“Você nunca mais na vida vai encontrar uma banda com som realmente original!”. A sentença apocalíptica foi proferida num desses debates inócuos de bar, que só são relevantes num bar. Quem se importa, afinal, com “originalidade”, esse conceito um tanto vago e até certo ponto desastroso pras pretensões de qualquer artista se livrar da ansiedade?
O fato de um artista não ser original, já que originalidade não há, não o impede de evitar ser uma simples cópia de algo que já aconteceu. Parece difícil compreender, mas quando se ouve uma banda como a DRAHLA é perfeitamente possível clarear as ideias: sim, reciclar o passado pode soar como novo.
O trio formado em 2015 por Rob Riggs (baixo, guitarra, teclas e vocal), Luciel Brown (guitarra, baixo e vocal) e Mike Ainsley (bateria), em Leeds, Inglaterra, parece ter ouvido Wire e Sonic Youth demais e reprocessado tudo numa nova e delirante energia.
Tudo começou quando o casal Brown e Riggs se cansaram de fazer música no quarto em Wakefield, no oeste de Yorkshire. Eles decidiram se encontrar com o amigo Ainsley, em Leeds, e ali formar uma base. “Tomamos a decisão pois estávamos num beco sem saída”, disse Riggs à DIYmag.
Foi em Leeds que o trio conheceu MJ, líder de uma das bandas preferidas aqui da casa, a Hookworms, e dono do Suburban Home, estúdio que ficou com as portas escancaradas pro Drahla gravar.
Em 2016, conseguiram fazer o primeiro sete polegadas, “Fictional Decision”, com “Dog Collar Guillotine” no lado B. O lançamento foi pela caseira A Turntable Friend Records. No ano seguinte, saiu outro sete polegadas, “Faux Text”, e então o primeiro EP, em novembro, “Third Article”, com adição do saxofone de Christopher Duffin, que deixou o resultado ainda mais caótico.
“Nossos interesses e influências musicais estão em constante mutação, agora estamos ouvimos muito Joe Henderson. O movimento No Wave no final dos anos 70 em Nova York também é bastante influente”, disse Riggs à Clash. Luciel complementa: “como não somos músicos treinados, o som acaba sendo bem mais instintivo e vigoroso”.
E talvez essa seja a melhor definição pra banda: enérgica e vigorosa. Como o Sonic Youth foi até o fim. “Silk Spirit”, uma das faixas que ganhou um vídeo promocional, reforça a ideia:
Aqui o clipe de “Faux Text”:
Mas também o ponto de destaque pode ser atribuído à voz deliciosa de Luciel, quase infantil, vívida, como se não fizesse parte daquilo – a voz de Kim Gordon não pode ser jamais definida como “ruim”, só que é bem mais áspera.
Assim, com o apoio de MJ e com apresentações ao vivo insanas sonoramente (o trio se mexe pouco no palco, a despeito do tipo de som), o Drahla conseguiu rápido reconhecimento. Já saiu em turnê com o Metz, com o Ought e com o Parquet Courts, quase sempre ou roubando a cena ou merecendo tanta atenção quanto. O capo da Captured Tracks não teve dúvidas quando os viu em cima do palco pela primeira vez e resolveu assinar com a banda.
Enquanto o primeiro disco não rola de fato, o trio compilou num cassete todos os seus lançamentos até aqui (os dois sete polegadas e o EP) nesse “A Compact Cassette”. A produção toda do Drahla cabe aqui nessas oito músicas. Porém, esse é só o começo. Quem precisa de originalidade com um passado tão presente quanto esse?
1. Fictional Decision
2. Dog Collar Guillotine
3. Faux Text
4. Burden Of Proof
5. Form Of Luxury
6. Silk Spirit
7. Circuit
8. New Living Creation
Foto que abre o artigo: Emma Swann (tirada da matéria da DIYmag)