Parecia uma coisa passageira. Não é.
Não estou falando da crise que assola o país de uma forma ou de outra desde 1500 (depende dos desejos de venda da imprensa ou da classe dominante). Estou falando do Crusader De Deus, trio do Rio de Janeiro, que lançou seu primeiro EP em outubro de 2015, “Relações Públicas” (leia a matéria aqui), discutindo a dívida pública brasileira, a opressão dos bancos, esse tipo de coisa que nunca é tema de bandas subterrâneas.
Eram músicas com pouco mais de dois minutos, no máximo, uma urgência que contrapõe com a necessidade de debate e reflexão sobre o tema.
Mas Clara Zettel (bateria), Gabriel Guerra (vocal e guitarra) e Thiago Rebello (baixo) seriam ainda mais objetivos. Em abril de 2016, chegou o segundo EP, “Juros Perfeitos” (leia e ouça aqui), mostrando que o pós-punk do trio não era uma marolinha. Mais três músicas, só que agora com bem menos que dois minutos.
Finalmente, em 26 de abril de 2017, num lançamento compartilhado entre a Balaclava e a Dama Da Noite Discos, o trio volta a investir no tema, abordando a desigualdade e a crise financeira: é o terceiro EP, “Clássicos Republicanos”. Mas agora, é um quarteto: tem participação efetiva de Renato Godoy (Chinese Cookie Poets). E agora são quatro canções, uma delas com mais de cinco minutos, o que mostra um desenvolvimento mais na forma do que no conteúdo, embora o pós-punk classicão ainda esteja bem presente e marcante, como na ótima “O Abismo”, que fecha o EP.
O Crusader De Deus é um caso raro no subterrâneo nacional: temas atualíssimos pra mentes que parecem pouco se importar, cantados por uma banda que também parece pouco se importar consigo mesma, mas que parece que veio pra ficar, como as eternas crises do capitalismo “moderno”.
Ouça aqui:
O disco foi gravado por por Gabriel Cavalcanti, em agosto de 2016, com mixagem pelo próprio Gabriel Guerra e masterização de Myriam Moreira. A arte da capa é de Pedro Keppler.
1. Relações Públicas
2. Royalties De Peregrinação
3. Milhões De Brasileiros
4. O Abismo
A foto que abre o artigo é de autoria de José “O Guim” Cafil, retirada do Facebook da banda.