O show estava marcado pras dez da noite do dia 20 de novembro de 2013, quarta-feira, em pleno feriado da Consciência Negra, mas por pouco não começou no dia seguinte. As irmãs Bianca Casady e Sierra Rose Casady subiram ao palco com uma hora e vinte de atraso e, mais uma vez, o Cine Joia mandava às favas o fato de haver uma estação de metrô ali a cem metros. Azar de quem mora longe e teria que trabalhar no dia seguinte.
É dura a vida do consumidor de shows nessa cidade, mas ao menos, em cima do palco, a banda minimizou o problema. E não só: a despeito da maioria dos shows no local, finalmente o som estava bem digno, o que faz toda a diferença na apresentação de uma banda como a CocoRosie.
A plateia cheia, após encarar uma fila desalentadora e alguns pingos insistentes de chuva pra entrar, enfrentou além do atraso um calor insuportável (devia estar batendo uns 40, 45 graus lá dentro). Entretanto, não esmoreceu. Nem tinha como: dançou e se divertiu durante a uma hora e quarenta de apresentação.
Apesar das irmãs Casady soarem como uma Turma do Balão Mágico emulando Björk e De La Soul num cabaré, o entusiasmo e a graça de Sierra empolgam sua audiência, seja “cantando”, seja tocando sua harpa, seja dançando e rebolando até o chão, como num pancadão carioca. Por sua vez, Bianca mais tímida, tenta levantar o público com sua voz infantilizada, levando dentro do seu conceito de empolgação as canções desconexas da dupla.
A aproximação com Björk não é meramente uma impressão. A dupla trabalhou com Valgeir Sigurðsson, produtor da islandesa, no mais recente trabalho, o bom “Tales Of A GrassWidow”, de 2013, e oito canções do disco aparecem no setlist. O show que o Cine Joia abrigou é dessa turnê.
Comparando com a apresentação de 2006, quando a dupla passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, e as duas se mostraram mais contidas no palco (pois bem mais tímidas), a CocoRosie é agora um furacão – modesto, inconstante, mas ainda assim um furacão.
Isso deve não só ao fato das irmãs terem se soltado e nitidamente conseguirem dominar o palco e a plateia, mas na maneira como se apresentam, um tanto teatral, com trocas de roupas, maquiagem em público, danças, performances forçadas, caras e bocas. Além disso, e mais importante, há a presença crucial do beatboxer Tez e de Takuya Nakamura, pianista e trompetista: os dois de fato seguram a onda. A base rítmica é deles e assim as irmãs podem se preocupar apenas em interpretar as canções e apresentar seu circo (incluindo a postura política, sutil, mas presente – no boné escrito “pride”, a luta feminista), deixando de lado esse “incômodo” que é a música.
Só que a música não é um detalhe. Os cinco discos da dupla, em especial os dois primeiros, “La Maison De Mon Rêve”, de 2004, e “Noah’s Ark”, de 2005; além do mais recente, são bons exemplos de anti-pop, música não comercial, introspectiva, estranha. A receita esperta das irmãs está em criar sua estranheza em estúdio e transformar tudo numa festa amigável e divertida ao vivo, algo que elas, sete anos depois da primeira visita ao Brasil, aprenderam muito bem.
As presenças de Tez e Takuya são imprescindíveis pra isso. Tez é o responsável pelos beats das canções, complementando a bateria eletrônica (fez um solo empolgante durante uma saída pra troca de roupa das moças). E é isso. Não há guitarra, não há baixo, não há bateria. Há só garganta, piano, teclado, harpa e flauta. Não é um show de rock, não é um baile dançante, não é um batidão. O CocoRosie é uma estranheza só, indefinível, inrotulável.
Mas há estranhezas e estranhezas. A do CocoRosie é circense, não me agrada no todo, soa falso, é teatral demais. Seu público, porém, dá de ombros e até se esbalda com esse tipo de apresentação. Dessa forma, não é difícil atestar: as irmãs Casady agradam sua audiência, são um sucesso.
