Lá em 2012, o site do festival Novas Frequências, abria espaço pra falar do Quintavant. Renato Godoy, Alex Zhem e Pedro Azevedo deram o recado: “criamos o Quintavant no final de 2010 por uma extrema necessidade de colocar nosso material na rua, além da ideia de organizar sessões de improviso coletivo. O objetivo principal sempre foi estreitar a comunicação entre os músicos e estabelecer um diálogo maior com o público que sempre existiu porém com poucas opções de lugares onde aconteciam esse tipo de evento. (…) De lá pra cá, muita coisa vem acontecendo: projetos se solidificaram, outros nasceram, discos estão sendo gravados nessas apresentações, surgiram novos produtores, novas casas se interessaram em abrigar o evento e artistas de fora do Rio estão se interessando em participar. Atrair um público que saia de casa pra conhecer novos projetos musicais, mantendo o foco da curadoria aqui no Rio de Janeiro, são os maiores desafios. Mas o que mais motiva são essas parcerias que estão sendo feitas entre os músicos, produtores, espaços pra show e público que vem se formando. Tocar pra uma plateia instigada é sempre um imenso prazer. Um sonho (acho que unânime) de quem produz cultura no Rio de Janeiro seria ter um sistema de captação de recursos mais acessível, menos burocrático, menos engessado e menos calcado numa curadoria pálida e sem pesquisa. Ou seja, menos política, menos hype e mais música:”.
Corta pra 2014, dia 24 de maio, e temos o nascimento do selo QTV (leia-se “quêtêvê”), braço natural do Quintavant. Ele é dirigido por Pedro Azevedo, Renato Godoy, Eduardo Manso, Bernardo Oliveira e Lucas Pires.
“Trabalhamos com artistas e projetos que passam pelo Quintavant, abrangendo uma pluralidade de manifestações musicais e sonoras, principalmente as ligadas ao improviso”, escreveu Bernardo Oliveira, também um dos cabeças do Matéria, que está entre nossos sites preferidos. Aliás, vale ver a lista de seus “Discos Da Vida”.
Os primeiros lançamentos são “Lodo”, do Bemônio, do qual falamos aqui; e o excepcional noise-pós-punk-experimental “Hey Babe”, do Baby Hitler, lançado em março de 2014 (detalhes abaixo):
1. Satanghost Nightmare
2. Mayor Rob Ford’s Day
3. Pânico Em Paquetá
4. Tivoli Park (clique aqui pra ver o vídeo)
5. Hey Babe!
6. Baby Hitter
O Baby Hitler é formado por Negro Leo (guitarra e voz), Renato Godoy (bateria) e Eduardo Manso (guitarra), nomes que você conhece bem, se lê o Floga-se com frequência, e principalmente se frequenta redutos do Quintavant, como a Audio Rebel. Negro Leo tem dois discos lançados e figura fácil nessa cena carioca experimental. Renato Godoy é do Chinese Cookie Poets, uma das preferidas aqui da casa, e Eduardo Manso é o novo integrante do Bemônio, por exemplo.
Ouça na íntegra o disco (especialmente a ótima “Tivoli Park”):
É um exemplo de como essa “comunidade” artística funciona bem na movimentação é a interligação dos seus criadores. O QTV é de autoria de Pedro Azevedo (dono da Rebel; selo QTV): Renato Godoy (baterista Baby Hitler, Chinese Cookie Poets), Eduardo Manso (guitarrista Baby Hitler e Bemônio), Lucas Pires (DEDO), Negro Leo (cantor do Baby Hitler) e o citado Bernardo Oliveira.
Não é apenas um movimento ideológico. Pra “cena” se sustentar, é preciso girar divulgação, produção, grana. Os discos físicos serão vendidos a 15 reais na Kepka, a loja de instrumentos musicais da Audio Rebel, e o QTV vende pra todo o Brasil e exterior. Só pedir.
Ainda vêm por aí, os trabalhos “Rainha”, do DEDO; “Negro Léo”, do Negro Leo, Rabotnik Quarteto Duplo + Arto Lindsay, “Nanopets”, o novo do Chinese Cookie Poets, e muito mais, literalmente muito mais.
Tal cono a Sinewave, a TOC Label, a Mansarda Records, a Plataforma Records e outras, QTV é uma gravadora/selo que mostra que há como criar estruturas pra que a música realizada nos subterrâneos sobreviva, entre em ebulição e apareça catalogada, empacotada e bem distribuída. São canais imprescindíveis pra desafogar as inquietantes ideias de artistas não impelidos pelas normas vigentes.
É mais uma pra ficar de olho.