Já fazia um bom tempo que eu não dava as caras por aqui. Muita coisa aconteceu, muitos episódios e textos que eu queria ter escrito a respeito aqui, mas decidi voltar com minha banda véia Magic Crayon e comecei a tocar bateria com o Bruno e o Daniel pra formarmos o OVONOVO, além da faculdade, a pequena Laura etc.
Quando o Fernando me procurou pra sondar a possibilidade de eu escrever uma coluna, lá atrás bem antes da primeira edição da cosmoPOPlitan aqui no Floga-se (enquanto o Espaço Cultural Walden ainda estava funcionando, creio), ele sugeriu que minha coluna fosse um repositório pra causos e histórias enquanto vivi fora do Brasil – entre 2004 e 2008 morei na Itália (viajei bastante, escrevi, toquei muito pouco em casa e vi muitos shows) e entre 2008 e 2011 morei na Inglaterra (viajei bastante, voltei a tocar com força total, voltei com meu micro selo DIY e vi muitos shows).
Mas minha ideia pra coluna era um espaço onde eu iria comentar a cena independente brasileira, fazendo paralelos com o que vi e vivi lá fora.
Tempos depois a ideia da coluna voltou, Fernando me procurou e acabamos engrenando, mas a cosmoPOPlitan acabou mesmo destituída de causos sobre o que vi e vivi enquanto estive fora.
Talvez seja porque ainda pretendo escrever sobre esses causos todos no sucessor do meu livro “360 Graus” (escrito em 2006, enquanto morei na Itália e lançado num esquema totalmente DIY-lofi em 2012).
Porém, no dia 14 de setembro agora, eu vi algo que me despertou a vontade de contar meus causos enquanto vivi fora do Brasil!
A primeira vez que tive contato com a banda mineira Lupe De Lupe foi através do pessoal do então selo Popfuzz, de Maceió, que entrou em contato com o EC Walden pra marcação de um show pra Lupe De Lupe e Quase Coadjuvante, em julho de 2013. O nome do evento? cosmoPOPlitan party! 🙂
Nesse dia, além de Lupe De Lupe e Quase Coadjuvante, tocou também o uruguaio Paulo Amorin; houve a participação do Jair Naves no show da Lupe De Lupe; e foi nesse dia que o teto do porão do Walden caiu pela segunda vez!
Foi uma daquelas ocasiões onde a euforia e a empolgação crescem desproporcionalmente e as coisas ficam um pouco fora de controle.
O rock desses mineiros é melodioso, mas visceral e empolgante mesmo.
Ao final do evento, na hora de acertarmos a bilheteria, eles ainda demonstraram ser pessoas consideradas, inclusive bancando parte dos danos. Sim, foi inesquecível.
Pois bem, entre 12 de julho e 4 de setembro de 2015 a Lupe De Lupe fez shows em cidades de Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas. Sim, 12 estados, 23 cidades, 24 shows, 53 dias e muitos milhares de quilômetros.
O nome dessa turnê é bem sugestivo: “Sem Sair Na Rolling Stone”. A arte do flyer também, simples e feita por eles mesmos.
Os caras tocaram com uma porção de bandas independentes em lugares independentes.
Os longos deslocamentos foram feitos num carro (exceto a parte final no nordeste onde acabaram usando avião também). Sem tipo algum de suporte vindo do mainstream, tudo na base do DIY mesmo.
Dez dias após o fim da turnê “Sem Sair Na Rolling Stone”, a banda postou em seu site o diário da tour inclusive com prestação de contas. O texto é informal e claro.
Foi algo lindo demais, um exemplo do que eu venho dizendo aqui desde o início.
O relato me fez lembrar das turnês que eu fiz na América do Norte em 2009 e na Europa em 2010.
O relato me fez lembrar de um monte de banda legal que eu vi nos venues independentes espalhados pela Europa e América do Norte, sob condições análogas entre 2005 e 2011.
O relato me fez lembrar do monte de bandas de várias partes do Brasil e do mundo que passou pelo EC Walden entre 2012 e 2014, fazendo shows lindos, apesar dos pesares, e seguindo adiante.
Desde que eu comecei a tocar, lá atrás em 1991, eu sempre quis tocar em vários lugares diferentes e viver música de forma integral – o que ocorre plenamente quando se está em turnê. Entre 1991 e 2009 eu nunca consegui concretizar plenamente esse sonho, pois nunca me envolvi com pessoas dispostas a embarcar nessa nas bandas com que toquei (com raras e discretas exceções, como as mini-tours que o Magic Crayon fez no Sul e SP e no Centro-Oeste, entre 2000 e 2001).
Mas entre 2009 e 2010 eu finalmente pude sentir plenamente esse gostinho de estrada e precariedade e sons e diversão e sorrisos e brigas e imprevistos e satisfação.
O Gilberto Custódio Jr, idealizador do fanzine Esquizofrenia, ex-baixista do Magic Crayon e dono da Locomotiva Discos em São Paulo, fez uma longa entrevista comigo na Inglaterra, depois que voltei da turnê norte-americana.
Ali eu fiz um relato sincero e honesto, simples mas longo, da tour, mais ou menos do jeito que a Lupe De Lupe fez agora.
Como o Gilberto tinha parado com o fanzine, essa entrevista nunca acabou sendo publicada. Ele até tentou conversar com a Ana Garcia pra que fosse publicada no Coquetel Molotov, alguns anos atrás, mas não virou.
Um baita causo, sem glamour e sem fama, mas de verdade, assim como essa tour da Lupe De Lupe, realmente, sem sair na Rolling Stone.