Sempre admirei o Hüsker Dü, mas não sou um grande fã, daqueles de carteirinha. Sou dos que gostam basicamente dos dois duplos, o clássico “Zen Arcade”, de 1984; e o derradeiro “Warehouse: Songs And Stories”, de 1987. Ou seja, o básico do básico.
Com relação ao Sugar, nem isso. Ouço o “Copper Blue”, de 1992, com um misto de preguiça e leve entusiamo. Era assim à época. Hoje melhorou um pouco.
Mas essa distância pra com as bandas de Bob Mould poderia ser menor. Eu poderia ter uma relação mais próxima e amigável com tais grupos, caso eles tivessem vindo ao Brasil nesses auges, caso eu tivesse visto antes o que vi no SESC Pompeia, na sexta-feira, dia 4 de outubro.
Uma hora e meia de Bob Mould (com o baixista Jason Narducy e o baterista – também do Superchunk – Jon Wurster) é o suficiente pra entender a importância do que está vendo e ouvindo: trio de força básico, músicas pulsantes e diretas, rock simples, o embrião de um bocado de indies e afins. Ali está a raiz.
A atual turnê solo, promovendo o mais recente disco, “Silver Age”, de 2012, não tem só “Silver Age”, não nas praças onde Mould pouco vai ou nunca foi. O começo são as cinco primeiras músicas de “Copper Blue”, e na ordem, incluindo a brilhante “Helpless”. Se eu tivesse visto esse show antes, à época do lançamento, talvez compreendesse melhor o disco e o colocaria entre os meus favoritos. Talvez.
Ao vivo, ele é tão mais forte (não “mais pesado”), cortante, empolgante, vibrante, que se vende sozinho. Mas estranhamente causa um efeito destruidor na seqüência a seguir, com faixas do bom “Silver Age”, que aqui, na comparação, parece fraco, pálido. Nem “The Descent” segura a totalidade da plateia.
A boa lotação da choperia do SESC Pompeia, porém, estava esperando a terceira parte do show, aquela só com músicas do Hüesker Dü. Quando ela vem, após “Your Favorite Thing”, do segundo disco do Sugar, “File Under: Easy Listening”, de 1994, Bob Mould e seus asseclas desfilam nove canções do Hüsker Dü. Nove, sendo as duas primeiras as especialíssimas “Hardly Getting Over It” e o hit “Could You Be The One?”, que fez a audiência cantar junto.
A partir daí, a festa foi geral, com os mais empolgados dando seus moshes, gente pulando, braços e mãos pra cima, olhos fechados e voz a plenos pulmões. O Hüsker Dü é a banda. Aquelas músicas são as músicas, mesmo trinta anos depois.
Sem muito lero-lero (tirando uma bem dada bronca naqueles que insistem em ver shows pela telinha da câmera ou do celular), Bob Mould foi apresentando sua história, resgatando a memória dos quarentões e apresentando aos mais jovens o embrião de boa parte da música jovem – ele mesmo um jovem elétrico e explosivo de quase 53 anos (completa em 16 de outubro).
Dizem que o show de sábado foi ainda melhor (após o setlist abaixo, você pode ver a apresentação de ambos os dias na íntegra). Pra mim foi o suficiente pra resgatar e, mais do que isso, inflar meu respeito pelo Hüsker Dü, ganhando de quebra um outro olhar pro Sugar e pra carreira solo desse grande personagem.
01. The Act We Act (Sugar)
02. A Good Idea (Sugar)
03. Changes (Sugar)
04. Helpless (Sugar)
05. Hoover Dam (Sugar)
06. Star Machine
07. The Descent
08. Round The City Square
09. Steam Of Hercules
10. Come Around (Sugar)
11. Your Favorite Thing (Sugar)
12. Hardly Getting Over It (Hüsker Dü)
13. Could You Be The One? (Hüsker Dü)
14. I Apologize (Hüsker Dü)
15. Celebrated Summer (Hüsker Dü)
16. Chartered Trips (Hüsker Dü)
17. Keep Believing
BIS 1
18. If I Can’t Change Your Mind (Sugar)
19. Something I Learned Today (Hüsker Dü)
BIS 2
20. Hate Paper Doll (Hüsker Dü)
21. Flip Your Wig (Hüsker Dü)
22. Makes No Sense At All (Hüsker Dü)
Veja na íntegra o show de sexta-feira, dia 4 de outubro de 2013:
Veja na íntegra a apresentação de sábado, dia 5 de outubro de 2013:
Ambos os vídeos de alcoholocrust
Belíssima análise, embora eu ache que essa banda que acompanha hoje o Bob Mould seja bem superior ao baixista e ao baterista do Sugar. Muito da força das músicas ao vivo tem a ver com isso e com a própria maturidade do Mould. Fico imaginando se, por exemplo, o Sugar tivesse tocado no Brasil em 1993. Acho que hoje estaria o evento no máximo na memória afetiva de uma dúzia de quarentões. Os shows desse fim de semana, mesmo com o atraso histórico (ou talvez por causa dele), coloca a parada num plano além desse, não sei se você concordaria com isso.
E só uma correção: Jon Wurster é o baterista e Jason Narducy é o baixista.
Valeu prla correção, Luis. Alteração feita.