DEZ CAPAS DE DISCOS CRIADAS POR PETER SAVILLE

Peter Saville nasceu em 9 de outubro de 1955, em Hale, Manchester. Estudou design gráfico na escola politécnica de Manchester. Conheceu Tony Wilson, o fundador da Factory Records, num show de Patti Smith e a parceria foi nascendo.

“O lado visual da Factory acabou sendo minha responsabilidade”, ele lembra em entrevista. Joy Division, Durutti Column, New Order, A Certain Ration, Section 25 e, pra além da Factory, OMD, Electronic, David Byrne, Peter Gabriel, Ultravox, Pulp, Roxy Music, Beth Orton, King Crimson, Wham!, Everything But The Girl, Björk, Marianne Faithful, Suede, Ilya, Lotterboys, todos passaram pelo olhar e criação de Saville. Aqui você pode ver toda a coleção de capas que ele produziu, desde 1978.

Embora sua arte esteja intimamente ligada ao New Order e ao Joy Division – suas obras mais marcantes são pra essa discografia -, Saville foi ampliando rapidamente seu alcance. Hoje, trabalha pra cidade de Manchester.

“Alice, minha assistente, não gosta quando uso a palavra ‘aposentado’, porque não é precisa, mas há uns dez anos me afastei formalmente do trabalho comissionado. Eu não consigo nem operar nenhum dos programas de design. Consegui, finalmente, tentar seguir meu próprio caminho por não ter um negócio pra administrar. Em 2003, aceitei que meu futuro estaria no lado da arte, em vez do lado do design, mas logo percebi que realmente não sabia nada sobre arte”, ele diz.

Mesmo assim, ele recebeu a prestigiosa medalha “London Design”, em reconhecimento de seu status como o mais famoso designer gráfico do Reino Unido.

Aposentado ou não, seu nome é praticamente o único no campo que pode desencadear um lampejo de reconhecimento em alguém que não é membro do Design Museum. No entanto, os desenhos onde repousam a reputação de Saville já completam entre 25 e 35 anos: o diagrama das ondas de rádio de um pulsar na capa de “Unknown Pleasures”; as fotos de tumbas em “Closer” e no single “Love Will Tear Us Apart”, que parecia ter um poder estranho e precognitivo após o suicídio do cantor Ian Curtis; a réplica cortada de um disquete e a reapropriação de “A Basket Of Roses”, de Henri Fantin-Latour, que abrigava “Power, Corruption And Lies”, do New Order. São todas capas de discos, “uma arte morta” que ele diz que não tinha interesse em prosseguir após os trinta anos.

Referência, ele é um dos poucos cujas capas são imediatamente reconhecidas. Ele faz parte da obra, tanto quanto a música, os títulos, os músicos.

Aqui, temos dez dos seus mais significativos trabalhos, muitos deles comentados e com bastidores contados pelo próprio Saville, em livros, entrevistas e artigos especiais. Se você quiser se aprofundar, há um livro interessante sobre a arte da Factory, chamado “Factory Records – The Complete Graphic Album” (veja aqui), compilado por Matthew Robertson e lançado em 2006.


JOY DIVISION – UNKNOWN PLEASURES (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1979

Peter Saville: “Esta foi a primeira e única vez que a banda me deu alguma coisa que eles quisessem numa capa. Fui ver Rob Gretton, que empresariava a banda, e ele me deu um material que continha a imagem da Enciclopédia de Astronomia de Cambridge. Eles me deram o título também, mas nem cheguei a ouvir o disco. A imagem da onda era certeira. Vinha do CP 1919, o primeiro pulsar. É ao mesmo tempo técnico e sensual. É curta, como a bateria de Stephen Morris, mas também é fluida: muitas pessoas pensam que é uma batida de coração. Além do mais, ter o título na frente não parecia necessário. Perguntei a Rob sobre isso e, entre nós, sentimos que não era uma coisa legal de se fazer. Era o momento pós-punk e tudo era contra o estrelato exagerado. A banda não queria ser pop stars“.

