, é a noção de que a arte não pode jamais se fechar à ousadia.

Quando o bis chegou, o grupo encerrou o show com “Twelve Roses”, apresentando um discurso insano e inflado de Payseur em meio a cinco minutos de noise altíssimo.

Veja “Twelve Roses”:

Você pode até achar o Beach Fossils um grupo menor do que a imprensa estrangeira nos vendeu. Mas o que se viu aqui foi algo maior. É fácil de entender: em cima do palco, fazem a diferença aqueles que conseguem se transformar.

01. Calyer
02. What A Plasure
03. Daydream
04. Shallow
05. Generational Synthetic
06. Taking Off
07. Youth
08. The Horse
09. Careless
10. Clash The Truth
11. Burn You Down
12. Birthday
13. Vacation

BIS
14. Crashed Out
15. Twelve Roses

Veja “Daydream”:

Veja “Youth”:

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Comentários

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3 comentários

  1. Simplesmente maravilhoso! Faz tempo que tô querendo ver um live deles, infelizmente acabei perdendo essa passagem deles em setembro, mas por um acaso vocês sabem quando esses carinhas voltam?! Beach Fossils é uma das minhas bandas favoritas, fiquei mais ansiosa ainda de vê-los depois do comentário sobre a performance de palco e a aparelhagem deles ao vivo. Tragam eles de volta, PLEASE! 😀

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