Como este é meu primeiro texto aqui no Floga-se, quero deixar algo bem claro desde já: sou orgulhosamente amador.
Minha coluna aqui chama-se cosmoPOPlitan, que é o mesmo nome de uma série de três coletâneas que eu lancei em 2010 na Inglaterra pelo selo O Bosque/Woodland, totalizando setenta e cinco faixas de artistas e bandas de vários estilos musicais, que seguem o DIY (faça-você-mesmo), originários de vários países das Américas, Europa, Ásia e Oceania.
cosmoPOPlitan (grafado assim mesmo) é também o nome de uma série de eventos realizados entre 2012 e 2014 no finado Espaço Cultural Walden em São Paulo, com shows de bandas de várias partes do Brasil e do exterior, e também o nome do programa de rádio que eu faço com o José Julio do Espirito Santo, que vai ao ar todo domingo às 22:00h, pela Antena Zero.
A ideia por trás do nome nada tem a ver com o pop comercial de Menudo, Spice Girls etc. O POP! aqui vem da pop-art e principalmente do indie pop representado pela C86 (da estética punk do DIY).
O princípio que rege tudo que faço usando esse nome é a divulgação da música de artistas de vários estilos (do indiepop ao experimental) que produzem sob o etos DIY, vindos de qualquer parte do mundo; cosmopolita e lo-fi, independente.
Pretendo escrever principalmente sobre música e minhas experiências nas cenas underground em que eu já vivi (aqui e fora do Brasil), apresentando ou falando de artistas independentes e divulgando música de vários estilos, mas predominantemente lo-fi e/ou DIY.
Sábado, dia 28 de fevereiro de 2015, tivemos em São Paulo o evento Sacola Alternativa, no Museu Da Imagem E Do Som (o MIS), realizado pelo Governo do Estado de São Paulo (por meio da Secretaria da Cultura), e apresentado numa parceria entre MIS e Balaclava Records.
O projeto foi idealizado por Fernando Dotta e Rafael Farah, sócios da Balaclava Records (leia entrevista com eles aqui), e consistiu de uma feira com dezoito gravadoras ou selos independentes e sete ilustradores que montaram banquinhas no foyer do auditório pra expor e vender seus cartazes, LPs, CDs, DVDs e K7s, além de merch. Na parte de fora, havia dois ou três food trucks vendendo cervejas e waffles (aquelas coisas gourmet).
Na programação, foi incluída também a exibição no auditório LABMIS dos documentários “Guerrilha Gerador” (direção de Danilo Sevali, Brasil, 65 minutos, 2013) e “Balaclava Sessions” (direção Ricardo Spencer, André Peniche, Zelino Lanfranchi e Fábio Meirelles; Brasil, 60 minutos, 2014).
A iniciativa buscava aproximar músicos e produtores que movimentam o mercado fonográfico e cultural no país, e apresentar ao público quem são os responsáveis por trás dos lançamentos mais interessantes da atualidade, além de instigar o empreendedorismo e o método “faça você mesmo”. A banda carioca Séculos Apaixonados, que faz parte do casting da Balaclava, se apresentou no encerramento do evento.
Veja o documentário “Guerrilha Gerador”:
Vi o post que a Balaclava publicou na página deles no facebook, agradecendo a todos que participaram no evento. Foram muitos mesmo – sem fazer muita conta, estimo em pelo menos sessenta pessoas (entre artistas, selos e demais envolvidos na feira e nas mesas). E isso é louvável, ponto pra Dotta e Farah, por envolver tanta gente boa em torno de uma iniciativa.
Realmente o clima no evento estava bacana, descontraído, foi tranquilo; pude rever amigos e conhecidos que há tempos não via, além de boas conversas com amigos. Porém, o público de São Paulo pareceu não ter entendido a proposta, pois o comparecimento foi aquém do esperado, levando-se em conta a cobertura que o evento teve.