Superficialmente falando, a CP 1919 foi uma descoberta de Jocelyn Bell Burnell e Antony Hewish, em 28 de novembro de 1967. A dupla notou pulsos de ondas de rádio separados por 1.33 segundos, que vinham da mesma localização no espaço, na constelação de Vulpecula, conhecida como a Raposa. Logo eles descobriram, pra infelicidade das imaginativas mentes criativas ao redor do mundo, que aqueles pulsos não eram feitos pelo homem, nem por instrumentos ou emissores construídos. Não era uma civilização alienígena tentando contato com quem quer que seja, mas uma estrela que emitia radiação e círculos – quando ela virava pra direção da Terra, era captada pela dupla. A primeira nomenclatura do sinal dá ideia de como a dupla gostaria que fosse o desfecho: LGM-1, ou “little green men” (“homenzinhos verdes”). A descoberta acabou nomeada como CP 1919, ou Cambridge Pulsar 1919, sendo 1919 a direção do pulsar. Pulsar é uma contração do termo “pulsing star”.

A descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Física a Antony Hewish, em 1974. Infelizmente, só ele foi laureado. Jocelyn Bell acabou de fora da nomeação.

O astrônomo Harold D. Craft Jr., em 1970, pra sua dissertação, construiu a imagem do pulsar. Essa imagem acabou no conhecimento de Setephen Morris, que a indicou a Saville.


JOY DIVISION – LOVE WILL TEAR US APART (SINGLE 7″ E 12″) e JOY DIVISION – CLOSER (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1980

Peter Saville: “Essa capa pro segundo álbum da banda era como um trabalho de antiguidade, mas dentro está um álbum de vinil, então é uma justaposição pós-moderna de um trabalho contemporâneo inserido no antigo. No começo, não acreditava que a foto fosse uma tumba de verdade, mas está num cemitério em Gênova. Quando Tony Wilson (co-fundador da Factory) me disse que Ian Curtis havia morrido, eu disse: ‘Tony, temos uma tumba na capa’. Houve uma grande deliberação sobre se continuaria com ela. Mas a banda, Ian inclusive, escolheu a fotografia. Fizemos isso de boa fé e não de maneira pós-tragédia”.

No livro “Joy Division – Unknown Pleasures” (2015), Peter Hook diz: “a capa do single saiu antes de ‘Closer’. Fomos até o estúdio de Peter, na Portobello Road. Ele tinha acabado de ver um artigo sobre um fotógrafo que havia tirado umas fotos de um cemitério nos arredores de Gênova, que fora usado por mercadores italianos ricos. Essas famílias ricas começaram uma competição macabra com os túmulos, cada um construindo monumentos mais e mais elaborados. Adorei as imagens e adorei o resultado final”.

De acordo com a esposa de Ian Curtis, Deborah (na biografia “Touching From A Distance: Ian Curtis And Joy Division”, 1995), pra criar a foto da capa do single em sete polegadas, o título da música foi gravado em uma folha de metal; daí, então, foi envelhecida com ácido e exposta ao tempo pra criar a aparência de uma laje de pedra. Pra a versão de doze polegadas do single, foi usada a fotografia de um anjo em luto na tumba da família Ribaudo, no cemitério Staglieno, em Gênova (esculpida por Onorato Toso, por volta de 1910). A foto é de Bernard Pierre Wolff, tirada em 1978 e cujos trabalhos levaram à capa de “Closer”.

Peter Hook segue, no livro: “pra capa de ‘Closer’, assim como pro doze polegadas de ‘Love Will Tear Us Apart’, Peter Saville mostrou pra banda essa série de fotos tiradas por Bernard Pierre Wolff. Claro, essas imagens ganhariam mais tarde um significado extra, trágico. ‘Acho que aquilo incentivou Ian’, disse Saville. – Quem sabe se eu tivesse visto um esboço das letras e tivesse um pingo de sensibilidade, eu tivesse pensado ‘não vou por lenha na fogueira, vamos usar umas árvores…'”.


ROXY MUSIC – FLESH AND BLOOD (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1980

Roxy Music ainda é citado por Peter Saville como uma grande influência no início da carreira. O estilo arty banda era algo prazeroso pra quem mexia ou queria trabalhar com designer. Em entrevista, ele afirma que sabe bem pouco sobre arte. “Como designer, você acha que conhece arte, mas esse processo rigoroso de quem você é e ‘por que você quer fazer isso?’ não é uma incumbência de você como designer. Você conhece a arte olhando pela janela, mas você realmente não sabe nada sobre arte. Percebi que, se o trabalho fosse ficar sozinho, eu teria que me entender. Eu fiz um trabalho que nunca tive que responder a ninguém – mas eu também nunca tive que responder a mim mesmo sobre isso”.

