DISCOS (POP) PERDIDOS #6: GRANT LEE PHILLIPS – STRANGELET

Discussões sobre música pop sempre provocam faíscas e opiniões contrárias, na maioria das vezes saudosistas demais ou modernóides ao extremo. Gostaria de começar explicando que a idéia inicial (minha e do Fernando Augusto) de fazer uma coluna que listasse alguns bons discos (pop) perdidos, no tempo e no espaço, não tinha a intenção de se limitar a um passado distante. Acredito que a música feita hoje tem caído de qualidade, sim, confesso que não gostei nada do disco novo do Arcade Fire, e acho que a maioria das bandas ditas “indies” consumidas por jovens da minha idade são totalmente dispensáveis. Falta boa vontade.

Bandas boas e discos bons sempre vão existir. Em 2014, 2045, ou ainda em 3090. Acredito que sempre existirá alguém compondo algo de verdade, música que toque as pessoas e que mude vidas e sentimentos. O fato é que esses bons artistas hoje se encontram, ou se perdem, nos escombros deixados pela história que, ao acontecer quase que instantaneamente com o futuro, nos tira a noção exata de temporalidade.

Dito isso, o nosso sexto disco pop perdido é do ano de 2007. Isso mesmo, de “ontem”. “Strangelet” é o quinto álbum solo de Grant Lee Philips. Natural da fábrica da boa música, a Califórnia, nasceu em 1963, despertou interesse por música no meio dos anos 80 quando foi pra Los Angeles e montou uma banda pra tocar nos finais de semana. Em 1987, formou a banda Shiva Burlesque com um amigo de infância chamado Jeffery Clark. Em 1991, formou o Grant Lee Buffalo e conseguiu algum sucesso no cenário alternativo dos anos 90. Com o fim da banda, em 1999, o cantor decidiu sair em carreira solo.

“Strangelet” significa uma matéria-estranha ou os chamados buracos-negros, tão densos que até o ponto mais diminutivo de um poderia, teoricamente, engolir um planeta inteiro. Grant Lee teria afirmado que o disco é uma coleção de canções sobre tempos estranhos, um mergulho das partes mais profundas, densas e desconhecidas da alma (“Runaway”) ou a hostilidade exterior da natureza humana (“Chain Lightnin”), enquanto se diverte com a essência confusa do rock and roll (“Johnny Guitar”).

“O pensamento de toda essa matéria estranha flutuando por aí ao redor. Que existe muito mais sobre as estrelas do que podemos imaginar – buracos negros, anãs brancas … “: Phillips.

Ouça “Johnny Guitar”:

Uma narrativa leve que mistura sofrimento, conflitos e perdas com histórias de amor, esperança e redenção. É um trabalho essencialmente baseado no conceito de enfrentar a realidade, seja ela como for, abandonando o medo do desconhecido, recusando a idéia de ser destruído pela pressão social de tempos estranhos, que você não pode controlar, e que talvez nem exista.

O disco tem a marca principal das composições de Grant Lee, a melodia. Tem como ponto forte influências claras de músicos como Bruce Springsteen, Bob Dylan e Neil Young, Jackson Browne e o violão de Grant Lee permeia todas as 12 faixas, acompanhado pela doçura da bela voz do cantor. Não se limitando somente aos trabalhos mais acústicos, também traz um retorno às guitarras elétricas, canções como “Soft Asylum” e “So Much” soam como nos velhos tempos de Grant Lee Bufallo.

Provavelmente é o trabalho mais diversificado de sua carreira. Em “Strangelet”, Grant Lee, de alguma forma, consegue ser bem simples e exuberante, tudo ao mesmo tempo. Inicialmente contou com a colaboração do baterista Bill Rieflin e do guitarrista Peter Buck do R.E.M, mas preferiu gravar a maior parte do material sozinho, em LA, captando um ar solitário na maioria das canções, como na folk “Fountain Of Youth”.

Ouça “Fountein Of Youth”:

Desde que o Grant Lee Buffalo se separou em 1999, Phillips se estabeleceu como um cantor e compositor de primeira categoria, e “Strangelet” é um ótimo registro que mostra que ele ainda está na ativa, e com uma lista imensa de belas canções. Nesse sentido, esse conjunto de músicas é uma resposta pra um mundo fraturado, é um álbum pra tempos estranhos, onde há um lapso de sentido e uma confusão por parte de nós, os jovens, quanto à temporalidade e a modernidade existente.

“Strangelet” pode ter passado despercebido em 2007, ano de lançamento do segundo disco da banda que iria salvar o rock – lembram do Arctic Monkeys? Se o mundo fosse justo, Grant Lee Philips deveria ser idolatrado como um dos maiores cantores e compositores ainda em atividade e deveria influenciar e emocionar muitos corações e mentes. Porém, ele está aqui, com um disco (pop) perdido. Ainda falta muita boa vontade, mas o rock não precisa ser salvo por ninguém, precisa ser redescoberto por nós, os jovens.

Grant Lee Phillips em “Strangelet” é:
Grant Lee Phillips (baixo, guitarra, vocal, ukelele, teclado)
Peter Buck (guitarra, ukelele)
Leah Katz (violão)
Eric Gorfain (violino)
Bill Rieflin (bateria)
Richard Dodd (violoncelo)

Álbum – Strangelet
Lançamento – 27 de março de 2007
Gravadora – Rounder Records
Tempo total – 41 minutos e 46 segundos
Produção – Grant Lee Phillips

01. Runaway
02. Soft Asylum (No Way Out)
03. Fountain Of Youth
04. Hidden Hand
05. Dream In Color
06. Chain Lightning
07. Raise The Spirit
08. Same Blue Devils
09. Killing A Dead Man
10. Johnny Guitar
11. Return To Love
12. So Much

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