A Feira Plana (que trata principalmente de fanzine, mas também de fotografia e artes plásticas), por exemplo, teve muito mais comparecimento de público, desde sua primeira edição (e sem contar com uma cobertura tão ampla da grande mídia como a Sacola Alternativa teve). E que não me levem a mal os fanzineiros, mas eu não consigo acreditar que o público pra fanzine seja maior do que o público para música.
A Sacola Alternativa foi divulgada extensamente, através de alguns blogues que falam sobre música, mas principalmente através da grande mídia.
Não consigo entender sob que aspecto veículos como Folha de São Paulo, Guia da Folha, Revista São Paulo (da Folha, matéria de página inteira), O Estado de S. Paulo (também página inteira), Rádio Estadão, Rolling Stone, Globo News (que inclusive foi à feira e entrevistou Dotta), 89FM, Rádio Cidade e a empresa Red Bull poderiam proporcionar uma exposição coerente com o tema abordado pelo evento – a independência, o DIY; o fato é que em todos os projetos da Balaclava temos esse modelo que conta com os veículos da grande mídia à disposição pra promoção de seus eventos. Como Dotta costuma dizer, isso seria mais uma demonstração do profissionalismo deles.
Blogues independentes, onde o editor escreve sobre o que quiser e como quiser, por amor e prazer, na minha opinião, são a encarnação atual dos fanzines de xerox dos anos 80 e 90 – DIY puro. Uma das minhas sugestões pra segunda edição da Sacola Alternativa seria abrir espaço para fanzines e blogues, pois num evento onde o foco é o DIY, os blogues se sentem em casa. Eu por exemplo estou aqui escrevendo um texto que provavelmente acabará enorme, por amor e prazer, não sei se alguém dos muitos veículos da grande mídia que divulgaram o evento vão publicar textos relatando o evento…
Decidi conferir o evento antes mesmo de ter decidido escrever a respeito, a despeito de um imbróglio, envolvendo Fernando Dotta e este que vos escreve aqui, quando o EC Walden trouxe a banda norte-americana Beach Fossils para quatro shows no Brasil, em 2013. Dotta se ofereceu pra cuidar da banquinha de merch no primeiro show da tour, no SESC Belenzinho, vendendo material da Beach Fossils, do meu selo O Bosque/Woodland e do selo dele, Balaclava, e dias depois do show, quando o agente da banda me cobrou o valor da venda de merch, o procurei; ele então disse que, por ter usado a maquininha de cartão do Cesinha da Highlight, iria me passar o dinheiro referente às vendas com cartão de crédito trinta dias depois e descontando 11% – enquanto que no Walden também tínhamos maquininha de cartão e o banco nos cobrava em torno de 3% (e tínhamos a grana no dia útil seguinte).
Obviamente, como produtor DIY, orgulhosamente amador que sou, não recebi recursos nem apoio de qualquer ente pra realização da tour (mesmo porque não tinha procurado ente algum pra qualquer apoio ou patrocínio) e não tinha a quantia pra tirar do meu bolso e adiantar pra banda. O agente da banda ficou indignado com a perspectiva de não receber até o fim da tour e, apesar do desgaste, a questão foi resolvida.
Até então eu e Dotta nunca tínhamos tido problema algum e mesmo não o conhecendo há muito tempo – nem sendo próximo – eu o considerava um parceiro.
A banda dele, Single Parents, tinha feito um show no EC Walden em 2012 e as imagens gravadas ali foram usadas pro videoclipe da faixa-título do disco deles, “Unrest” (assista aqui). Em 2013, voltaram a tocar no Walden, mas ali eu infelizmente senti algum clima estranho.
Em todo esse episódio da banquinha no SESC, apesar do desgaste, não houve troca de farpas, tampouco baixaria, pelo contrário, tanto eu quanto o Dotta nos desculpamos pela falha na comunicação e pela falta de clareza na hora de combinar e fazer a banquinha, mas mesmo assim nossa relação nunca mais foi a mesma e depois disso ficou um clima esquisito…
Não comprei disco algum na Sacola Alternativa, e me permito explicar: faz tempo que não compro mais discos. Às vezes minha amada, Mariana, consegue me induzir a deslizes (quando acabo comprando algum disco), mas é algo raro de acontecer.
