A imagem acima entrega um tanto do perfil do Indie da Depressão, cuja conta no Twitter se tornou um sucesso arrebatador em poucos meses (seis, até aqui, e contando): “sou um blasé pseudo hipster filho da puta. (Via Tweetdeck- João, via Web-Brunna) Contato: indiedadepre@hotmail.com”.
Sim, o famoso @indiedadepre são duas pessoas, uma moça e um rapaz (dessa forma, porque são jovens, bem jovens, como costumam ser os maiores agitadores virtuais), um de Minas Gerais (hoje em São Paulo) e outra de Balneário Camboriú, Santa Catarina.
O sucesso se deu basicamente pela capacidade de sintetizar, em 140 caracteres, com tiradinhas bem humoradas, a paixão pelo o que se acostumou chamar de “música indie” (que na verdade, de independente, não tem nada, é pura etiqueta, ou dá pra dizer que Arcade Fire ou o Strokes não são mainstream?). O público composto por jovens recém-saídos da puberdade, ainda tateando a faculdade (ou nem isso), se esbalda com as frases de efeito, com indicações de bandas e afins. Público que hoje esbarra nos 12.500 seguidores, mas que cresce constantemente.
É algo divertido, leve, inodoro, indolor, politicamente correto, pra uma rapaziada idem.
Uma recente entrevista a’O Globo, do Rio de Janeiro, dá bem a dimensão e ideia do perfil (leia aqui). Mas isso só desvenda o mistério de bastidores. Na questão dos gostos musicais, os próprios tuítes já são esclarecedores – e há ainda o blogue da dupla, com listas e listas.
Porém – “ah, porém” – são duas pessoas que queimam a mufa pra expor suas preferências sonoras em 140 caracteres e elas nem sempre combinam, por incrível que pareça. Por isso, o “Discos da Vida”, em sua terceira edição, chamou a parte masculina do perfil tuiteiro pra compor a lista de dez discos que mudaram sua vida (até aqui, porque há muito ainda pra esse cidadão viver).
É uma curiosidade – porque as pessoas influentes, mesmo que virtuais, sempre são curiosas.
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“Bom, talvez vocês me conheçam por falar e apresentar bandas indies pras pessoas ou fazer piadas nem sempre tão engraçadas no Twitter, mas pra chegar até o meu gosto musical de hoje, foi uma longa estrada. Que está longe de acabar. Eu sou ainda sou novo, tenho 21 anos, então vocês verão discos mais antigos misturados a discos bem mais recentes. Vamos à lista.”
1. Pink Floyd – “Animals” (1977)
Talvez alguns vão estranhar esse disco no topo, mas quem acompanha meu Twitter sabe da minha paixão pelo Pink Floyd. Não só esse foi o disco que mais me influenciou, como na minha opinião é o melhor disco já feito em toda a história. O Pink Floyd se divide em pessoas que amam e pessoas que odeiam. Eu me encaixo no primeiro grupo. Muitos vêem a banda como excessivamente preocupada com a forma, mas basta prestar atenção às apresentações ao vivo e ver que não há nenhum músico virtuoso no conjunto e que existia muito improviso. O disco é uma crítica ferrenha ao período da Guerra Fria e foi baseado no livro “Revolução dos Bichos”, de George Orwell. “Dogs” é um marco da música e as outras faixas não ficam atrás.
Ouça o disco na íntegra:
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2. Radiohead – “The Bends” (1995)
Na minha lista não poderia faltar Thom Yorke e companhia. Com certeza uma das bandas que mais me influenciaram. Muitos colocariam “Ok Computer” ou “Kid A”, mas foi no “The Bends” que a banda começou a tomar forma. Eles amadureceriam mais tarde, mas a barulheira de três guitarras, misturada a belas melodias, criaram uma série de clássicos como “Just”, “Fake Plastic Trees”, “High And Dry”, entre outros. Mudou minha maneira de ver música. Indispensável.
Ouça “Fake Plastic Trees”:
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3. Nirvana – “In Utero” (1993)
O álbum mais conhecido do Nirvana certamente é o “Nevermind”, não há dúvidas. Foi o que catapultou o grunge ao mainstream e deu uma quebrada no pop que vinha com tudo no início da década de 1990. Contudo, Kurt Cobain ainda tinha muito a mostrar em sua breve carreira. É o rockstar no auge da depressão e no auge da qualidade criativa. É o rock na sua essência contestadora e triste. É impossível começar a falar de rock’n’roll sem ter escutado esse disco, cheio de melancolia, um grito desesperado de socorro antes do último suspiro do mártir. “Heart-Shaped Box” é uma das mais belas canções de todos os tempos e o resto do disco não perde muito.
Ouça “Heart-Shaped Box”:
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4. The Smiths – The Queen Is Dead (1986)
Eu não levo o sufixo “depre” no Twitter à toa. Eu realmente adoro músicas cheias de melancolia e tristeza. A arte e a miséria sempre andaram de mãos dadas. Ninguém soube fazer isso melhor que Morrissey, aliado ao seu parceiro de composição, Johnny Marr. O Smiths é uma das minhas bandas favoritas e pra mim (e pra muitos) esse é o seu melhor disco. E isso não é pouca coisa. A banda está no seu ápice e Morrissey destila ironia e mágoas pra todos os lados, na sua melhor forma. Quando escutei esse disco pela primeira vez, um universo novo se abriu pra mim. Era o que eu buscava liricamente e nunca tinha achado, o choro velado de alguém que sofre em silêncio e só consegue externar isso por meio da música. “I Know it’s Over” é o grande símbolo do disco na minha opinião.