Bryan Ferry era uma espécie de ídolo pra Saville, que não precisou de nenhum briefing pra fazer a capa. A foto é de Neil Kirk e mostra três moças com dardos (duas na frente – Aimee Stephenson e Shelley Mann – e a terceira apenas na contracapa – Roslyn Bolton), apenas como uma forma de seguir a tradição da banda de mostrar mulheres elegantes na capa. Ele voltaria à carga com o próximo disco, “Avalon”, o maior sucesso do Roxy Music e uma das suas capas mais sem graça.


ULTRAVOX – VIENNA (SINGLE) e ULTRAVOX – RAGE IN EDEN (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1981

“Vienna” é do disco anterior, de mesmo nome, lançado em 1980. O single só saiu em janeiro de 1981 e trazia uma arte bem próxima de “Closer”, do Joy Division: estilo, tipologia, cores.

Talvez por isso, Peter Saville tenha ousado mais na capa do disco seguinte, “Rage In Eden”, de 1981. Uma capa arrojada, uma cabeça feminina clássica em uma imagem estilizada e surreal, pra se sobressair nas vitrines das lojas de discos. Esta foi sua primeira oportunidade de causar impacto com a banda. A ideia veio dos cartazes publicitários europeus dos anos 19550 (particularmente dos cigarros Gitanes). Pela primeiras vez, entretanto, a equipe de Saville se viu diante de uma ameaça de ação legal dos detentores de direitos dos pôsteres originais que inspiraram a capa. Saville recuou e teve que partir pra essa versão final.


NEW ORDER – MOVEMENT (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1981

Peter Saville: “Stephen, Bernarde Peter Hook se tornaram uma espécie de triunvirato. Depois da morte de Ian, ninguém assumiu o controle do New Order até os anos 1990. Todas as canções foram escritas e executadas pelo New Order. Assim eram os créditos. Eles eram um grupo de ninguém. E a virtude de ser um grupo de ninguém é que não há nenhum ego pra que eu tenha que responder com relação à imagem do grupo – eles realmente não queriam discutir isso pessoalmente. Foi uma situação especialmente única no contexto das comunicações e do desing. (…) Eu podia fazer o que quisesse, sem interferência”.

O futurista italiano Fortunato Depero foi a base pra criação de Saville. Apesar de afirmar “não conhecer arte”, Saville estava sempre atento e aberto a criações do mundo inteiro. Depero nasceu em 1892 e morreu em 1960. Sua obra já era bem conhecida quando Saville começou a atuar, especialmente a “Casa d’Arte Futurista”, em Rovereto, onde fabricava, vendia e expunha objetos e mobília em estilo futurista. Ao mudar pra Nova Iorque, assinou capas de revistas como The New Yorker e Vogue.

O grande achado de Saville foi dizer muito com apenas sete traços, quatro na horizontal e três na vertical. Os dois verticais do topo formam um “F” de Factory. O vertical de baixo, forma um “L”, de cinquenta, em número romano, indicando ser o lançamento de número cinquenta do selo (FACT50, como se lê também entre os segundo e terceiro traços). Além disso, o título “Movement” dava a ideia de que Peter Saville, a Factory e a própria banda inauguravam ou faziam parte de um “movimento”.


SECTION 25 – ALWAYS NOW (ÁLBUM)
Ano de lançamento: 1981

Curiosamente, Peter Saville recebeu instruções prévias sobre como fazer esta capa. Até o momento, nenhum artista havia dado qualquer pitaco sobre como o artista criaria a arte, nem mesmo David Byrne e Brian Eno, em “My Life In The Bush Of Ghosts”, também de 1981. Mas Larry Cassidy deu o que Saville chamou de “informações fascinantes”: “ele queria algo europeu, mas psicodélico e com alguma influência oriental”. E só.

Saville quebrou a cabeça e chegou a uma solução interessante, baseada no catálogo de fontes Berthold (veja aqui), e era simples: num fundo amarelo, listava as faixas e os créditos, em tipologia especialmente criada pra capa. O toque oriental veio um com adesivo I Ching vermelho lá dentro.