Depois que abri o EC Walden a grana ficou curta (quando fechei, então, vish…), mas a real é que já vendi meus discos, livros e instrumentos tantas vezes pra ir morar em outros lugares que não tenho mais intenção de comprar. Aliás, neste momento tenho centenas de discos à venda no Mercado Livre, se quiser dar uma olhada, passa lá.
Quando eu gosto do som de um artista eu procuro baixar pra ouvir no celular ou no iPod (sempre que possível pago pra fazer download). Costumo receber material por conta do selo e do programa de rádio também. No meu selo, inclusive com meus projetos musicais, venho lançando muito mais álbuns digitais do que físicos. Enfim, não comprei na Sacola Alternativa, mas não foi por sacanagem.
De uma forma ou de outra já tive algum tipo de contato com pelo menos metade dos dezoito selos ali. Por exemplo, a K7 Victor, da banda Moonrise (em que eu tocava), foi distribuída pelo Midsummer Madness nos anos 90 e agora o material do projeto A Espiral de Bukowski (que toco com a Mariana) está sendo distribuído pelo selo Brava, além de meu selo já ter participado de outras feiras de selos independentes com alguns dos selos ali presentes; admiro o trampo de muitos deles.
Dentro do auditório, foram três mesas de debate ou bate-papo com profissionais do mercado da música; as três mesas foram mediadas por Marcelo Costa, que criou o fanzine Scream & Yell com Alexandre Petillo na segunda metade dos anos 90, e que desde então trabalhou pra empresas da grande mídia brasileira e da indústria da música, escrevendo sobre música e cultura-pop, além de manter seu fanzine online.
A primeira mesa, com o nome de “A história dos selos e seus modelos de negócio”, teve um número pequeno de espectadores (menos da metade dos 172 lugares estava ocupada no auditório) e começou pouco antes das 14:00h. Os palestrantes Fernando Dotta e Rafael Farah (Balaclava Records), Lê Almeida (Transfusão Noise Records), Gui Jesus Toledo (RISCO) e Fred Finelli (Submarine Records & Norópolis) falaram sobre seus selos e sobre como trabalham.
Eu cheguei a tempo de pegar os quinze minutos finais, quando Costa dizia “a gente vai ter bandas daqui, como O Terno e Supercordas, que poderiam ter o nome muito maior se a gente tivesse meio de conseguir fazer uma ponte com as majors“.
Dotta então disse que “a diferença do Brasil pra fora é que lá os grandes compraram ou fizeram parcerias com os selos menores, pra que os discos chegassem nas lojas”. Segundo ele, o problema seria a distribuição: “se tivesse uma parceria, um papo aberto, com a Warner ou a Universal, com permutas e tal (…) falta muito esse diálogo e os caras terem interesse no que está acontecendo”. Para Costa, poderia ter chegado a hora de as majors começarem a falar com os independentes de igual pra igual.
Eu respeitosamente discordo de ambos. De acordo com o que eu pude ver nos lugares por onde passei, a diferença do Brasil pra lá fora é sobretudo a mentalidade das pessoas que produzem e tocam e gostam de escutar música, mas também das pessoas que só gostam de escutar música. Mas, por enquanto, sigamos aqui com o relato sobre a Sacola Alternativa.
Exceto por Finelli (que observou que dá pra ampliar o mercado pros selos independentes sem a tal relação com majors, deixando claro que sua atividade com o selo é de tempo integral: “não vivo disso, vivo isso”), nada foi dito em relação ao fato do próprio conceito de independência ser incompatível com o modelo de negócios das gravadoras majors. A impressão que tive é que pra Costa, Toledo e Dotta o que falta pros independentes seria justamente depender das majors. Se alguém conferiu o início desta mesa, por favor me conte como foi.
