Eu ouvi os primeiros segundos de “Saindo De Cena”, trabalho de Carlos Otávio Vianna, o Depressa Moço!, e logo ali minha cabeça já me levava a um único nome: The Art Of Noise.
O grupo inglês de experimentações eletrônicas, com sintetizadores, colagens e batidas metálicas é o paralelo mais perfeito pro Depressa Moço! de “Saindo De Cena”. As três primeiras canções, “Hell De Janeiro”, “Um Café Na Padaria” e “Assim Disse Billie”, seguem mais ou menos a mesma receita, mas Vianna não se resume a isso.
Ele apresentas dedilhados singelos em “Sonic Fruits” (cantando em inglês), “Boa Noite” e na já conhecida e bonita “Entrelinhas”. Um folk orgânico, mas não puro.
O artista também declarou ter a inspiração de seu trabalho em “Endtroducing…”, clássico do DJ Shadow, de modo que “Naturando”, “Insônia”, “O Método” e “… (Brincadeira de Criança)” ainda acrescentam boas passadas de trip-hop e experimentação, o que deixa o resultado ainda mais saboroso – a última faz bem jus ao nome.
“Saindo De Cena” tem intenções conceituais – em foco, o cinema – mas o tema não é exatamente explorado com segurança. Com certo esforço de exploração além das obviedades (o cinema infantil, os insones filmes da madrugada e as despedidas das sessões-coruja, as lembranças…), é possível fazer ligações pra manter o assunto sustentável. Entretanto, é melhor ouvir a obra sem tal preocupação.
Um bom exemplo são as colagens de José Wilker em “Está Na Hora De Mudar Senão, Bye Bye Brasil!”, que soam bem atuais na loucura política brasileira dos anos 2010.
Vianna tem a mão pesada, não soa muito sutil, mas há elegância nas suas execuções de ideias que parecem não ser bem aplicadas. Está aí a graça do disco – bem como do anterior, o apetitoso “Música Para Comerciais, Curtas Metragens & Outras Coisas”, de 2016: o inusitado, o acaso, o certo-pelo-torto, como um filme de baixo orçamento que acabou nas graças do público e se tornou uma pérola, exemplos assim não faltam nem no cinemão, nem na música.
É um disco longo, com dezesseis faixas. Duvido que nos dias de hoje alguém escute de cabo a rabo uma obra desse comprimento, mas vale o exercício, até os créditos finais – que assinam o próprio Vianna com composições, execução e produção, exceto em “Boa Noite”, que é co-produzida por Eric Brandão.
Há participações especiais de Eric Iozzi (teclados e baixo, em “Entortando”), Mário Alencar (guitarras, “Lembrança”) e Claudio Teófilo (guitarra e vozes, em “Eita Loucura, Vou na Fé!”).
Depressa Moço! é um caso bem interessante da produção subterrânea nacional: é uma mente madura, com boa bagagem referencial, em instigante busca pelo “novo”, ao invés de revolver o passado e suspirar memórias sonoras. “Saindo De Cena”, apesar do título sugerir uma “desistência”, é mais uma “resistência” pela voz, pelo som, pela criação. O artista se exercita, se mexe e desafia a si próprio. O resultado se dá com uma mistura disso. Que a luz, então, não se apague.
01. Hell De Janeiro
02. Um Café Na Padaria
03. Assim Disse Billie
04. Entortando (com Eric Iozzi)
05. Naturando
06. Dãããã… Que Fácil! (Brincadeira de Criança)
07. Sonic Fruits
08. Insônia
09. O Método
10. Saindo De Cena
11. Lembrança (com Sketchquiet)
12. Está Na Hora De Mudar Senão, Bye Bye Brasil!
13. Na Beira Da Praia
14. Boa Noite
15. Entrelinhas
16. Eita Loucura, Vou Na Fé! (com Cláudio Teófilo)
O trabalho reflete a alma do artista. Talvez na época de música para comerciais….eu estivesse mais leve, enamorado com a idéia de fazer música sozinho.
Depois de um ano complicado onde a cabeça ficava cheia e pesada a música ficou mais dark.
O cinema faz parte de minha “formação cultural ” e talvez apareça nas músicas, mas sem ser tão pensada.
O trabalho ficou longo pois acabou sendo lançado depois do esperado, aí mais idéias foram surgindo e mais músicas foram encaixadas.
As idéias não se esgotam, mas há necessidade de buscar novas formas de fazer música, acho que essa etapa como depressa moço precisa de um tempo ou uma repaginada.
Queria te agradecer Fernando e ao floga-se, pela matéria e atenção ao trabalho do DM!
Agora é dar um tempo para buscar inspiração para uma nova etapa.
A primeira etapa, perder o medo de fazer música sozinho e mostrar para um público desconhecido já foi.
Gde abc
O paralelo com filmes de baixo orçamento foi fantástico! Kkkk
Eu adoro filmes assim.
E eu tenho consciência que minha música e assim, elas são feitas no ipad 2, e sem muito tempo nem técnica para refinamento.