Esta coluna recentemente completou cinco anos de existência, graças ao incansável Fernando e ao nosso amor à música, mas seus 17 textos publicados (contando com este) já transparecem o caráter esporádico da empreitada; pois bem, outro recorde: estou aqui quebrando um hiato de mais de dois anos!
Desde a adolescência listas me fascinam, tomei gosto pela leitura com os dois últimos volumes da enciclopédia Abril que jazia na estante da sala da casa em que morava com meus irmãos e nossa mãe, dedicados a curtas entradas biográficas de figuras e personalidades da história da humanidade; depois aprendi a tocar violão com as revistinhas de cifras das bancas de jornais; então aprendi sobre as cenas musicais, os músicos e suas obras e histórias, primeiro através da Bizz, então através dos fanzines brasileiros dos anos 1990 e depois também das publicações inglesas e de fanzines gringos. Haja lista. Uma delícia.
Lembro com carinho da empolgação ao acompanhar as listas de melhores discos a cada ano que passava, além das inúmeras matérias especiais listando obras, artistas, eventos e cenas. Melhor ainda era devorar as mixtapes trocadas entre os amigos, gravadas nas lojas de discos da Galeria do Rock em São Paulo, nas lojas Blaster e aquela que o Oswaldo Piggy gerenciava, em Santos, e dos programas de rádio do Kid Vinil, Jose Roberto Marr, dentre outras fontes mil, e então bater papos infinitos, escutando e contando casos e episódios, próprios e alheios.
Num segundo momento, ao tocar em bandas, publicar fanzines, produzir e lançar gravações musicais, organizar eventos etc., passei a fazer listas também.
Nem estou só me referindo às tracklists de demos/álbuns ou índices de fanzine, que afinal também são listas; foram muitas as listas de artistas ou discos favoritos que fiz no decorrer dos anos, também pra participar de enquetes ou votações, a partir dos 1990, a pedido de fanzines (Woods Mind/O Bosque, Make no Sense, Esquizofrenia, Scream & Yell, Imaginary Friends etc.), algumas vezes revistas/jornais, programas de rádio, depois websites, blogues, e principalmente pra amigos e pra mim mesmo (desde que entrei no caralivro, em 2008, venho fazendo e publicando listas várias no meu perfil).
Acontece que esse monte de listas que eu fiz foram ficando pelo caminho, jogadas pra cá e pra lá.
De alguns anos pra cá, meu filho Lauro é que começou a fazer listas muito bacanas, mas as dele são no formato playlist, seja no YouTube ou no Spotify. Volta e meia, saboreio as listas dele com muito prazer e orgulho.
Agora na quarentena um amigo me convidou a participar de um desses joguinhos no caralivro, de postar as capas dos meus dez discos favoritos, aqueles que foram fundamentais para minha formação, que transformaram meu modo de sentir música.
Como eu tinha tempo, parei pra pensar, re-escutei discos depois de anos sem qualquer contato; acabei postando vinte capas ao invés das dez esperadas, e ainda fiquei bastante descontente, haha.
Então comecei a passear nas poucas listas minhas que consegui encontrar, depois passei a visitar listas célebres (das revistas e dos websites especializadas/os), chegando enfim em livros como o “1001 Albums You Must Hear Before You Die”, do Robert Dimery (originalmente lançado em 2007; a edição brasileira é da Sextante, de 2008).
Decidi montar a minha lista definitiva de discos favoritos: A lista. Aquela.
Sabe, como uma mensagem na garrafa atirada ao mar, mas além disso, especialmente pra Laura, tanto pra que ela possa descobrir música pra levar consigo no coração, quanto também pra conhecer mais seu pai.
Passei semanas imerso numa jornada prazerosa de resgate, de pesquisa e muita audição. E ainda estou nessa.
Iniciei um blogue no WordPress e venho postando os discos da minha lista dia após dia (acesse aqui), sempre que tenho algum tempo disponível (afinal, minha dedicação principal segue sendo a pequena Laura, além de eu ter seguido trabalhando no decorrer da quarentena por ser o que o governo aqui chama de trabalhador essencial).
Quando comecei a postar os discos no blogue minha lista contava 550 álbuns. Acontece que, ao postar, volto a escutar os discos e isso leva de um disco a outros; até agora postei menos de 400 discos no blogue, mas a lista cresceu pra mais de 700 e minha previsão é de que vai seguir crescendo.
O Floga-se é um precioso tesouro pra quem, feito eu, gosta de listas. Não é a toa que me sinto em casa.