A segunda mesa – chamada “O fortalecimento do streaming e venda digital X o retorno às mídias físicas” – contou com um público maior (mas sem lotar o auditório) e teve como palestrantes Márcio Cruz (ONErpm), Henrique Faleite (Deezer Brasil), Marcio Custodio (Locomotiva Discos) e Arthur Joly (Vinyl Lab). Essa foi a mesa que abordou tópicos técnicos sobre o mercado da música e os meios pros diversos segmentos crescerem ao proporcionar a melhor experiência com música; os debatedores se mostraram bem preparados.
Achei interessante que, mesmo dois deles defendendo interesses normalmente considerados opostos aos dos outros dois, todos os debatedores concordaram que hoje o cenário está ótimo pra quem gosta de música, afinal com o advento da Internet e de todas as tecnologias conexas, e com o retorno do vinil e do K7, há diversas opções pra consumir e apreciar música.
Quando Joly apontou pra necessidade de se ajustar o mercado digital pra que o artista possa ser recompensado de maneira decente, Costa tentou deslocar o debate pra necessidade de simplificar os serviços pra que o grande público possa consumir (ou algo assim, eu tive a impressão que ele quis dizer que há a necessidade de educação do público – o que ao meu ver, apesar de pouco atraente no contexto, seria pertinente), mas o assunto direito-arrecadação acabou continuando em pauta, até que na plateia tivemos a intervenção de Afonso Marcondes que se apresentou e inquiriu Faleite e Cruz com veemência sobre aspectos técnicos e legais, apontando falhas na coleção e destinação dos valores devidos aos artistas no Brasil.
Os representantes da Deezer e da ONErpm conseguiram explicar com propriedade todas as dúvidas de Marcondes, que então afirmou ter conhecimento de uma empresa que estaria descumprindo a lei ao gerar ISRC pra vídeos no YouTube (monetizando esses vídeos sem autorização do artista), e ao ser perguntado sobre quem seria essa empresa, ele respondeu de forma ríspida (gerando risadas), e logo depois a mesa foi encerrada.
A terceira e última mesa – com o nome de “Indie Brasil: de onde viemos, para onde vamos” – foi a mais cheia (a única com os 172 lugares do auditório ocupados) e teve os seguintes palestrantes: Alexandre Matias (Trabalho Sujo), Thiago Ney (IG), Dago Donato (Neu Club), Mancha Leonel (Casa do Mancha), Diogo Valentino (Supercordas) e Tim Bernardes (O Terno).
Dos seis debatedores, três eram mais velhos e atuantes desde os anos 90 e os outros três mais jovens e atuando há menos tempo.
Matias começou o debate com a seguinte brincadeira: “quem aqui participou da lista de discussão dos anos 90 chamada ‘Indie Brasil’? O resto pode sair fora”.
O debate começou com uma definição de como começou o “Indie Brasil” e das dificuldades outrora por conta do difícil acesso à música dos ídolos, aos meios de produção e à comunicação.
Costa perguntou aos mais novos sobre como é hoje e as questões de sempre foram trazidas à tona (demonstrando preguiça e vitimização), como por exemplo “é preciso de ajuda do poder público pra ser independente” (uma mesa dedicada à discussão sobre o que significa ser “independente” seria muito útil), “hoje o independente pode ser tão foda quanto alguém lançado pela EMI” (como se antes o que não fosse major não pudesse ser bom, ou seja, esquecendo que é sobretudo uma questão subjetiva, de gosto pessoal), “antes faltava estrutura nas poucas casas, hoje tem muitos eventos e não tem público” (que doce problema…) e “hoje o cenário indie está mais estruturado do que quando se pronunciava ‘guitar’ errado” (ao invés de risos, a pronúncia errada poderia ser fonte de orgulho…).
Foi engraçado quando Leonel observou sobre a onda atual de valorização e do interesse no “indie gourmet” (com a própria Sacola Alternativa sendo descrita como “indie gourmet”); infelizmente a impressão que tive foi que pros debatedores e boa parte do público, o “indie gourmet”, ou o “indie-universitário”, seria algo bacanudo, sabe, positivo (!).
