DISCOS (POP) PERDIDOS #10: THE SEAHORSES – DO IT YOURSELF

O Seahorses já cresceu “grande” ou, pelo menos, cheio de expectativas. Não sem motivos: essa era a banda de John Squire, guitarrista e principal compositor do Stone Roses, pós-Stone Roses.

Tudo começou quando o Stone Roses se rompeu após o bom (mas turbulento) segundo disco, “Second Coming”, de 1994, lançado sob contrato polpudo com a Geffen Records. O baterista Reni deixou os Roses e não tardou pra Squire seguir o mesmo caminho. O ano era 1996.

Squire tinha ainda um contrato a cumprir com a Geffen, embora naquele momento estivesse um tanto perdido, preferindo fazer participações especiais, como no famoso show do Oasis em Knebworth, na Inglaterra, em 11 de agosto, cuja “Champange Supernova” acabou no CD bônus de “…There And Then”, de 1996.

Mas naquele mesmo ano, Squire começou a recrutar pra uma banda nova. Primeiro, veio o baixista Stuart Fletcher. Depois, Squire foi avisado de um talentoso artista de rua, Chris Helme, que acabou vocalista e homem de frente da nova banda que surgiria, o The Seahorses.

Pra bateria, Squire queria alguém como Reni, que tinha ginga, força e ainda cantava. Muitos bateristas foram testados, mas foi Andy Watts quem conseguiu o posto.

Com três desconhecidos, Squire tinha uma banda que acreditava seria a ideal.

O nome é um caso curioso. Teorias da conspiração, dizem que The Seahorses é um anagrama pra “He Hates Roses” ou pra “The Rose Ashes”. Mas Squire dizia que tem a ver mesmo com o animal aquático. Melhor ficar com a teoria.

Até porque a banda não durou muito pra contar histórias melhores. O quarteto logo começou a se esfacelar.

Após gravar o disco em Los Angeles, com total apoio da gravadora (que deu à banda a produção de Tony Visconti, fiel colaborador de David Bowie), e conseguir um surpreendente terceiro lugar nas paradas de singles, com a música de estreia, “Love Is The Law” (de quase oito minutos!), o grupo de desconhecidos passou a mostrar suas divergências musicais.

Ouça “Love Is The Law”:

Ao vivo, o entrosamento não era dos melhores. Squire também não foi muito com a forma como Andy Watts se postava, e ele logo foi demitido (pra então ficar com sua própria banda, Mozer).

A banda abriu pros Rolling Stones e pro Oasis, tinha uma boa projeção e ajudou a vender o disco, que chegou às trezentas mil cópias que renderam platina na Inglaterra. Os singles seguintes ajudaram: “Blinded By The Sun” chegou ao sétimo lugar (mais pelo clipe engenhoso, com a banda literalmente flutuando sem gravidade); e “Love Me And Leave Me”, escrito em parceria com Liam Gallagher, ao décimo sexto posto.

Veja o clipe oficial de “Blinded By The Sun”:

Veja o clipe oficial de “Love Me And Leave Me”:

O disco tinha apenas três canções de autoria de Helme – uma com Fletcher – que passou a exigir maior participação nas composições. Squire não gostava do que recebia. E, de fato, a canção mais interessante do disco é de Squire: “1999”, que lembra bastante o Stone Roses de “Second Coming”.

Curiosamente, um single que ficou fora do disco e considerado um dos melhores do Seahorses, “You Can Talk To Me”, foi assinado em parceria Squire/Helme. A música lançada em dezembro de 1997, seis meses depois do álbum, atingiu o posto de número quinze na parada inglesa. A essa altura, Mark Heaney era o baterista.

Ouça “1999”:

Veja o clipe oficial de “You Can Talk To Me”:

A música deveria aparecer no segundo disco do grupo, que se chamaria ou “Minus Blue” ou “Motorcade”. Mas em 1999, o Seahorses naufragou de vez, com Helme e Squire trocando farpas pela imprensa (o ex-guitarrista do Stone Roses chegou a declarar ter vergonha de “Do It Yourself”).

O motivo principal alegado é que Helme queria tocar o Seahorses e uma carreira solo em paralelo. Não dava. Helme, hoje, leva o The Yards em frente, sem um pingo do barulho que o Seahorses fez.

E o segundo trabalho da banda, nunca lançado, chegou a ser gravado, mas jamais concluído e sequer masterizado. Não se espante se aparecer por aí, menos dia, mais dia.

“Do It Yourself” não tem a menor importância pra música pop, nem mesmo em termos de vendas. Serviu como válvula de escape de Squire pós-Stone Roses – e o próprio título da obra, dando um recado a Ian Brown, não deixa dúvidas desse intento. Mas, você sabe, até o Stone Roses já se reuniu pra ganhar uma grana.

O álbum também não é criativo a ponto de servir como inspiração pra alguém. É, por outra, uma espécie de homenagem-fixação na busca do “T-Rex Sound”, moldado por Marc Bolan, duas décadas antes.

Mas o disco é bom como peça pop isolada, se apagarmos o passado do seu criador principal. Aliás, é o peso da comparação com o passado de Squire que faz “Do It Yourself” se tornar menor – ao mesmo tempo que lhe vale os feixes de luz da história.

The Seahorses em “Do It Yourself” é:
John Squire (guitarra)
Chris Helme (vocal e guitarra)
Stuart Fletcher (baixo)
Andy Watts (bateria e vocal de apoio)
Lili Hayden (violino)

Álbum – Do It Yourself
Lançamento – 26 de maio de 1997
Gravadora – Geffen Records
Tempo total – 45 minutos e 29 segundos
Produção – Tony Visconti

Lado A
01. I Want You To Know
02. Blinded By The Sun
03. Suicide Drive
04. Boy In The Picture
05. Love Is The Law
06. Happiness Is Egg-Shaped
07. Love Me And Leave Me
08. Round The Universe
09. 1999
10. Standing On Your Head
11. Hello

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