CHINESE COOKIE POETS NA CASA DO MANCHA – COMO FOI

Eduardo Verdeja, do Dorgas, me alertou minutos antes de começar a pendenga: “esse é o melhor show que já vi na vida”. Não topo tal afirmação como exagero, não. O rapaz admitiu que não tem uma extensa lista de shows no currículo, mesmo assim não há de se tirar o mérito do impacto que causou em tão astuto guitarrista.

Verdeja é um cara sóbrio, sempre é interessante travar um diálogo com ele, elucidativo e tals. Além do show, ainda enalteceu os músicos: pra ele, Felipe Zenícola, no baixo; Renato Godoy, na bateria, na bateria; e principalmente Marcos Campello, na guitarra; são excepcionais atuantes em seus instrumentos.

Fiquei com o tal quadro de deslumbre na cabeça. É um perigo esse cenário de expectativa elevada, porque se torna presa fácil pra frustração.

A favor dos argumentos de Verdeja havia a própria música do Chinese Cookie Poets. “Dragonfly Catchers And Yellow Dog”, o segundo EP, lançado em 2011, já era um experimento ao vivo, uma prévia do que é capaz o trio em cima de um palco.

Mas, não. Ao vivo é realmente outra coisa. Outra coisa. O Chinese Cookie Poets é outra coisa, perto da maioria das bandas brasileiras atuais, assim como o Sobre A Máquina, que fez um brilhante show imediatamente antes, no mesmo dia.

Se o Sobre A Máquina havia hipnotizado o público com uma apresentação atraente, o Chinese Cookie Poets estalou o baixo em “Sunaru Daramu” e confundiu a cabeça de todo mundo. Que diabos é aquela música desconexa, livre, sem amarras melódicas ou assobiáveis? Sim, claro, é música, tanto quanto qualquer uma, mas não como você, amante da assertividade pop, está acostumado. Parece improvisação de músicos que estão se conhecendo naquele momento, combinando as coisas em cima da hora, mas com tal habilidade, que a composição bateria-baixo-guitarra-ruídos-pulos-pausas-confusão soa tão amigavelmente conhecida a ponto parecer mesmo algo pop. Mas não se engane, é outra coisa.

Foi um show meio experimental também pra banda, que apresentou algumas músicas novas. Quatro delas, nem nome tinham até o dia deste espetáculo: “Molestati”, “Pseudo-Random” e “Torando Aço”, além da improvisação sobre um tema que Marcos apresentou – e que segue sem título. Outra estará no primeiro disco cheio que a banda lançará este ano, via Sinewave: “Free The Monkey”, que a plateia já conhecia do mais recente single, lançado semana passada (“Molestati” também estará no disco cheio).

Nove músicas no total, em uma hora de show, e uma viagem por temas intrigantes. Quem não conhecia o Chinese Cookie Poets pode ter até estranhado o free jazz caótico, mas saiu mais ou menos com a certeza de Verdeja: pode não ter sido o melhor show da vida, porém esbarra entre os mais intensos e memoráveis. Os ouvidos que o digam.

1. Sunaru Daramu
2. Dissident Lounge
3. Molestati
4. Torando Aço
5. Pseudo-Random
6. Pateando Cráneos
7. Improv / “tema marcos”
8. Bone Catcher
9. Free The Monkey

Veja “Sunaru Daramu”:

E veja “Bone Catcher”:

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