Costa então lembrou da Mostra de Cultura Independente, evento organizado por Deborah Cassano e Megssa Fernandes (que depois viria a ser minha companheira de banda no Magic Crayon), que aconteceu em outubro de 2000 na FUNARTE, em São Paulo. Naquele evento, quinze anos antes, houve palestras (com temas como “Independência ou Sorte?”), com participação dos cartunistas Laerte e Lourenço Muttarelli, DJs, saraus, exposição de selos e artistas com álbuns, fanzines, fotos, desenhos e colagens. Fizeram shows as bandas Hang The Superstars, Fishlips, Dominatrix, Sala Especial, Grenade e Thee Butchers’ Orchestra.
Infelizmente, como lembrado por Costa, lá atrás em 2000, a questão escancarada na mesa era mais ou menos a mesma de agora, isto é, independente precisa de ajuda vinda de cima. Naquele caso a ajuda vinda de cima era a mídia (que na mesa foi representada por José Flávio Junior da revista Bizz).
Matias e Donato colocaram uma questão que eu acho interessante: “quer fazer som diferente das preferências das massas, arruma um emprego pra garantir o aluguel e aproveite a liberdade”, Valentino e Bernardes discordaram, alegando as dificuldades do músico etc.
Outra vez pairou no ar aquela vontadezinha de ser “independente” e ao mesmo tempo não precisar ter emprego ou qualquer outra obrigação a não ser a música, pra poder se dedicar à própria arte e ao mesmo tempo querendo autonomia financeira. Donato apontou que integrantes de bandas estrangeiras famosas aqui entre os indies, lá fora, trabalham de balconista etc. Matias lembrou que as mordomias do jeito que acontecia – com alguns – nos anos 80, hoje não existem mais, mas que hoje há espaços e possibilidades em várias partes do Brasil pra empreender e combater as dificuldades.
De novo em pauta os tópicos “falta de público”, “falta de dinheiro”, “precisamos de uma plataforma pra linkar pessoas e casas”, “não estou vendo nada de bom pacaralho assim”… E risadas na plateia (tenho medo de me perguntar o motivo das risadas).
Então, Costa fez a observação que eu também teria feito: “o que falta é construção de cenário”; e Leonel arrematou “essa construção não é de uma hora pra outra, é degrau por degrau; é uma questão cultural, no Brasil tem muita gente independente fazendo dinheiro e vivendo confortavelmente, mas em outros estilos que não o rock”. E Donato falou sobre o senso de comunidade que ele viu em Montreal, onde o pessoal deixa de ver show de Nick Cave pra pagar pra ver show de banda pequena local. Então, Alex Antunes pediu a palavra pra deixar claro que é contra o senso de comunidade ao dizer que é contra se falar em solidariedade, em favor de uma certa mística, que segundo ele seria responsável pela existência e pelo crescimento da cena de que ele participou nos anos 80, mas que ele mesmo não sabe como criar…
Costa terminou o último debate do evento de modo consciente, dizendo que acabou sendo fácil pra todos perceberem que ali na mesa eles tiveram mais dúvidas do que certezas.
Depois de mais de cinco horas no MIS, antes do show que encerraria o evento, fomos ao ponto de ônibus, eu, Mariana e a pequena Laura, de volta pra casa.
Em sua matéria no Estadão, o jornalista Pedro Antunes afirma que a Balaclava é a empresa a promover a primeira feira dedicada a espalhar projetos de profissionais como eles.
“De profissionais como eles” eu não saberia dizer, nem se é a primeira empresa a fazer isso, mas antes da Sacola Alternativa já tivemos feiras de selos independentes em São Paulo, com toda certeza (aqui mesmo, neste texto, já foi mencionada a Mostra de Cultura Independente de 2000; outro exemplo é a feira que teve pelo menos duas edições entre 2011 e 2012 na Hotel Tee).
O pioneirismo da Sacola, ao meu ver, deveria ser a construção de um senso de comunidade entre os que atuam na chamada cena independente, a discussão direcionada à formação de público e a conscientização de que ser independente é ralar sem esperar ajudas vindas de cima. Isso sim teria sido algo inédito numa feira do gênero, e pra isso não seria necessário apoio de Governo do Estado nem cobertura da grande mídia.
