O Bemônio lança seu oitavo disco, “Desgosto”. Saiu em 1º de setembro de 2015, via o já essencial selo QTV, do Rio de Janeiro.
Desde que virou uma “banda”, com Eduardo Manso e Gustavo Matos, o Bemônio passou a explorar ainda mais possibilidades de insanidade, como demonstram “Lágrimas De Sangue E Fezes” (de 2014) e “Lodo” (também de 2014).
Bem como aqueles (e como o excepcional “Santo”, de 2013) “Desgosto” é um disco “conceitual”.
Apesar dos títulos das músicas indicarem algo canibalesco, a receita pode se referir a qualquer iguaria servida em mesas fartas, ressaltando a crueldade como processamos nossos alimentos.
A forma como o trio vai destrinchando as etapas dessa receita é dramática, cinematográfica quase. Dá pra ver enormes matadouros e aventais sujos de sangue, enquanto na outra ponta, uma família aguarda sorridente o almoço, na mesa, brindando, contando histórias cotidianas. A música industrial de discos anteriores mais densos foi colocada de lado, em preferência a várias peças que ambientam um drama completo. É uma trilha sonora.
“Desgosto”, porém, apenar da não-agressividade direta, é mais um avanço do Bemônio. Talvez porque o grupo de Paulo Caetano vai se ampliando. Aqui, o auxílio de muitas participações – Ava Rocha, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Thiago França (todos em “Esfregar O Limão Por Dentro E Por Fora”), Arthur Lacerda etc. – intensifica o poderio de sua música.
“Deixar De Molho”, uma cama de noise de guitarra e afins, com uma batida tribal lenta, é literalmente a tensão da espera. “Temperar Com Sal, Pimenta-do-Reino, Alho, Cebola, Cheiro Verde, Louro E Hortela?” tem uma aura “mágica”, que é o que acontece quando mudamos o sabor do alimento com o tempero; dois exemplos pra se ter uma ideia de como o Bemônio passou a dominar melhor seus “conceituais”.
E, por aí, preste atenção nos títulos das faixas e ouça a música: perceba-se no ato que cada título propõe. Acrescente uma câmera lenta se quiser. Perfeito.
Ouça, lambendo os beiços – ou revirando o estômago:
O disco foi produzido por Paulo Caetano e Eduardo Manso (que também mixou e masterizou). A arte é de Caetano.
01. Limpar As Vísceras
02. Esfregar O Limão Por Dentro E Por Fora
03. Deixar De Molho
04. Picar Em Tirinhas As Tripas E Demais Vi?sceras
05. Temperar Com Sal, Pimenta-do-Reino, Alho, Cebola, Cheiro Verde, Louro E Hortela?
06. Aquecer O Azeite E Adicionar O Toucinho
07. Juntar O Sangue Coagulado
08. Retirar O Bucho Do Molho De Lima?o
09. Costurar Com Agulha E Linha
10. Cozinhar Em Fogo Brando Durante 4 Horas
