Essa é uma história de dor, uma tragédia que mudou o curso dos acontecimentos, que modernizou um esporte e levou um povo a repensar suas atitudes e se unir.
Uma história que Billy Bragg, músico de primeira linha e um dos maiores ativistas dos direitos humanos na Inglaterra, conta com uma guitarra e sua voz lamuriosa.
Tudo aconteceu em 15 de abril de 1989. Nesse dia, a Inglaterra via a maior tragédia da história de seu futebol. Liverpool e Nottingham Forest faziam uma das semifinais da Copa da Inglaterra, no agora famoso Estádio Hillsborough, pertencente ao Sheffield Wednesday. Era, à época, um dos estádios capacitados pra receber um grande número de torcedores. Mas não aquele número.
Nesse dia, a desorganização na venda de ingressos e a invasão que levou à superlotação do estádio acabaram causando a morte de 96 torcedores do Liverpool, muitos deles simplesmente esmagados contra as grades de proteção ou pisoteados. Torcedores foram atendidos no campo de jogo. A partida foi interrompida aos 6 do primeiro tempo e o cenário de caos foi pintado. A tragédia que calou o país, ao menos, levou o futebol inglês à modernização que possibilitou que hoje os ingleses tenham uma das Ligas mais organizadas e ricas do mundo.
O relatório que se seguiu à tragédia fez com que a Federação Inglesa de Futebol mudasse completamente o modo como tratava o público. Entre as medidas, algumas óbvias (na visão dos dias atuais), mas que ainda não foram implantadas no Brasil, mesmo às vésperas de sediar uma Copa do Mundo: os estádios não podiam ter grades ou alambrados pra separar o público do campo; cadeiras numeradas pra ver o jogo, uma por ingresso (parece óbvio, certo?), eram exigidas; as famosas “gerais”, áreas onde a torcida vê o jogo de pé, seriam completamente abolidas; e as punições aos marginais que arrumam brigam nos estádios ou em torno dele se tornaram severas (acabando na prática com os temidos hooligans).
Segundo o site do Globo Esporte, “havia também regulamentação pra preços de ingressos, sobre a quantidade de bilhetes destinados à torcida visitante e outras regras. Com a modernização dos estádios, os clubes passaram a faturar mais nos dias de jogos. Este fator é considerado como um dos principais para a ascensão do Campeonato Inglês enquanto negócio”.
Em meio ao luto que se seguiu, surgiu uma polêmica que dura até hoje. O tablóide The Sun publicou uma manchete, nos dias seguintes à tragédia: “A Verdade”, com letras gritantes, nada econômicas. O jornal dizia que os torcedores do Liverpool colaboraram pra tragédia ser do jeito que foi: uns urinavam nos policiais que tentavam salvar vidas, outros espancaram guardas que procuravam ordenar a confusão, e muitos nem estavam preocupados com o que acontecia.
Outros jornais embarcaram na onda, mas logo viram a furada em que estavam entrando e pediram desculpas ao povo de Liverpool. O Sun defendeu sua posição. E foi aí que começou sua derrocada na região. Até hoje, a campanha “Jamais compre (o) The Sun” (“Never Buy The Sun”) é vista e pode ser ouvido com torcedores do Liverpool. O jornal vendia antes da tragédia cerca de 200 mil exemplares por dia. Hoje, não chega a 20 mil.
Billy Bragg, por conta disso, fez “Never Buy The Sun”, música que abraça a dor daquele dia, fala dos políticos, da federação, dos tablóides e do luto. No vídeo abaixo, ele toca a canção ao vivo, empunhando seu violão. Emociona:
Clicando aqui, você pode baixar a canção na versão de estúdio (em troca de seu endereço de e-mail).