Estou muito curioso pra ver outras impressões sobre como foi a Sacola. Fico contente por ver gente satisfeita comentando no Facebook. Que venham outros eventos e projetos, sei que posso parecer rancoroso pra muitos mas não é mesmo esse o caso aqui. Torço pra evolução da cena independente, pra que degrau por degrau o senso de comunidade que alguns conseguem ver lá fora possa ser trazido pra cá, deixando a mística pra quem gosta de mística e deixando vontades de parcerias com majors pra quem gosta de ser dependente e assume isso.
Dotta disse em entrevista pra Folha que “o mercado muda constantemente. Será uma troca de figurinhas bem interessante. (…) Estamos fazendo na raça, sem patrocínio. Mas acho que as coisas têm seu tempo”.
Eu aqui neste primeiro texto pra cosmoPOPlitan, não sei se entendi o que Dotta quis dizer (afinal, essa vontade de receber ajuda vinda de cima não deu muito certo até agora pros independentes – a não ser para alguns poucos, isoladamente), mas mesmo assim, lhe devo meus parabéns pelo empenho e pela boa vontade.
O amador aqui se despede por enquanto.
Até a próxima cosmoPOPlitan!
Yeah!
Entrei no link com a “centena de discos” para vender no Mercado Livre, mas não encontrei nada por lá, só umas aparelhagens de som.
(tentando arrumar)
Arrumado.
Hey Cesar. Leyendo te puedo asegurar que esas inquietudes son compartidas en todas partes. En Montevideo es igual, apesar de la diferencia de tamaño. Y acá por ejemplo hay tres lugares donde tocar, con suerte. Me gustó mucho leer tu texto.
Esperaremos los próximos. Abz!
Paulo, obrigado pelo comentário!
Sim, as cenas em diferentes partes demonstram semelhanças e diferenças, mas sempre haverá problemas e perspectivas para melhorar.
Abs!
Triste um blog tão legal quanto o Floga-se abrir espaço para um texto ignorante, pessoal, parcial e sem fundamento algum
Paulo Bastos, você considerar meu texto pessoal, eu entendo perfeitamente, afinal eu sempre tento escrever textos pessoais, deliberadamente.
Mas parcial? Como eu poderia escrever um texto de opinião imparcial?
E você comentar “ignorante” e “sem fundamento algum” (que poderiam ser interpretados como sinônimos) e ao mesmo tempo não dizer o motivo nem apontar como você acha que deveria ser, olha, não ajuda em nada, mesmo.
Confesso que o evento despertou curiosidade, mas infelizmente não pude comparecer. Minha curiosidade era mais relacionada ao modelo de negócio dos selos, ao que cada um anda fazendo, mas infelizmente me parece que este aspecto não foi discutido com muita profundidade durante as mesas redondas…
Seria bem legal entender em linhas gerais, quais investimentos os referidos selos exigem, quais são as formas e atividades através das quais eles geram retorno, etc. Talvez incentivasse algumas pessoas a colaborar com algum deles ou até mesmo iniciar algum. Penso também que se alguma eventual “major” tivesse uma clara idéia desses números e modus operandi, talvez ficasse mais aberta a conversas… mas acho que os pontos abaixo também merecem discussão:
– Por quê as majors teriam interesse em artistas independentes? As majors, como empresas cujo interesse é única e exclusivamente gerar lucro, teriam que tipo de retorno em uma “parceria” destas?
– Seria este mesmo o caminho? Hoje vemos muita gente fazendo o caminho inverso, sem contar outros artistas que experimentam com modelos diferentes de distribuição, sem contar com auxilio das majors… O envolvimento de uma “major” eliminaria o risco de um fiasco, na maior parte dos casos? Penso que as pessoas que deveriam estar sendo atingidas pelo alcance dos selos independentes já o são, o grande ponto para uma parte dessas pessoas é se interessar pela proposta dos artistas… coisa que não aconteceria necessariamente caso majors estivessem envolvidas.
