CHEGOU O DIA 10 DE OUTUBRO

Hoje, quase um milhão de downloads foram realizados pelo mundo afora para ouvir o novo disco do Radiohead, “In Rainbows”. Um milhão. Num dia. Recorde absoluto (até por falta de comparativo). Mas é um milhão de cópias vendidas – a qualquer preço, é verdade, mas qualquer preço ainda é melhor para o artista do que de graça – e um milhão de cópias vendidas é um ótimo número. Estou falando só de quem baixou o disco hoje, muitos downloads de quem pagou ainda vão acontecer.

Fora os gratuitos. Porque o disco já tá na Internet. Basta uma procurada rápida pra ver quantas entradas há com “Radiohead In Rainbows”. Um absurdo. Essa é a velocidade que a indústria não capta e que tenta frear. Impossível.

Se esse CD já estava no ar, em gravações inacabadas e sob o nome de “Down Is The New Up”, o que não imaginar agora, com ele liberado e agitando qualquer conversa de botequim?

Quem recebeu o e-mail avisando que o download está disponível ficou com um certo medo: o texto avisava que o link só era ativo a uma chamada (a um clique), ou seja, se a luz acabasse, se o seu computador desse pau, se a conexão fosse pro saco, você perdia a chance de ouvir o disco. E muita gente reclamou disso, de acordo com o NME. Os fãs reclamaram também do bitrate. Todo mundo que baixa música há “séculos” sabe que o melhor é 192kbps, mas o disco vem em MP3 160kbps, o que ao menos é maior do que o disponibilizado, por exemplo, no iTunes, 128kbps.

Outro problema ficou comprovado através do tráfico. Em determinado momento, era quase impossível o acesso, principalmente por volta das 8 da matina em Londres, quando o disco foi oficialmente disponibilizado.

No final das contas, todos ficaram felizes.

E o disco? Bom, ouvi e posso dizer que é melhor do que “Hail To The Thief”. Sem dúvidas.

Começa muito bem, com “15 Steps” (3′:57″), música que a banda toca bastante nos shows desde o começo do ano e que já era bastante conhecida na Internet, até porque muita gente achava ser sobra do disco solo de Thom Yorke, “The Eraser”. É mesmo muito parecida com o material do disco solo do cantor-xarope, com aquela baterial descompassada, parecendo de teclados chinfrins. Por isso mesmo, muito boa.

A segunda, “Bodysnatchers” (4′:02″), teria sido a melhor do disco anterior: suas guitarras talvez fossem tudo aquilo que o Radiohead queria para “Hail To The Thief”, mas ficou devendo na confusão que é o disco. É uma música bastante, digamos, normal: guitarra, bateria, baixo e os indefectíveis barulhinhos que permeiam a música da banda. Poderia estar também no “The Bends”. É ótima.

A terceira, “Nude” (4′:15″), retoma o Radiohead de “Kid A”, mas a música tem mesmo quase dez anos, tocada a primeira vez em 1998. É clima total, com o baixo lá nas alturas. O foda são aqueles “uhuhuhuuuuu” no meio da música. Ok, ok… Tá valendo.

“Weird Fishes/Arpeggi” (5′:18″) tem o nome mais bacana do CD. A quarta música é simplesmente sensacional. Essa eu já havia ouvido ao vivo, já que a banda toca desde 2005 pelos shows por aí e, claro, já caiu na Internet desde então. Vocal “climático”, baixo acompanhando-o, bateria lá no fundo e guitarra dedilhada. Final apoteótico. Um Radiohead como o povo canta e gosta.

Depois vem “All I Need” (3′:49″), a número cinco, a metade do disco. Eletrônica com instrumentos de cordas fazem a cara do Radiohead desde “OK Computer”. Aqui não poderia ser diferente. Começa parecendo trilha sonora do David Lynch e talvez poderia até ser. Tem uns efeitos muito loucos, que o site do grupo diz ser violoncelo. Hmm, sei… No último minuto, ao menos, vira uma barulheira espetacular. Não ouça quando depressivo.

A sexta, “Faust Arp” (2′:10″), é literalmente inédita, sem nunca ter sido tocada ao vivo. Poderia também estar em “The Eraser”, com toda a confusão vocal propositada de Thom Yorke e por trás uma bossa nova orquestrada. Orquestrada até demais. É a menor do CD. Ainda bem.

Chega-se, então, a “Reckoner” (4′:50″), a sétima faixa. Aparentemente, os fãs mais fãs da banda encheram o saco para que ela entrasse num disco oficial. Ei-la. É mais uma música com muitas cordas ao fundo, mas aqui elas só compõem o clima, sem pretensão (se é que dá pra falar que não há pretensão nas músicas do Radiohead). A batida ajuda bastante deixar essa uma música boa.

“House of Cards” (5′:28″) é bacanuda, com aquela guitarra e batidas secas no início. Radiohead até a última gota, até o último acorde (como se eu entendesse de acordes). A voz está com aqueles ecos que a banda adora. A guitarreira fazendo suas viagens lá no fundo da mente, bem lá fundo, contribui bastante pra música. Só não confunda em alguns momentos com o… U2 (!?). Uma das melhores do CD?

“Jigsaw Falling Into Place” (4′:09″) é a penúltima. Baixo, bateria e guitarra acústica. Música simples, com menos distorções na voz. Simples e eficiente.

A última é “Videotape” (4′:40″). Mais uma que virou hit nos show do Radiohead desde o ano passado. Os fãs pediram e aqui está ela. Entra piano, entra voz, entra baixo… Vai crescendo, mas talvez não chegue a lugar nenhum. É, no mínimo, hã… contemplativa.

No final das contas, “In Rainbows” é um grande disco, o melhor desde “Kid A”. Eu só acho que é uma piada, quer dizer, talvez ainda não seja o disco completo. Esse mesmo só chega às lojas em janeiro de 2008. Parece mais uma grande coletânea de canções que foram testadas ao vivo, durante os últimos dois anos. Eles gastaram muito mais tempo em estúdio para apresentar músicas que aparentemente já estavam prontas, conhecidas, lapidadas. Se a minha teoria estiver certa, eles vão irritar muita gente, mas seria bem típico do Radiohead.

E ainda falta a capa, não divulgada oficialmente.

Pois é, eu achava que o Radiohead não dava mais no couro. Me enganei. Bom disco. Corra, pegue o seu.

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