Som é música e música está em todo lugar, basta compreender como tal. E um dos maiores artistas de sons eventuais é a própria natureza. Dela, milhões de notas e sons podem ser ouvidos. Ela cria sons perceptíveis graças ao avanço tecnológico do ser humano, mas também notas que nós mesmo podemos prestar atenção e apreciar.
Nessa seleção, há um pouco de semelhança com os sons que alguns artistas que o Floga-se noticia vem experimentando há tempos e que escapam do espectro comercial. Definitivamente, a natureza não seria pop na música, excetuando-se, claro, aqueles sons ambientes usados pra relaxamento (como chuva, vento, pássaros), mas esses são normalmente são reproduzidos pelo próprio homem, porque os criados pela natureza são crus, diretos, difíceis, ousados. Exatamente como a arte deve ser.
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A MÚSICA DO SOL
Essas são as harmonias musicais produzidas pelo campo magnético na atmosfera do Sol. Astrônomos descobriram que os gigantescos laços magnéticos que surgem na camada mais externa da atmosfera solar, conhecidos como “loops coronais”, comportam-se como elementos de instrumentos musicais e são tocados como as cordas de uma guitarra ou vibram como instrumentos de sopro. Os cientistas conseguiram reproduzir o som convertendo as vibrações visíveis e aumentando a freqüência das ondas.
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A MÚSICA DAS ÁRVORES
Os anéis no tronco de uma árvore ajudam a descobrir a sua idade, mas também podem produzir música. Graças ao músico alemão Bartholomäus Traubeck, que criou uma espécie de toca-discos capaz de executar os ruídos contidos nos sulcos desses anéis. Obviamente, não são agulhas que raspam nos sulcos. Elas quebrariam. O equipamento possui sensores que leem as informações de cor e textura da madeira e as converte em notas de piano. São como notas executadas num piano. Ao invés de uma simples agulha que lê sulcos de um disco, o equipamento possui sensores que juntam informações sobre a cor e a textura da madeira e então usa um algoritmo que traduz as variações em notas de um piano. Como cada árvore possui sulcos diferentes, cada tronco emite uma música diferente. Traubeck até gravou um disco assim, chamado “Years”.
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A MÚSICA DO ESGOTO
O esgoto é matéria orgânica. E a música aqui, no caso, é feita a partir dos sons do seu tratamento (tubos, máquinas, fluxo de água e matéria-prima etc.). Uns ingleses malucos fizeram isso e você pode ler tudo aqui.
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A MÚSICA DAS ORCAS
Especificamente, das do Delta Fraser, no Canadá. São sons emitidos por orcas assassinas que habitam na região. Os sons foram gravados com um hidrofone JASCO e estão longe daquela calmaria ambient que massagistas costumam oferecer aos clientes. Orcas assassinas fazem um tremendo noise e nesse caso são bem diferentes das dezenas de sons de baleias que podem ser encontrados por aí.
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A MÚSICA DE UM TERREMOTO
“De um” terremoto bem específico, porque nem todo terremoto gravado soa da mesma forma, avisam os cientistas. Cada um tem a sua mecânica, dependendo das placas remexidas, da magnitude, da profundidade, de um bocado de variáveis. Esse em questão foi gravado em 24 de abril de 2014, e atingiu a costa canadense a uma profundidade de onze quilômetros. O som foi gravado por um hidrofone numa profundidade bem menos, a 2,7 quilômetros, e a duzentos e cinquenta quilômetros do epicentro. Mesmo assim, o som era alto demais pro hidrofone. O resultado é um drone clássico que se assemelha ao ruído do vento forte num microfone.
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A MÚSICA DOS GRILOS
Essa gravação de Jim Wilson é interessante pelo fato dele ter sacado que os sons dos grilos podem se assemelhar ao canto gregoriano. Pra isso, sua mente pensou o seguinte: juntou a gravação em rotação normal dos grilos que ele captou e sobrepôs uma banda com a mesma gravação só que bastante desacelerada. Quem poderia imaginar tal resultado?
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A MÚSICA DO CENTRO DA TERRA
O KTB Borehole, na Alemanha, foi escavado entre 1897 e 1995 pelo Centro de Pesquisas em Geociências da Alemanha, e é o segundo buraco mais profundo escavado pelo homem: tem 9,6 quilômetros de profundidade (na Rússia, há o Kola Superdeep Borehole, com 12,87 quilômetros). KTB é a abreviação de Kontinentales Tiefbohrprogramm der Bundesrepublik Deutschland (ou Programa de Perfuração Profunda Continental). O artista alemão Lotte Geeven, com auxílio dos pesquisadores do local e um engenheiro de som, conseguiu captar os sons vindos desse buraco. Ninguém sabe exatamente o que causa tais sons, que são estalos e rugidos unidos num vibrante drone, mas imagina-se que sejam ecos da atividade sísmica de outros cantos da Terra.
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A MÚSICA DO ESPAÇO SIDERAL
A coletânea “Space Project” já fez bom uso sobre esses conhecidos e difundidos sons divulgados pela Agência Espacial Norte Americana, a NASA (leia mais aqui), mostrando que no espaço sideral não há só silêncio ou vácuo. Há sons e eles se transformam em música. Eles puros, sem intervenção artística, parecem a trilha sonora de “2001, Uma Odisséia No Espaço”.
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A MÚSICA DOS VULCÕES
Ao contrário dos terremotos, os vulcões parecem emitir sempre o mesmo tipo de som: estalos alternados com lufadas de vento. Não há uma gravação científica disponível. O vídeo abaixo é uma gravação amadora, com o som ambiente bastante contaminado, mas é o som que o ouvido humano percebe.
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A MÚSICA DA AURORA BOREAL
Essa é tida como lenda. Muita gente, incluindo cientistas, dizem ter ouvido, mas não há comprovação. Segundo a CORDIS, uma equipe da Universidade de Aalto, na Finlândia, já se identificou o ponto onde se desenvolvem tais sons: uns setenta metros acima do solo. Pra realizar as experiências, os investigadores instalaram três microfones num centro de observação de onde gravaram os sons da aurora boreal. Os finlandeses já descobriram um padrão típico das luzes do fenômeno e acreditam que qualquer som possa vir associado a variações eletro-magnéticas. No vídeo abaixo, feito por um leigo, que juntou imagens em time-lapse com sons sabe-se lá de onde, acredita-se ser a reprodução de sons que as pessoas dizem ouvir – e que nunca foram gravados.