– Poderiam ter sido citados exemplos mais concretos desta parceria majors x independentes lá fora, conforme foi falado durante uma das mesas redondas, tentando observar as características destas parcerias que contribuíram para o sucesso das mesmas, e que poderiam eventualmente ser adotadas para o mercado brasileiro.
Rafael, obrigado pela participação.
Seus pontos 1 e 3 são interligados, então respondo os dois ao mesmo tempo: Na minha opinião, e tentei deixar isso claro na coluna, as majors só teriam interesse em algum artista ou selo independente caso não houvesse comprometimento de sua motivação (que é o maior lucro financeiro possível com a manutenção das coisas como elas são – isto é, as majors continuando a ser majors e dominando a indústria). Isso é justamente o oposto do que um artista ou selo independente busca para si e para a música como um todo e é por isso que não vemos artistas ou selos independentes em parceria com majors, pois quando uma parceria dessas acontece o independente deixa de existir, passando a se tornar dependente da major.
Seu segundo ponto é muito pertinente. Hoje com a internet e demais tecnologias (para produção de áudio etc) o público depende muito menos das majors para descobrir e consumir música. Há perspectivas excelentes para a construção de relações produtivas, criativas e sadias entre artistas e entre artistas e público.
Bem, eu posso até ser suspeito para falar aqui (considerando que estou comentando essa postagem com um notável atraso, talvez nem tanto), sou admirador das coisas que você tem se envolvido, Cesar (seja bandas, empreendimentos como o Walden e o selo ou o cosmoPOPlitan) e coaduno com seu pensamento. Vivemos um dilema que reside no desejo de estabelecer um mercado paralelo subsistente e pagar as contas. Aí que vemos prosperar este raciocínio da “ajuda que vem lá de cima”. Ou o “do público que não vai lá prestigiar os músicos independentes” (como se a culpa fosse da pessoa que não quer sair da sua casa ou prefere ver bandas cover na Vila Madalena e na Augusta) ou “os produtores precisam ajudar as bandas novas”. Sou partidário do pensamento construtivista e autônomo que baseia-se na ideia do “as pessoas não querem me ouvir, mas eu me farei ser ouvido”, “se os produtores não me ajudam, então, eu produzirei” e por aí vai. E bota “por aí” nisso. Para se estabelecer isso por aqui, demoraria décadas, considerando-se muito trabalho e dedicação de todos os envolvidos: bandas, produtores, agenciadores, etc. Hoje, o sonho mediato do músico independente é chegar naquele patamar de pagar as contas com cachê de Sesc. Entendo quem pensa assim, mas não gosto de pensar que está aí uma solução. Esqueçamos as majors, o poder público ou entes privados com outros interesses implícitos: não somos os produtos que as majors querem vender (o que para mim é uma virtude) e eu prefiro que o poder público fomente outras iniciativas, assim como, prefiro que os produtores independentes tenham as mesmas condições de um Sesc para produzir shows. Tudo isso, pode soar utópico, mas não creio em instituições que te proporcionem meios de consolidação da produção independente (o que, por si só, soa controverso).
Bem, pelo menos, a existência de pessoas interessadas no diálogo ou no debate fundamentado, por ora, alimenta uma certa esperança e mantém nosso desejo de produzir na ordem do dia.
Bom poder ler os seus textos (além do Facebook), Cesar.
Um grande abraço.
Obrigado Dija!
Cara, lendo seu comentário eu fiquei intrigado, pois meu ponto é justamente defender a independência…
Você comentou como se estivesse discordando mas seu comentário defende os mesmos princípios do meu texto…
Isso deve demonstrar que não consegui me fazer entender, que meu texto não foi bem sucedido em passar a mensagem que eu queria…
🙁
Enfim, grande abraço pra você!
Cara, você é foda. Excelente texto. Parabéns. Notei que a negatividade apareceu por aqui querendo te derrubar, em vez de somar. Lembrei dos brasileiros criticando o futebol do Neymar no Barcelona. A inveja é uma merda. Continue escrevendo. A música precisa de caras como você. Independente é independente. Major é major. Ponto final.
Juninho P.A.