DEZ TEMAS DE ENNIO MORRICONE

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Ennio Morricone também errava. E admitiu isso em 2014. Numa entrevista, disse não ao diretor Clint Eastwood, que o convidara pra fazer a trilha de seus primeiros filmes. Depois, se lamentou.

Morricone disse que recusou a chance de escrever pra filmes dirigidos por Eastwood “por respeito” a Sergio Leone, um dos grandes diretores de todos os tempos e seu amigo desde os tempos de escola, em Roma.

“Quando Clint me ligou, eu disse ‘não’ por respeito a Sergio Leone, não porque eu não gostei dos filmes que ele fez”, contou. “Perdi uma grande oportunidade e sinto muito”.

A estreia de Eastwood na direção, com “Perversa Paixão” (Play Misty For Me, EUA, 1971) não tinha nada a ver com os filmes que aproximaram o Maestro e o grandalhão calado dos westerns-spaghettis de Sergio Leone.

Mas isso não é desculpa. Nem mesmo “O Estranho Sem Nome” (High Plains Drifter, EUA, 1973), um western bem ao estilo de Leone, fez a fidelidade do música se abalar.

Morricone foi trabalhar novamente com Eastwood apenas em 1970, com “Os Abutre Têmn Fome” (Two Mules For Sister Sara, EUA/MEX, 1970), de Don Siegel; e em 1993, com “Na Linha De Fogo” (In The Line Of Fire, EUA, 1993), com direção do alemão Wolfgang Petersen. Uma trilha protocolar, em comparação com seu currículo.

Toda essa fidelidade a Leone demorou pra ser de fato engatada profissionalmente.

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Só aos 36 anos, o amigo o chamou pra “Por Um Punhado De Dólares”, (Per Un Pugno Di Dollari, ITA/ESP/ALE, 1964). Leone assinando como Bob Robertson e Leone, como Dan Savio. Era o segundo filme do diretor.

A fama dos filmes de Leone deve-se em boa parte a Morricone. É a colaboração mais bem-sucedida em todo o cinema, pode-se afirmar, talvez com boa dose de paixão e exagero, sem, contudo, estar muito afastado da verdade.

Leone tinha um sentimento geral de como a música deveria funcionar no filme. Ao contrário da maioria dos cineastas, que encomendam a trilha de uma imagem somente depois de concluírem a edição, filmando “no escuro”, Leone pegava a música de Morricone primeiro pra só depois desenhar as cenas em torno dessas composições.

“Gradualmente, com o tempo, ele como diretor e eu como compositor, melhoramos e alcançamos o nosso melhor, em minha opinião, em ‘Era uma vez na América'”, disse certa vez o compositor.

Pra Leone, a música era um ator, tanto quanto os atores em si. O diretor levava as músicas de Morricone pro set de filmagem pra que eles reagissem a elas. Literalmente

Como praxe dos filmes italianos da época, todos eram dublados posteriormente, de modo que isso permitia a tática de, enquanto rodavam uma cena, a música tocava ao fundo.

Tanto Morricone como Eastwood devem muito a Leone. O cinema também, obviamente. Mas o inverso também é verdadeiro. Leone deve um bocado a Morricone. E, por tabela, Eastwood se sente grato por ter se alimentado artisticamente dessa incomparável dupla.

Quando o Maestro recebeu um Oscar honorário, em 2007, foi apresentado por Clint Eastwood, elogiando-o por “suas magníficas e multifacetadas contribuições à arte da música cinematográfica”.

Não havia, claro, rancor.

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Outros grandes diretores trabalharam com Morricone. Giuseppe Tornatore, que ficou amigo pro resto da vida, foi o seu segundo preferido. Mas também viream Sergio Corbucci, Pier Paolo Pasolini (“Os Contos De Canterbury”, 1972, e “As Mil E Uma Noites, 1974), Bernardo Bertolucci, Terrence Malick (“Cinzas No Paraíso, 1978), John Carpenter, Roland Joffé (“A Missão”, 1986, uma das suas trilhas mais famosas e de maior sucesso), Brian De Palma (“Os Intocáveis”, 1987, e “Pecados De Guerra”, 1989), Roman Polanski (“Busca Frenética”, 1988), William Friedkin, Pedro Almodóvar (“Ata-me”, 1989), Franco Zeffirelli (“Hamlet”, 1990), Barry Levinson (“Bugsy”, 1990), Dario Argento (“Síndrome Mortal”, 1996) e, claro, Quentin Tarantino, com quem ganhou seu único Oscar.

Morricone morreu nesse dia 6 de julho de 2020, aos 91 anos, na mesma Roma onde nasceu.

Aqui, dez temas composto por ele em dez grandes filmes. Pra perceber as notas, protagonistas, atuando no melhor papel delas em toda a história do cinema.

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (1966)
Título original: Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo
Direção: Sergio Leone
Música: “Main Theme”

POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1964)
Título original: Per Un Pugno Di Dollari
Direção: Sergio Leone
Música: “Per Un Pugno Di Dollari: Titoli”

CINEMA PARADISO (1964)
Título original: Nuovo Cinema Paradiso
Direção: Giuseppe Tornatore
Música: “Toto And Alfredo (2nd Version)”

ESTAMOS TODOS BEM (1990)
Título original: Stanno Tutti Bene
Direção: Giuseppe Tornatore
Música: “Viaggio”

Era Uma Vez No Oeste (1968)
Título original: C’Era Una Volta Il West
Direção: Sergio Leone
Música: “L’Uomo Dell’Armonica”

Era Uma Vez Na América (1984)
Título original: Once Upon A Time In America
Direção: Sergio Leone
Música: “Deborah’s Theme”

1900 (1976)
Título original: Novecento
Direção: Bernardo Bertolucci
Música: “1900’s Theme”

MALÈNA (2000)
Título original: Malèna
Direção: Giuseppe Tornatore
Música: “Malèna”

INVESTIGAÇÃO SOBRE UM HOMEM ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (1970)
Título original: Indagine Su Un Cittadino Al Di Sopra Di Ogni Sospetto
Direção: Elio Petri
Música: “Indagine Su Un Cittadino Al Di Sopra Di Ogni Sospetto”

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (1982)
Título original: The Thing
Direção: John Carpenter
Música: “Contamination”

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