Sou altamente suspeito pra falar de uma banda como a Cadáver Em Transe, de São Paulo. Não, não tenho nenhuma ligação de amizade ou parentesco ou profissional com o quarteto formado por Alan Crisogano (bateria), Carla Boregas (baixo), Felipe Pato (guitarra) e Murilo Pommer (vocal). É uma ligação afetiva com a sonoridade.
Apesar do nome artístico do grupo, que sugere algo punk rasteiro e ao pé da letra, o som do Cadáver Em Transe é literalmente pós-punk oitentista, daquele subterrâneo que se fazia na capital paulista e – vai, pode-se dizer, no Rio e em Brasília – nos meandros da década de 1980.
Causa-me certa euforia perceber que essa subdivisão do BRock (desculpe-me pelo termo) finalmente consegue uma releitura modernizada (junto com outro expoente dessas intenções, a banda Rakta). Aquele pessoal, de Vzyadoq Moe a Smack, passando por Voluntários Da Pátria e Cólera (sim! – por que não?), precisava de uma atenção das novas gerações.
Nesse sete polegadas, com quatro músicas, é um tanto o que se ouve. “Camaleão”, já conhecida, e com suas guitarras rasgantes e o clima macabro; “Nós, Os Bastardos”, com vocais distantes e gritados; “Vírus Tropical 15”, um pós-punk industrial apocalíptico; e a realmente punk “Pulsão De Morte”; todas remetem a uma época que exalava uma sonoridade que não era só festiva, praiana, mas era também noturna, soturna, asfáltica, caótica.
Esse disquinho, lançado pelo selo gringo Iron Lung Records, em 4 de setembro de 2015, presta a esse papel. Não é reverencial, é autêntico. Pouco menos de onze minutos de uma vitalidade que supera o saudosismo simplório – e mesmo que fosse só saudosismo, afinal, por que não?
Ouça:
O trabalho foi gravado e mixado por Bernardo Pacheco (Elma). A capa é de autoria do vocalista Murilo Pommer.
No Brasil, o disquinho sai com tiragem de cem cópias, pela sempre presentes Dama da Noite Discos e Nada Nada Discos.
1. Camaleão
2. Nós, Os Bastardos
3. Vírus Tropical 15
4. Pulsão De Morte
Foto tirada do Facebook da banda (sem crédito informado)