BLOOD RED SHOES E GANG OF FOUR NO PARQUE DA INDEPENDÊNCIA – COMO FOI

Um domingo perfeito. Música ao vivo de qualidade, sol (e frio), um ponto turístico histórico importante da cidade de São Paulo (do Brasil), um passeio no parque, uma grama pra namorar, relaxar, bater papo com os amigos. De graça. Não era preciso pedir mais (ok, talvez uma cervejinha, mas já tava de bom tamanho).

O 15º Cultura Inglesa Festival, na sua perna “Música no Parque”, foi extremamente feliz ao trazer a dupla fofa-porrada Blood Red Shoes, os mauricinhos do Miles Kane e o geniais Gang Of Four (tão importantes pra história do rock quanto o solo em que pisavam é pra história do Brasil).

O público não poderia reclamar, embora, infelizmente, não houve lotação, como era de se imaginar – a concorrência de eventos na cidade, nesse dia 29 de maio, era impressionante.

Pontualmente, como a tal “pontualidade britânica” presumia, às 15:30h, Laura-Mary Carter (nos vocais e na guitarra) e o dublê-de-Michael-Cera Steven Ansell (nos vocais e na destruição de bateria) subiram ao imponente palco, com sol às vezes batendo de frente, e fizeram um show agradável, pra quem quisesse pular, com seu proto-punk sub-White Stripes.

Foi um show bastante ok e esforçado, mas não muito mais do que isso. Das 14 músicas apresentadas, oito são do segundo e mais recente disco, “Fire Like This”, de 2010. Mas a resposta do público mais fiel foi boa. A “turma do gargarejo”, formada por adolescentes pré-faculdade, cantou junto, levantou os braços, gritou os “we love you” de praxe e empolgou a dupla.

Ansell chegou a pedir uma certa desobediência civil da turma: que ela pulasse a grade e invadisse a pequena área vip pra tocar o terror. Ninguém se deu ao trabalho, mas o baterista ganhou os aplausos que desejava. Deveria ter sido atendido, afinal, como sempre se diz neste blogue, um pouco de rebeldia não faria mal nenhum a essa juventude de hoje.

De qualquer forma, de “Keeping It Close”, que abriu o show, até a boa “Colours Fade”, o clima família que se formou no Parque da Independência foi mantido, sem tumulto, sem violência, sem uma nota policial digna de gastar tinta (que eu saiba, apenas um maluco, durante o show do Gang Of Four, invadiu a área vip, e deu trabalho pra ser contido pela segurança).

“Heartsink”, “This Is Not For You” e “Light It Up” foram as que causaram mais boa impressão naquela plateia que pouco conhecia o Blood Red Shoes e estava lá bem dividida, entre os indies de butique que queriam o Miles Kane e os saudosistas que queriam rever o Gang Of Four.

A dupla foi profissional e, acredite, nos bastidores, foi bastante acolhedora e receptiva.

O setlist foi esse:

01. Keeping It Close
02. It’s Getting Boring By The Sea
03. Heartsink
04. Say Something, Say Anything
05. Count Me Out
06. It Is Happening Again
07. This Is Not For You
08. One More Empty Chair
09. Doesn’t Matter Much
10. Light It Up
11. I Wish I Was Someone Better
12. You Bring Me Down
13. Don’t Ask
14. Colours Fade

Veja aqui um vídeo de “Keeping It Close”:

A atração mais esperada da noite, o Gang Of Four, já entrou à noite, às 18:30h, conforme combinado. Durante toda a tarde, Andy Gill e Jon King e deram entrevistas nos bastidores, tomaram vinho branco, descansaram no camarim, como se estivessem guardando e acumulando energia, porque quando subiram ao palco, foi uma explosão.

O Gang Of Four não envelhece, embora o mais recente disco, “Content”, não seja digno de suas melhores criações. A plateia, bem maior do que aquela que viu o Blood Red Shoes, estava esperando um show enérgico. Não recebeu exatamente isso, mas ficou bem perto.

Ainda que os grandes clássicos todos estivessem lá, como “Ether”, “Paralysed”, “Anthrax”, “Why Theory”,”I Love A Man In Uniform” e, claro, “At Home He’s A Tourist” e “Damaged Goods”, e apenas quatro músicas do novo disco se fizessem presentes, é notório que a banda acaba se divertindo mais do que a audiência.

Os quatro, principalmente Jon King, ficam tomados por alguma entidade insana sobrenatural e sobra pra quaisquer objetos que inadvertidamente se coloquem no palco, à frente deles. Guitarras (como indica a foto abaixo), microfones, pedestais e até um inusitado microondas foram destroçados durante a apresentação. Êxtase.

A banda entre numa catarse que faz os integrantes se perderem num tempo e espaço próprios. Um transe. Ao final da primeira parte do show, os quatro saíram e se deram conta que ainda tinham meia hora pra tocar. “Vamos voltar, ainda temos meia hora de palco”, disse um frenético Gill, esbanjando euforia.

A plateia estava (pelo menos perto da grade) numa hipnose de satisfação. Até a dupla o Blood Red Shoes estava na audiência, embasbacada. E essa volta “de meia hora” se fez com a dupla “At Home He’s A Tourist” e “Damaged Goods”, clássicos absolutos, que merecem ser reverenciados por todos, dos mais velhos (e babões) à puberdade pseudo-intelectualizada de porta de faculdade, passando pelos simples e inclassificáveis adoradores da boa música.

O coro de “oh-oh-oh-ôôô”, que ecoou mesmo após o fim dos trabalhos dos instrumentos, deixou claro: o Gang Of Four é pra todos.

Foi um domingo perfeito. Inesquecível.

01. You’ll Never Pay For The Farm
02. Not Great Men
03. Ether
04. I Parade Myself
05. Paralysed
06. A Fruitfly In The Beehive
07. Anthrax
08. It Was Never Gonna Turn Out Too Good
09. What We All Want
10. Why Theory?
11. Return The Gift
12. At Home He’s A Tourist
13. To Hell With Poverty
14. Do As I Say

BIS
15. I Love a Man In Uniform
16. Natural’s Not In It
17. He’d Send In The Army
18. Damaged Goods

Vídeo de “What We All Want”:

Veja o vídeo de bastidores da matadora “Damaged Goods”. O coro no final é acachapante:

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Comentários

comentários

5 comentários

  1. Zuado esse Gang of Four. só pq os caras tem uma histórinha cult na cena inglesa, podem fazer um show ruinzaço e mau tocado desses? Os outros shows foram legais

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