01. Child Bride
02. End Of Time
03. Harmless Monster
04. Tearz For Animals
05. After The Afterlife
06. Gravediggress
07. Ana Lama
(solo beatboxing com Tez)
08. Villain
09. Far Away
10. Undertaker
11. Grey Oceans
12. God Has A Voice, She Speaks Through Me
13. R.I.P. Burn Face
14. Smokey Taboo
15. K-Hole
Bis:
16. Werewolf
17. We Are On Fire
18. Turn Me On (Kevin Lyttle cover)
não estava 40 graus lá dentro, não havia grandes filas, o bar estava acessível e o horário marcado no ingresso era 23:00 para início do show…
Fiquei quase uma hora na fila pra entrar, se isso não é uma grande fila, ok, me avise o que é. Quanto ao bar, realmente estava acessível, mas també com a cerveja a 10 reais, é compreensível. E o horário do show… bem, no meu ingresso tá marcando 22:00h. Se o Cine Joia alterou depois e avisou pra quase ninguém, fica difícil. E mesmo que fosse 23:00h, mesmo assim o show atrasou vinte minutos – ou atrasar vinte minutos é ok? Quanto à temperatura, eu devo realmente ter me enganado: não tava 40 graus, tava uns 50. Se estivesse 40, seria um alívio.
O show só atrasou porque A PRÓPRIA BANDA ESPEROU QUE TODOS ENTRASSEM PARA COMEÇAR.
Ok, mas ninguém tá colocando a culpa na banda. Leia com atenção. O problema é a casa, sempre essa casa, que tem um histórico tenebroso de desrespeito com o público e atrasa sempre.
Sabe aqueles momentos que todas as exceções são validas? o show compensou qualquer atraso e qualquer fila e qualquer incomodo…. estava calor sim, estava… who cares?! e o bar era caro sim, um mojito 22 paus? foda…. cest la vie!
Fernando, não seja analfabeto funcional, vou repetir e não desinterprete além do que EU escrever: O show só atrasou porque a BANDA ESPEROU QUE TODO O PÚBLICO ENTRASSE, ou seja, e desenhando para você, a banda teve consideração com o público dela e PONTO. To cagando se a casa é cara ou não, se a banda que for valer a pena pago o que for e enfrento o que for.
Olha que maravilha, a banda esperou seu público entrar, beleza. Não precisa ficar agressiva, não estou atacando seus ídolos (embora, é preciso dizer, nenhuma banda, e principalmente a CocoRosie, é intocável). Mas, de novo, acho que você não entendeu: se a banda teve que ser magnânima e esperar seu público entrar, é porque a casa pisou na bola, é difícil entender?
E olha que coisa interessante: “To cagando se a casa é cara ou não, se a banda que for valer a pena pago o que for e enfrento o que for” – é por conta de pensamentos como esse que os empresários e promotores de shows rasgam o manual do respeito ao consumidor e fazem o que quiser. Eu não enfrento o que for pra ver banda ou artista algum. Há um limite que o respeito impõe.
Eu comprei meu ingresso com antecedência e nele estava escrito que a casa abriria as 20h e o show começaria as 22h. Mas dois dias antes, o site do Cine Jóia informava que a casa abriria 21h e o que o show começaria as 23h. Elas entraram 23h16, acho que não dá pra considerar um atraso absurdo. Na verdade a casa que tinha uma programação e alterou em algum momento, deixando as pessoas sem esta informação.
De fato, não é um atraso absurdo. Mas é um atraso. O pior é essa alteração de horário meio na surdina. Quem foi achando que o show era às dez, imaginando que poderia terminar antes da meia-noite e, assim, voltar de metrô (se programando pra isso), se deu mal, bem mal, custou caro (de táxi). Não é possível que alguém ache isso “ok” ou “correto”.