NEW ORDER – BLUE MONDAY (SINGLE)
Ano de lançamento: 1983

Peter Saville: “Eu tinha ido ver a banda no estúdio e Stephen me deu um disquete pra levar pra casa. Eu achei um belo objeto. Na época, os computadores estavam em escritórios, não em estúdios de arte. O disquete (um disco flexível de oito polegadas) informa que o design e o código de cores era do meu interesse a partir da estética determinada pelas máquinas. Refletiu a linguagem visual hieroglífica do mundo da máquina. Por exemplo, os números no seu talão de cheques não são realmente pra você, eles são pra uma máquina ler. A tecnologia sempre nos fornece coisas que nunca vimos antes e isso é inspirador”.

A capa não tem o nome da banda ou o nome da música. As cores do lado direito querem dizer Fact 73 e “Blue Monday” e “The Beach New Order”. A chave pra decifrar a coluna de cores pode ser encontrada na contracapa de “Power, Corruption & Lies”, álbum que foi lançado após este single.

Saville: “não sei se a história da gravadora perdendo dinheiro com o custo da capa é verdadeira. Enviei a capa diretamente pra imprimir porque todos estavam com pressa. Eu duvido que as gráficas tenham dado uma cotação sequer pra Factory responder. A banda já saiu prejudicada, já que provavelmente ninguém tocaria a música na rádio, pois ela tinha sete minutos de duração. Ironicamente, vendeu muito e com essa capa cara”.


PETER GABRIEL – SO (ÁLBUM) e NEW ORDER – LOW LIFE (ÁLBUM)
Ano dos lançamentos (respectivamente): 1986 e 1985

