Andrew toca bateria. Jordan toca baixo. Matt toca guitarra e atende os vocais de apoio. E John toca guitarra e canta. Nenhum deles, como se vê, se chama BRENDA, mas Brenda é o nome desse barulhento e empolgante quarteto criado em 2015, em Toronto, Canadá.
“O nome da banda meio que começou com uma brincadeira que pegou”, disse John em uma entrevista. “Estávamos dizendo vários nomes próprios e de repente alguém disse ‘Brenda’, e ficou”. Simples assim.
Mas Brenda não tem nada de “brincadeira” no sentido sonoro. Não é bolinho, não é fácil. É barulhento e, por vezes, incômodo. O primeiro EP, “Creeper”, lançado em 17 de novembro de 2017, tem cinco músicas que parecem tocadas num quartinho minúsculo enquanto o vocal, que soa feminino, parece vir do fim da rua, o mais longe possível.
É um pós-punk oitentista e garageiro. Os quatro integrantes são brancos bem-nascidos e têm aparência emo (desculpe-me pelo estereótipo), mas estão longe de querer agradar audiências com facilidades, embora tenham lá duas baladas, “A Tumble Through” e “The Watcher”, essa última com um vocal ainda mais cadavérico.
“Children”, a faixa que abre o EP e que ganhou até um clipe (veja abaixo), resume bem a preferência dos integrantes (“é a nossa preferida do disco”). “A gente costumava usar um (pedal) Roland Space em todo o disco, abusando do eco nas guitarras e nos vocais. Daí, então, vamos pro Fuzz War nas duas guitarras ao vivo, pra fazer mais barulho, mas pra essa música a gente teve que deixar a coisa menos doida. O Fuzz War soa incrível ao vivo, mas é meio um saco pra gravar”.
Mesmo assim, “Children” resulta de um delicioso equilíbrio de barulho e leveza, com o mesmo vocal infantil-cadavérico.
Na sequência, o ouvinte é bombardeado por “Beard Of Bees”, que é um título bem apropriado pro zumbido guitarrístico que a banda entrega aqui. Pode parecer maluquice, mas sempre que ouço o início dessa canção, vem à mente “Casas Modernas”, do Camisa De Vênus (ouça aqui).
“Beard Of Bees” “é a música mais rápida no EP e, provavelmente, de todas as nossas músicas. Alguns sons interessantes combinam o eco espacial (…) e parece bastante sinistro”, diz a banda numa descrição faixa-a-faixa especial pro PureGrainAudio.
“‘Idiot Brother’ é uma das primeiras músicas que a gente escreveu. A gente costuma dobrar os vocais em todas as canções, mas aqui o vocal soou perfeito. Do jeito que ele é arranjado, soa um tanto sinistro e assombroso aqui, quando sobreposto”. Já instrumental “A Tumble Through” é um descanso pros ouvidos, sem perder o clima, digamos, misterioso.
Por fim, “The Watcher”, com os gritos setentistas de John e uma vigorosa montanha-russa de altos e baixos de velocidade e distúrbios sonoros, fecha esse que é um grande EP de estreia.
Se ao vivo é ainda melhor, como atestam algumas resenhas e a própria banda, é de se espantar ainda mais. Brenda não está pra brincadeira.
A mixagem e produção ficou a cargo de Dylan Frankland, com masterização de João Carvalho.
1. Children
2. Beard Of Bees
3. Idiot Brother
4. A Tumble Through
5. The Watcher