Na longa caminhada de Diego Dias, o Bramir é um entreposto significativo. O músico gaúcho se embrenha pelos rumos eletrônicos de sua criatividade pra montar álbuns reflexivos e perceptivos. O seu entorno está inserido em suas obras, basta recuperar algumas delas, como “De Osso” (ouça aqui), “Noturno” (ouça aqui) e a mais radical das suas aventuras, “Medro” (vá aqui).
O mantra segue ativo: “Excesso. Processos massificados (…) Bramir repete, retoma, estende… até surgir uma voz que busca quietude”. Entretanto, Dias não se repete. “Cidade Estilhaço” é relativamente simples e econômico. Tem ruídos, essencialmente na faixa de abertura, “Talheres”, onde o observador degusta com os ouvidos a comilança alheia; e tem o arrastar da cidade em expansivo movimento em “Acesso” e “Procissão”.
Não, ruídos não são escape pro artista nem barreira pro ouvinte. Os ruídos de Dias em “Cidade Estilhaço” são o cotidiano e é bem provável que o ouvinte se sinta acolhido, como apreciando o silêncio dentro de casa interrompido pelos sons que entram pela janela aberta. São estilhaços de som de uma cidade, qualquer cidade, despedaçada (porque despedaçada está a sociedade – ou, menos pessimista, porque a cidade é um organismo que não se importa com o resto).
É capaz do ouvinte encontrar conforto nesse disco, pois são sons reconhecíveis, amigáveis, corriqueiros. Não são ruídos subversivos ou revolucionários e incômodos. “Cidade Estilhaço” é a gravação de um dia comum.
O disco foi lançado dia 9 de julho de 2018, via Proposito Recs. As peças são gravações de campo modificadas por Diego Dias, com produção dele mesmo.
1. Talheres
2. Acesso
3. Procissão