Patrick Flegel nos surpreendeu com o estanho e ótimo “Model Express”, de 2018 (lembra?), uma coleção de versões e sobras de estúdio.
Ele advoga pela estranheza. Num mundo em que todo mundo quer ser certinho, bem visto e bem comentado, isso já é por si uma vantagem.
Mas, como o texto de apresentação de “What’s Tonight To Eternity” ressalta, “Cindy Lee é mais do que apenas um projeto de gravação de música, é o culminar de uma exploração de arte ao longo da vida, a guitarra elétrica, identidade queer e expressão de gênero”.
“Gente como Patsy Cline e The Supremes me conduziram pelos momentos mais difíceis da minha vida”, explica Flegel, “e também forneceram a trilha sonora pros melhores momentos”.
“Oferecendo momentos de pura beleza por meio de reflexões sombrias sobre saudade e solidão, Cindy Lee é algo pra se agarrar em um mundo de desordem”: perfeito.
“What’s Tonight To Eternity” é o quinto disco de Flegel como Cindy Lee.
Vestido, maquiagem, perucas diversas, joias e um senso de provocação ainda mais afiado, como escrevi anteriormente, e reforço agora.
“I Want You To Suffer”, a segunda faixa, é um resumo do que ele pode chamar de “provocação musical”. Alguns minutos de ruídos e microfonias que, veja, não soam despropositadas.
Cindy Lee tem propósito e sabe o que tá fazendo. Sabe encantar com peças etéreas e “acenos astutos em direção aos clássicos de girl-groups“.
Segundo Flegel, a inspiração pra Cindy Lee veio de um outro foco, os Carpenters, especialmente Karen (obviamente).
“Eu encontrei um profundo interesse e conforto na história de Karen, que é um conto preventivo sobre a monstruosidade do show business, o estrelato na juventude e ser um desajustado em busca de conexão. A ignorância e o sensacionalismo dos tablóides que ela sofreu são facilmente moderados e oprimidos por sua produção séria, seu talento artístico, sua ética de trabalho incansável”, disse Flegel. “Algo totalmente único e mágico toma forma no espaço negativo, fora da exclusão. O que eu relaciono nela tem a ver com o que está escondido, o que é desconhecido”.
Daí, você ouve soturna e oitentista “Lucifer Stand” e entende o que o artista quer dizer.
O disco foi gravado no Realistik Studios, do próprio Flegel, em Toronto, Canadá.
Tem seu irmão mais novo, Andrew Flegel, na bateria.
“‘What’s Tonight To Eternity’ é uma mistura de doutrinação da cultura pop, dor e sofrimento, esperanças e sonhos, confrontos ferozes e confusões abertas e abertas”, vende-se.
Até a capa, com o beijo da igualmente provocativa Andrea Lukic, faz parte do “conceito” explícito: no fundo, o ruído e o incômodo estão na compreensão preconceituada do receptor.
Resumindo, em uma frase: mais um discaço de Lee!
1. Plastic Raincoat
2. I Want You To Suffer
3. The Limit
4. What’s Tonight To Eternity
5. One Second To Toe The Line
6. Lucifer Stand
7. Speaking From Above
8. Just For Loving You I Pay The Price
9. Heavy Metal