Peter Saville: “Eu tinha ouvido falar de Peter Gabriel em 1986, mas não era fã. Não o odiava ativamente. Ele não era apenas alguém que eu conhecia muito. Foi meu assistente e parceiro criativo, Brett Wickens, que ficou muito empolgado com Peter e fiquei sabendo que Brett e Gail Coulson, que era o empresário de Peter na época, começaram a colaborar em alguns visuais pra um novo álbum de Peter Gabriel. Na época, ia ser chamado de ‘Good’. Brett realmente chegou até uma prova, que eu vi e pensei ‘uau, isso é horrível!’. Então quando Brett e Peter se reuniram pra discutir a prova, de repente houve uma crise. Eles não gostaram. Eles gastaram muito tempo, gastaram muito dinheiro e não foi ‘bom’. Brett me ligou e disse: ‘temos um problema’. O resultado foi que Brett e eu fomos até Peter. Este foi meu primeiro encontro com Peter e ele foi adorável. Isto é frequentemente o que acontece com músicos. Você pode não ser fã deles, mas você os conhece e eles são legais. Eu disse: ‘olha, eu realmente não gostei desse resultado, podemos apenas começar de novo?’. Acho que me pareceu bastante positivo, então Peter disse: ‘ok, vamos começar de novo’. O que aconteceu a seguir foi bem estranho. Foi realmente um dia muito importante na minha vida. Naquela época, Peter morava em Bath, Somerset. Tenho algumas afiliações muito pessoais com Bath e em 1985 era um lugar muito sensível pra eu ir. Foi como a cena do crime. Nós saímos de lá aproximadamente às seis da noite e eu acho que era inverno porque estava escuro e enevoado. Durante nossa conversa, Peter disse que o álbum poderia se chamar de ‘So’, em vez de ‘Good’, e quando estávamos saindo ele deu a Brett um cassete e disse: ‘acho que está concluído’. Então fomos pra estrada e a primeira coisa que vimos foi um acidente, que aconteceu bem na nossa frente. Alguém saiu direto daquela estrada sinuosa e entrou em um bosque de árvores. Nós paramos. A polícia veio e, finalmente, fomos capazes de sair. Mas é chocante quando você vê um acidente de carro. Eu já estava um pouco nervoso e isso acontece. Foi como… ‘caralho!’. Nós estávamos dirigindo em direção à auto-estrada e Brett colocou este cassete e eu disse: “Oh, deus, por favor, eu não quero ouvir Peter Gabriel agora”. Mas Brett disse: “pô, é trabalho”, e aquiesci. A primeira faixa era ‘Red Rain’ e se você estiver com um humor sensível e acabou de ver um acidente de carro e ouvir “Red Rain” pela primeira vez … é bem assim, woooaaah! Havia uma paixão real na voz de Peter. Não me importei. Quando nos aproximamos da autoestrada, ‘Sledgehammer’ começou. Nós paramos a porra do carro no acostamento! Você sabe quando está ouvindo algo importante. Foi como ouvir ‘Blue Monday’ pela primeira vez. Brett e eu apenas olhamos um pro outro e então olhamos pro toca-fitas e quase simultaneamente dissemos: ‘essa é o número um!’. Foi brilhante pra caralho. No momento em que ‘Don’t Give Up’ apareceu, chorei um pouco. Eu não tinha me distanciado o suficiente de Bath e isso me afetou completamente. Fazer a capa de um álbum que você sabe que será um sucesso é realmente emocionante. Nós não temos muito tempo sobrando, mas nós meio que sabíamos qual era o nosso dever. Gail Coulson tinha me informado em particular que Peter teve que se distanciar de si pra esse disco. Ela sabia que ele tinha feito um álbum emocional e que ele escreveu canções que atingiriam pessoas que não eram fãs de Peter Gabriel. Nós tivemos que dar uma cara a isso. É claro que a inclinação natural de Peter era em relação à timidez e ele não se mostrava muito. Mas isso não ia impedir o trabalho porque era 1986, você sabe. Tivemos cerca de duas semanas pra entregar a capa. Então, começamos. Trevor Key ia me ajudar a tirar uma foto de Peter. Trevor era meu melhor amigo e nós compartilhamos o estúdio juntos. Doze meses antes, fizemos uma sessão de fotos muito incomum e emocionante pro New Order. Foi pra ‘Low Life’ (1985). Não há nada pior do que tirar uma foto do New Order. Eles não suportam isso. Mas pra tirar uma sessão de fotos deles, usamos uma nova invenção … filme de rolo Polaroid. Ele saiu em 1985 e, além de ser instantâneo, tinha algumas qualidades muito especiais. Era preto e branco com tons estranhos e você poderia fazer coisas engraçadas. Foi muito gráfico e muito dinâmico. O grão e a textura faziam tudo parecer um filme de cinema. O New Order estava tão totalmente desinteressado em apresentar sua própria identidade, mas eu queria fazer ‘Low Life’ com eles na capa, porque eu estava cansado de capas conceituais naquele ano – 1985 foi chamado meu ano zero ano essencial. O New Order não queria fazer a sessão, mas como usamos esse filme mágico da Polaroid, cada um deles conseguiu se envolver com a sua própria imagem e sua performance. Quando eles se viram parecendo um pouco groovy eles pensaram: ‘ei, isso é divertido. Vamos fazer outro rolo”. E foi exatamente o que aconteceu com Peter naquele dia. A princípio, Trevor sentou-se em Peter pra fazer um retrato tradicional de tripé e parecia ok. Pra ser honesto, Peter saiu parecendo um fazendeiro de meia-idade. Então, eu disse: ‘Olha, pegue a Polaroid.” Então, Trevor relutantemente colocou filme de rolo Polaroid em seus 35mm. Creio que nós conseguimos a capa de ‘So’ em dois rolos. Esse é o brilho deste filme. Parece ótimo e a pessoa que tira a foto vê o resultado instantaneamente. Peter é bom pra atuar. Se você pedir algo, ele entregará. Ele se viu parecendo legal, parecendo groovy e ele e Trevor conseguiram em uma hora. Pessoalmente, essa imagem é, bem, foi assim, por muitos anos, a imagem pública de Peter Gabriel, a imagem de referência que durou por quase dez anos. Isso o fazia parecer contemporâneo, jovem, mas maduro. Originalmente, eu não queria colocar um nome na capa. Brett estava trabalhando neste fantástico letreiro pro título ‘So’. Uma bela e brilhante peça de tipografia. Na época, minha maior influência artística foi o período dos anos 60. Era preto e branco, meio reportagem fotográfica e Yves Klein. O pedaço de Yves Klein vem na caixa azul e o azul é azul Klein. Mas eu não queria colocar nada na foto. Quer dizer, eu não estava em ‘Low Life’. Mas no final a gravadora insistiu nisso. Então, nós tínhamos a caixa azul que era meio como um logotipo da marca. Quer dizer, eu não faria isso agora, mas dezessete anos atrás, a ideia de um logotipo da marca em uma capa de álbum, que eu sabia que poderia repetir em tudo que tinha a ver com este álbum, foi bem legal. Basicamente, a imagem e as letras são o logotipo. Caixa azul, esta imagem icônica de Peter Gabriel e esta maravilhosa letra dizendo ‘So’. Foi isso. Era uma imagem de referência, mas esse álbum merecia isso”.

