CÁSSIO FIGUEIREDO E INUTIARGU

Ele tem dezessete anos, é de Volta Redonda, está no primeiro ano da faculdade de Filosofia (na Federal Fluminense), morando em Niterói, e está nessa de produzir música desde os quatorze.

Cássio Figueiredo esteve numa banda punk e, embora seja uma música pra expurgar os problemas juvenis (e não só, é claro), não foi por esse caminho que sua arte prosseguiu. Um pouco mais tarde, Cássio enveredou pelo noise ambient e pela experimentação eletrônica, com seu projeto Inutiargu.

Com essa assinatura, Cássio já lançou dois discos, “27”; em dezembro de 2013, e “Segundo”, em abril de 2014; além “Atman”, um EP de janeiro de 2014.

“Tive um projeto de black metal ambient antes, com quatorze anos, mas não tem mais o material na Internet, talvez até um dia eu disponibilize (ri). Na real, essa gama de gêneros mais ‘inacessíveis’ sempre me comoveu muito; de tanto ouvir, surgiu o interesse em começar a produzir. De gênero pra gênero, estética pra estética, vai mudando de acordo com o interesse que eu manifesto”, diz Cássio, em conversa com o Floga-se.

O Inutiargu cria obras soturnas, pesadas, estranhas, mas oferecem um inverso do que o gênero costuma mostrar: músicas curtas que parecem ser mais ideias não desenvolvidas do que obras fechadas.

Em “Segundo”, como curiosidade, ele regravou “4’33″”, de John Cage.

Ouça na íntegra “27”:

Ouça na íntegra “Atman”:

Ouça na íntegra “Segundo”:

A explicação pode estar na formação do artista. Cássio admite que toca “porcamente guitarra, que é o que fazia na banda (sua primeira banda, Speed Cream); e violino, também não muito bem, por falta de prática”.

Ele completa, explicando a vazão pro lado compositor: “estudei um pouco de teoria musical quando tocava violino; e no lado da minha família, meu avô, que era músico no corpo de bombeiros, sempre me influenciou ao lado mais erudito, e tudo mais, me levava no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro; e o resto foi interesse, experimento com software, e reunião de influência”.

Como todo jovem, há urgência em expor, criar, externar sentimentos. Em 2014, ele lançou um novo projeto, assinando com seu nome, Cássio Figueiredo. Foi assinando assim que lançou seu disco mais recente, “Sujeito”, em 15 de agosto de 2014. Como no Inutiargu, também de maneira independente.

Sobre a diferença entre os dois projetos, ele explica: “(o Inutiargu) era uma coisa mais suja, mais despreocupada, de certo modo até mais egoísta, mas não mais intimista. Acho que a única preocupação mesmo era a de uma experimentação, que reconheço, muitas vezes ingênua. Mas não inválida, de maneira nenhuma. “Sujeito” é um álbum que gosto, e ouço, com o mesmo ‘olhar’ que com as bandas que gosto de ouvir. E não só com o olhar crítico a posteriori de quem criou. Minha relação com a música hoje em dia é muito diversa, já trilhei por muita coisa. Esses dias tenho escutado bastante American Football, Paola Rodrigues, Lupe De Lupe, Have A Nice Life, King Krule e Raça Negra (ri). Acho que numa visão geral, bastante do Have A Nice Life me influencia, mas também coisas tipo Tycho, Willamette, e até algumas coisas do Mac DeMarco, que inclusive, recentemente produzi uma versão de ‘Ode To Viceroy’. Os elementos não são perceptíveis imediatamente, mas estão lá. Alguns elementos vêm das impressões que aquela música me causa. E são bastante transformados também.

Cássio gravou tudo em cada, com netbook e microfone interno, um “faça você mesmo” que essa geração ganhou de presente e está se divertindo com o regalo. “Coisa bem tosca mesmo, zero investimento por enquanto”, diz ele.

O grande problema pra apresentações ao vivo é que Cássio simplesmente perdeu os arquivos bases do projeto: “foi um lapso de estupidez, não salvei. Isso até dificultou o processo de masterização, que ficou por parte do meu amigo Frederico Nogueira. Posso ter o trabalho de recompor (em todos os sentidos) o EP. Resquício da falta de preocupação do Inutiargu (ri)”.

Em “Sujeito”, há um cover do Cícero. Cássio escolheu “Asa Delta”, do segundo disco do carioca, “Sábado”, pra refazer. “É um cara que eu admiro pelo som, principalmente e majoritariamente pelo segundo álbum. Acho que o ‘choque’ causado pela mudança da proposta e quebra de expectativa em cima do ‘Sábado’ foi bastante positivo, principalmente quando observei o resultado, e gostei bastante (mais musicalmente do que liricamente falando, apesar da estética do conteúdo ter me agradado). A ideia do cover foi justamente desterritorializar um som que pras pessoas que geralmente curtiriam o projeto, é muito chato e não diz nada, e também uma proposta de reinventar a estética do som, pra uma coisa ‘dor, ambient’. Essa música em específico foi pelo fato de se tratar da descrição do espaço urbano, que é algo que me atrai pra caralho”.

Ouça na íntegra “Sujeito”:

1. CânSâm
2. Cidade Líquida
3. O Duplo
4. Corpos
5. Guggenheim Wax Museum (Have A Nice Life cover)
6. Asa Delta (Cícero cover)
7. Você

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