Depois de mais de três meses fazendo busking em Perugia – ao fim de um 2016 marcado por mudanças, aprendizado, saudades, altos e baixos abissais – em janeiro último, fui pra Londres.
Em fevereiro, vim pra Bristol e só depois de começar a trabalhar no hospital é que parei de sentar nas calçadas pra tocar e cantar em troca de sorrisos e moedas com as quais sobrevivi.
Então nasceu o Holiday Busking, projeto que une mochilão e busking; com o ukulele debaixo do braço, nas férias, eu vou pra cidades diferentes. Meu último texto aqui foi anterior à primeira viagem Holiday Busking, que aconteceu em julho, quando passei por Croácia, Bósnia, Sérvia, Bulgária e Espanha. Agora, no início de 2018, vou pra Romênia, Moldávia, Ucrânia e Holanda.
Pois então, deixei de ter contato diário com os artistas de rua de Bristol, que são muitos e de variados estilos (principalmente nos arredores de Cabot Circus e Bear Pit) e passei a frequentar venues, onde me deparei com uma cena plural e vibrante, que me surpreendeu.
Vi shows até mesmo de artistas independentes brasileiros, como Bike e Nomade Orquestra.
Também vi shows de artistas gringos consolidados e mais conhecidos, como Avalanches e Magnetic Fields, em venues maiores ou com mais estrutura, mas este texto é pra apresentar alguns dentre os muitos artistas, venues, selos e veículos independentes do sudoeste inglês. Isto é, artistas novos e/ou ainda não reconhecidos comercialmente e agentes de pequeno e/ou médio porte, atuantes aqui na região (Bristol e arredores).
O CEP no Reino Unido é composto de letras e números. Neste 2017 morei nos seguintes: BS6 e BS2. Daí a brincadeira no título.
Sem mais delongas, eis os shows de que mais gostei aqui entre março e outubro passados:
SPECTRES (Facebook)
Quarteto barulhento, muito barulhento. Meio Jesus & Mary Chain em 1984, melodias soterradas e tal (quero dizer, melodia, voz, baixo, tudo soterrado por guitarra). A banda já está na ativa faz uns aninhos. Ouça o disco mais recente, de 2017, “Condition”, clicando aqui.
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THE EVIL USSES (Facebook)
Eu não sabia se eles estavam improvisando ou não. Impressionante. Jazz bruto, psicodelia pesada, rock instrumental torto. Quarteto com guitarra, baixo, bateria, sax e teclado. A diversidade se traduz até na etnia dos integrantes; um deles, Lorenzo, me disse que gosta muito de Hurtmold.
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TARA CLERKIN BAND (Facebook)
Um Velvet Underground hippie, algo estranho e bonito demais. A Tara me fez pensar em Moe Tucker, Jonathan Richman e também em Nico. A banda se apresenta em ocasiões diversas com nomes diferentes, pois cada show mostra as composições de apenas um dos integrantes. Parece coisa de doido, né? O disco de 2017 chama-se “Hello” e você pode ouvir aqui. Segura aí que já conto como descobri.
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AGARIMO (Facebook)
Este quarteto é outra banda formada em Bristol com integrantes nascidos fora da Inglaterra. Canções coesas, pós-punk e psicodelia suja.
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PLUME OF FEATHERS (Facebook)
Um cantor-compositor escocês radicado em Bristol chamou músicos locais, dentre eles o baterista da reunião dos Flatmates, pra gravar um disco conceitual, sobre um dos tantos pubs que estão fechando as portas nos últimos anos no Reino Unido, visando preservar essa tradição. O pub homenageado contava 238 anos de funcionamento, deu nome ao disco e então à banda. O som me transmite influências de indie rock/pop e folk-rock, e o show conta com projeções visuais feitas sob medida.
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SPRINGBREAK (Facebook)
A vocalista, guitarrista e compositora Kate Stapley me faz lembrar da Courtney Love. A banda se autodenomina punk-rock mas acho que está mais pra pós-punk ou new wave, com visual glam.
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KARL BAND (Facebook)
Uma surpresa e tanto: era a Tara Clerkin Band! Só que agora a Tara não estava no centro do palco, era o Karl à frente. Show intimista e inspirado(r). Depois, na mesa do jardim, enquanto tomávamos cerveja, eles me contaram como o grupo muda de nome de acordo com a titularidade da autoria das canções apresentadas.
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/PLEASE/ (Facebook)
O trio mais tímido/anti-social/nerd do pedaço. Show intrigante, canções minimalistas, de matriz eletro-acústica. Clique aqui e ouça o “e. p”, de 2013.
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DOUBLE DENIM (Facebook)
Um shoegaze dreampop muito lo-fi. Show intimista com drum machine sem programação, isto é, os pequenos pads sendo tocados com os dedos. Pra ouvir o single duplo “Overwhelmed” / “A Bad Feeling”, com quatro canções, clique aqui.