Saville recebeu pelo trabalho em “So”, a quantia de vinte mil libras, o maior que ele havia recebido até ali. Mas, como ele mesmo admite, não deu três anos e, graças ao trabalho “gratuito” e bem mal pago da Factory, ele já estava falido novamente.


NEW ORDER – TRUE FAITH (SINGLE)
Ano dos lançamentos: 1987

Peter Saville: “Este foi um primeiro trabalho da vida real. Em 1986, aconteceu um trauma na minha vida pessoal e me deixou muito sintonizado com o mundo ao meu redor. De repente, eu não tinha filtros. Eu estava estacionando o carro uma noite e uma folha flutuou pela janela e eu pensei: “isso é tão bonito…”. Foi emoldurada pelo pára-brisa, que é provavelmente o motivo pelo qual eu vi isso como uma imagem. Então, nós fizemos uma folha. Fui ao Windsor Great Park com o (meu amigo) fotógrafo Trevor Key, voltei com cerca de cinquenta folhas e fotografei duas ou três até encontrarmos o caminho certo. Tinha que ter a forma certa e parecer que estava caindo. Não houve manipulação digital aqui. Eu ainda tenho a folha, embora eu continue pensando que um dia ela vai se desfazer sozinha”.


PULP – THIS IS HARDCORE (ÁLBUM)
Ano dos lançamentos: 1998

O próprio Jarvis Cocker escreveu um artigo pro Guardian, em 2003, falando sobre a capa: “conheci John Currin pela primeira vez em 1996, num livro da exposição chamada ‘Wild Walls’. Recebi porque continha o trabalho de indicados ao prêmio da Turner (eu havia sido convidado pro prêmio naquele ano). Foi do trabalho de Currin que eu gostei. Naquele mesmo ano, eu estava em Nova Iorque e fui pro Museu Whitney, porque tinha ouvido falar que ele possuía algumas de suas pinturas. Não havia nenhuma em exibição, mas encontrei um livro na loja e comprei. Gostei do fato de que Currin estava fazendo pintura figurativa, e que seu trabalho tinha um senso de humor. Além disso, ele não estava sendo nostálgico: pra mim, ele estava dizendo algo sobre os estados mentais contemporâneos. Na época, eu estava em um estado mental frágil. Tinha atingido uma ambição na vida e descobri que não era tudo. Então, fiquei impressionado com as imagens de homens poderosos de Currin. Eles estão cercados por mulheres que parecem estar sugando-os, mas na verdade estão pensando: “que idiota!”. São sempre velhos com barba e mulheres jovens. Especialmente reconheci suas pinturas de propaganda do Martini Man – as obras que ele fez usando anúncios da Penthouse e de outras revistas. Ele tirava essas fotos de homens em piscinas, cercado por mulheres de biquíni olhando com admiração, mas depois as pintava por cima. Uma dessas pinturas foi usada no panfleto de sua primeira exposição na galeria Sadie Coles em 1997. Parecia muito bom. Lendo sobre Currin, notei que ele e eu temos a mesma data de nascimento (19 de setembro). Parecia significativo de alguma forma. Eu senti que tinha que rastreá-lo, o que me faz soar como um perseguidor. Decidi entrar em contato com ele e perguntar se o Pulp poderia usar sua pintura ‘The Neverending Story’ pra capa do single ‘Help The Aged’ (eis a imagem). Depois disso, entrei em contato novamente pra ver se ele colaboraria com o Pulp no projeto da capa do álbum “This Is Hardcore”. Inicialmente, pensei usar apenas uma de suas pinturas, mas a capa também estava sendo projetada pelo estúdio de Peter Saville, e Saville achou que seria mais interessante produzir algo original. A capa acabou sendo bastante incomum pra Currin porque ele é um pintor e as imagens que ele acabou produzindo são fotografias. Saville conseguiu que Currin criasse cenários pra capa. As fotos foram tiradas no Hilton Hotel de Londres, que deve ser um lugar de luxo, mas na verdade é um pouco cafona. Suas fotos mostravam pessoas em ambientes luxuosos que não se encaixavam bem – o que na época realmente combinava com o que a banda estava falando. Sem ser muito literal sobre isso, ele comunicou o desconforto geral que estava sendo sentido pelo Pulp”.

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