“Hádron, na física de partículas, é uma partícula composta, formada por um estado ligado de quarks. Os hádrons, que incluem os bárions e os mésons, mantêm sua coesão interna devido à interação forte”. Apesar de copiado a definição diretamente da Internet, continuo sem saber do que se trata os hádrons, essas partículas elementares.
Bella nos oferece uma aula mais prática: “(hadron) é composto por uma junção de partículas subatômicas, com tal força, que se assemelha à eletromagnética. Partícula não é matéria. O que seria natural? Corte. Todo som pode ser cortado. Fake news. Ambições imperialistas. 15khz. As máquinas satisfazem nossos corpos”.
Como no corte-seco mais brilhante da história do cinema, o osso que vira nave espacial em “2001 – Uma Odisseia No Espaço”, Bella pula das partículas (que nem matéria são) pra muitos dos problemas enfrentados por nós nos ignóbeis dias atuais. Tudo o que está no meio é história, não é preciso repeti-la. O ambiente se deteriora numa corrente de acontecimentos. Tudo está interligado. Teoria do caos? Não, fatos.
“500 milhões de abelhas morreram em 3 meses no Brasil e o futuro dos alimentos pode ser questionado. Chocante é o apoio à tortura de quem furta chocolate. Pesquisadora baiana encontra substituto de agrotóxico em folhas de eucalipto. Incêndios se alastram pelas matas do Norte e Centro-Oeste e já podem ser sentidos até no céu de São Paulo. Em 7 anos, Brasil triplica o número de agricultores orgânicos cadastrados. Aqui não tem carne. 80 tiros. Mais grave que pedaladas fiscais. Milícias se unem e viram ‘força quase única’. O seu celular pode estar matando abelhas. Estudantes de preto nas ruas no 7 de setembro. No Brasil da “democracia racial”, cachorro morto em supermercado gera mais comoção do que jovem chicoteado. O amargo regresso. Fumaça da África chega ao Nordeste e eleva poluição do ar a nível crítico. Intoxicação por agrotóxicos aumenta com liberação de produtos pelo governo. Com nova reforma trabalhista, o presidente quer anular atuação sindical. As cores da bandeira servem para mostrar que a ‘Amazônia é nossa’. Ecossocialismo: a ideologia que se disfarça de verde para destruir o capitalismo. A quarta revolução industrial e o futuro da indústria de alimentos. ‘Sol artificial’: como a fusão nuclear poderá impactar o futuro energético?”.
A arte de Bella, de interação forte com a realidade e com os sentidos mais profundos, em “Hadron”, é até bem acessível e reconfortante. Seus temas não exigem muito do ouvinte. Sua música torta é mais aconchegante do que provocativa. Entretanto, isso não quer dizer que o ouvinte vá encontrar só “facilidades”. “Diamagnetismo”, por exemplo, são sons sobrepostos, intercalados, de um universo minúsculo e desconhecido – todo novo som é uma porta aberta ao desconhecido -; só que Bella dispõe de um ferramental que faz com que tal desconhecido seja apresentado de uma forma amigável o suficiente pra não ser um assombro. “Super Strings” é o mais perto que ela vai te aproximar de algum incômodo (assim como os zumbidos de “Sting”).
“Hadron” é (mais) uma obra simbólica pros dias de hoje (ainda bem). Ao mesmo tempo que temos conhecimento e tecnologia, muita gente nega os avanços e a lógica pra ficar abraçado à ignorância.
“Hadron” é um lançamento do sempre atento selo QTV, do Rio de Janeiro, e Pan Y Rosas, dos Esteites, em 13 de setembro de 2019. Bella informa que esse álbum “é fruto de gravações de variados lugares nos quais circulei ao longo do primeiro semestre de 2019: Silo — Arte e Latitude Rural, na Serrinha do Alambari; Binaural/Nodar, em Portugal; Sala Vazia, em Fortaleza. Floresta, Cigarras, Rádios, Walkman, Celulares, Geladeira, Computadores, Luzes, Moscas, Aranhas, Ovelhas, Partículas Inaudíveis”.
A mixagem é dela e a masterização, de Paulo Dantas.
1. Bug Bites
2. Diamagnetismo
3. Nhii
4. Preenchimento Transitório
5. Super Strings
6. High Fi
7. Ubership
8. Prei-Prei
9. Sting