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HOLLOW MASK (Facebook)
Duo de noise pop com bateria eletrônica e pegada garageira. Raveonettes e Jesus & Mary Chain na veia. Pra ouvir o EP “Survive In Disguise”, lançado em maio de 2017, clique aqui.
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THE CHARLIE TIPPER CONSPIRACY (Facebook)
Banda atual do pessoal do Flatmates, com integrantes de bandas como Beatnik Filmstars, Groove Farm e Harpoons. O clássico som C86. Eles gostam de mudar o nome da banda, sempre tratando do mesmo personagem; o nome atual é Arrest! Charlie Tipper – e é com esse nome que assinam o mais recente EP, “The Network”, que você pode ouvir clicando aqui.
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E agora três menções honrosas: Lice (Facebook) (já falei deles aqui), Secret Shine (25 anos depois, decidiram voltar e o show foi lindo) e Beak> (banda em que Barrow, do Portishead, toca bateria).
Aqui as venues onde mais me senti em casa:
The Old England (Facebook)
Quase uma segunda casa pra mim. Pub com dois andares, mesa de sinuca e amplo jardim. Palco minúsculo, esquema lo-fi, cerveja a preço honesto, vibe progressista, tudo do jeito que eu gosto. Disparado o local onde mais vi shows desde que vim morar aqui, dentre os quais Blue Orchids e Ducktails.
The Crofters Rights (Facebook)
Um dos locais mais hypados daqui, pub descolado com palco um pouco maior do que o do Old England, cervejas locais e mesa de pebolim.
The Louisiana (Facebook)
Pub tradicional e relativamente apertado, onde incontáveis artistas famosos tocaram no começo de carreira (Placebo, Chemical Brothers, Coldplay, Strokes, Muse, White Stripes etc). Há mais de 25 anos apresentando shows de artistas novos/pouco conhecidos/pequenos, de Bristol e de fora, quase todos os dias da semana. Tive o prazer de tocar lá em 2010 com In Cases.
Exchange (Facebook)
Casa de shows de médio-porte, com o maior palco desta lista. Bar/café na frente e loja de discos/selo/produtora no andar de cima. O show do Loop que eu vi ali foi absurdamente alto, o que muito me agradou.
– The Fleece (https://www.facebook.com/fleecebristol/)
Casa de shows de médio porte, com cara de pub, bar comprido, na ativa desde 1982. Bandas como Oasis, Radiohead e QOTSA tocaram ali em suas primeiras turnês. Dancei um monte no show do !!! que vi ali (foto abaixo).
The Canteen
O reduto intelectual e progressista de Bristol. Parece uma cooperativa, cruza entre centro cultural, jazz bar e restaurante de colônia de férias. Cardápio com opções vegetarianas e shows de artistas dos mais variados estilos e de várias partes do mundo.
A seguir os selos com que mais senti identificação:
Stolen Body Records (Facebook)
Provavelmente o selo independente mais ativo de Bristol, que funciona também como loja e produtora. O mentor do selo, Alex, toca no Yo No Se, produz muitos eventos (dentre os quais o Bristol Psych Fest), lança muitas bandas de vários lugares e diferentes estilos, com predominância em psych/garage rock.
Art Is hard (Facebook)
Selo independente com etos semelhante ao da Factory. Trouxeram o Beach Fossils pra encabeçar o lineup do festival de comemoração de sete anos de atividade. Lar do Gorgeous Bully de Manchester, que abriu o show do In Cases no Louisiana, que mencionei acima.
Howling Owl Records (Facebook)
Selo e produtora do pessoal dos Spectres.
Gravy Train (Facebook)
Funciona mais como produtora de shows, mas se auto denomina selo.
Leisure Records (Facebook)
O mais novo selo independente de rock em Bristol, conta apenas dois lançamentos.
E para fechar, aqui alguns nomes que posso agrupar sob a categoria ‘vários’:
Bristol Gigs! (Grupo no Facebook)
Grupo de discussão no facebook. Fonte valiosa de informações sobre shows, novos eventos e lançamentos.
Rise (Facebook)
A loja de discos de rock de Bristol. Entraram em parceria pra abrir uma filial da Rough Trade na cidade. Funciona também como espaço pra shows e já lançou pelo menos um disco (uma coletânea com bandas locais – inclusive contidas na minha lista aqui acima).
Bristol Live Magazine (Facebook)
A revista pra quem mora em Bristol e curte música. Apresenta artistas e eventos, com resenhas, entrevistas, artigos e classificados.
Deixo claro que Bristol tem muito mais a oferecer pra quem gosta de música, esta seleção aqui é fruto de meus gostos e minhas preferências em particular, de acordo com minhas possibilidades (pois haja tempo e grana pra acompanhar tanta coisa acontecendo).