Ouça “I Know it’s Over”:
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5. Joy Divison – “Unknown Pleasures” (1979)
Com certeza você já ouviu o clássico “Love Will Tear us Apart” (que eu carrego tatuado nas minhas costas pra sempre), mas foi aí que tudo começou pra essa banda, que teve uma carreira curta, mas gerou muitos frutos pro rock. Liderados pelo gênio Ian Curtis, a sempre rica cena da cidade de Manchester, Inglaterra, fez com que pérolas da música fossem compostas por esse brilhante grupo, que ainda daria origem ao New Order. É tédio, ressentimento e tristeza que não acaba mais. Eu não vivia à época, mas talvez o suícidio de Curtis não tenha sido surpresa para os fãs da banda. O grupo teve muitas canções lançadas em separado pelo fim trágico, todavia “Shadowplay”, “She’s Lost Control” e companhia foram o começo dos passos gigantes e breves do Joy Division, um mito.
Ouça “She’s Lost Control”:
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6. The National – “Boxer” (2007)
Tem espaço pra mais melancolia? Porque Matt Berninger ainda tem muito a dizer sobre o assunto. O quarto disco da banda baseada no Brooklyn, em Nova Iorque, é um dos meus preferidos de sempre e certamente também me influenciou enormemente. Depois da primeira audição eu só me perguntei: “como eu nunca tinha ouvido isso antes?”. É intimista, é melancólico, é grave, mas é doce, como só o grupo sabe fazer. As letras de Berninger transpassam um jovem adulto desiludido com a vida e com o que conseguira. A adolescência passou e as coisas não funcionam mais da mesma maneira. Você está sozinho, não importa o que os outros digam. Bem, Berninger e o The National estão com você. Muito importante pra mim por se encaixar no período da minha vida em questão. “Brainy”, “Slow Show” e “Green Gloves” são clássicos de sempre na minha lista.
Ouça “Brainy”:
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7. Os Mutantes – “Os Mutantes” (1968)
Eu não sou do tipo de pessoa que acha que deve se apoiar as coisas nacionais apenas por serem nacionais. Nem tampouco do tipo que não escuta nada de casa. Eu gosto de música boa e isso Os Mutantes souberam fazer. E influenciaram muita gente, de mim a expoentes indies como Devendra Banhart e os caras do Of Montreal. O disco de estreia deles consolidou a tropicália e mostrou que o Brasil não sabe fazer só bossa-nova pro mundo. Arnaldo Baptista, um mestre criativo, liderou o grupo apoiado pelo carisma de Rita Lee, as guitarras mágicas de Sérgio Baptista e as linhas de baixo perfeitas de Liminha. Esse disco deve ser ouvido, não só por todos os brasileiros, mas por todos os amantes do rock. “Ela É Minha Menina”, “Bat Macumba”, “Panis et Circenses” (de Caetano Veloso) são alguns dos clássicos.
Ouça “Panis et Circenses”
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8. Elliott Smith – “Either/Or” (1977)
Melancolia pouca é bobagem. Acho que já deixei claro que adoro um choro musical (sambei no trocadilho). Vejam que muito dos artistas que aqui coloquei, acabaram se suicidando e não por acaso. Eliott Smith talvez tenha tido o mais brutal de todos: cinco facadas no peito. Outro talento que se foi jovem, mas deixou belíssimas canções e letras. Quase sempre no violão e voz, Elliott é um dos expoentes de um gênero inventado por aqueles que adoram rotular as coisas, o sadcore. Esse disco me fez ama-lo profundamente e compartilhar da sua dor, que é clara. Ele narra a tristeza com metáforas lindas e faz ela parecer normal. Talvez seja mesmo. Angeles é uma das músicas mais bonitas que já ouvi.
Ouça “Angeles”:
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9. Blur – “Parklife” (1994)
Um dos muitos filhotes dos Stone Roses e do britpop, esse é o disco definitivo do gênero pra mim. Alimentou na década de 90 a clássica disputa com o Oasis e os tagarelas irmãos Gallagher. O disco começa bem espantando os preconceitos com a clássico “Girl & Boys” e segue só melhorando depois. Damon Albarn nunca mais encontraria uma formação para o Blur como aquela e, apesar de fazer outros ótimos discos, nunca conseguiria superar sua obra-prima. Um álbum que eu preciso escutar pelo menos uma vez por semana.
Ouça “Parklife”:
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10. The Velvet Underground – “The Velvet Underground & Nico” (1967)
O que seria de todos nós que gostamos de música alternativa não fossem Lou Reed e John Cale? A linda Nico dava um toque espetacular a esse clássico de todos os tempos. É chover no molhado dizer que os Strokes e outras bandas beberam dessa fonte. Um protótipo do indie, um protótipo do punk, um clássico do rock. As letras obscuras que falam de sexo, drogas e violência marcaram a estreia arrebatadora do Velvet Underground, pra um disco que não recebeu muita importância na época. Não há como citar uma música, mas termino dizendo que eu creio que esse disco foi mais importante que qualquer um dos Beatles na história da música.
Ouça “Heroin”:
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Na próxima edição do “Discos da Vida”, Al Schenkel, do Starfire Connective Sound.
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Mavka”.
lista boa. legal o animals em primeiro! discaço. mas vamo manerar ae no exagero, o elliott smith morreu com duas facadas no peito…se fosse cinco ninguém tava discutindo se foi suicídio ou homicídio hahah
juro que isso parece uma paródia
Muito bom, mas tenho que descordar quanto a música do Elliott! A mais linda é Between the Bars!
Nossa, que indie! 😛
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