Os irmãos Darren e Brent Rademaker viraram o século prontos pra mudar a vida também. Em 2000, criaram o The Tyde, banda que tinha o dna praiano da Los Angeles que eles moravam. Mas um dna três décadas e meia atrasado: flower power, bicho grilo, surfista, de bem com a vida.
Darren era casado com Anh Do. Ela tocava teclado. Juntos, com Ben Knight (guitarra), Christopher Gunst (bateria) e Dave Scher (guitarra) formaram o The Tyde.
Darren, um apaixonado por surf, via seu irmão mais novo engatinhar com o Beachwood Sparks, junto com Gunst e Scher, e juntou todos num lugar só. O Beachwood Sparks mostrava-se sessentista, um elo entre o folk, o indie e a praia, e acabou lançando três discos pela prestimada Sub Pop (o mais recente, “The Tarnished Gold”, de 2012).
O Beachwood Sparks, por sua vez, nasceu da amizade de Gunst e Brent, que tocaram juntos no Further. O nome do grupo veio da união de duas ruas, a Sparks (onde Brent morava, no condado de Burbank, em Los Angeles) com a sua paralela, Beachwood. Los Angeles, praia, surf, anos 1960: esses eram os temas.
E eram temas que Darren apropriou-se ao criar o The Tyde. Mas havia uma diferença: aqui, vinha com doses mais claras de Beach Boys, que eram misturadas com Byrds e bandas como Felt, Lloyd Cole e – por que não? – Teenage Fanclub; graça, elegância e juventude.
“Once”, o primeiro disco, lançado em 2001, traz quitutes deliciosos como “All My Bastard Children”, “New Confessions”, “Strangers Again” e North County Times”, sobre curtir um paraíso de surf perto de casa.
As guitarras leves, as harmonias vocais, o clima de veraneio e sossego volta e meia se contrapunham com letras que abordavam temas mais melancólicos, como rompimentos amorosos, em “Strangers Again” e “All My Bastard Children”.
A tristeza vai fundo em “Get Around Too”, música de fim de noite, de solidão, de saudades – é uma prima distante de “Ocean Rain”, uma das mais belas canções do Echo & The Bunnymen.
A guitarra deslizante da neilyoungiana e sessentista “Silver Okay Michelle” (quase dez minutos), é inspirada no fracasso da patinadora no gelo Michelle Wingshan Kwan, que ganhou uma medalha de prata nas Olimpíadas de Inverno de Nagano (1998) e uma de bronze de Salt Lake City (2002); quando todos esperavam nada menos do que o ouro.
O disco não foi um sucesso comercial. Longe disso. Mas conseguiu aplausos da crítica, principalmente com o passar do tempo – há quem ache que é um dos melhores discos do século: Neal Casal, da banda de apoio de Ryan Adams vai mais longe e considera “Once” um dos seus dez discos favoritos de todos os tempos.
O Tyde lançaria “Twice”, em 2003, já com a chancela da Rough Trade, mais bem sucedido, pois mais pop e “praieiro” (vale ouvir tanto quanto este), e “Three’s Co.”, em 2006. Depois disso, só participou de um tributo à Madonna, “Through The Wildress: A Tribute To Madonna”, com “Hang Up”, em 2007.
Mas a banda não acabou (só o casamento de Darren com Anh Do). A banda hoje é um hepteto, com Darren Rademaker, Ben Knight, Brent Rademaker, Colby Buddelmeyer, Richard Gowen, Chelsea Larkin e Bobby Rodriquez. Ainda perambula pelos palcos dos Esteites e em breve deve lançar um novo trabalho, via Burger Records.
Talvez não fosse necessário. “Once” é uma obra daquelas que só aparecem vez por outra na música pop. É única. Darren e seu The Tyde, talvez, já tenham pego sua onda perfeita.
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The Tyde em “Once” é:
Brent Rademaker (guitarra, vocais)
Darren Rademaker (baixo, vocais)
David Scher (guitarra, órgão)
Chris Gunst (bateria)
Ann Do (piano e sintetizador)
John Alder (tamborim)
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Álbum – Once
Lançamento – 20 de março de 2001
Gravadora – The Track & Field Organisation
Tempo total – 41 minutos e 43 segundos
Produção – Darren Rademaker (com Rob Campanella)
Lado A
1. All My Bastard Children
2. New Confessions
3. Strangers Again
4. Get Around Too
5. North County Times
6. The Dawn
7. Improper
8. Your Tattoos
9. Silver’s Okay Michelle
Albúm gostosim de ouvir, chegou terminou que nem vi.