Quando lançou “Ad Astra”, o DUNAS apareceu pela primeira vez nas páginas do Floga-se, ao figurar entre os 50 discos pra ouvir na primeira metade de 2015 (veja a lista completa aqui).
O quarteto de Curitiba, Paraná, formado em 2011 por Francisco Bley (vocal e guitarra), Gabriel França (baixo), Guilherme Nunes (guitarra) e Lorenzo Molossi (bateria), engatinhava um processo de mutação do som desde o EP “Boas-Vindas”, de 2014 (ouça aqui).
Partiu de um pós-punk simples, inocente e bastante derivativo dos primeiros singles e EP (homônimo, de 2013) pra um reflexivo apanhado de improvisações-numa-tomada-só apresentado nos trabalhos seguintes e que alcança um ponto ainda mais alto com o novo disco, “Quarenta E Cinco Minutos”.
Embora exerça forte marca de new age e ambient, o Dunas, segundo seu vocalista, Francisco Bley, soa “como algo que vem muito de dentro da gente; esses lances de post-rock, ambient e tal não fazem muito sentido, mas é o que a gente acaba falando” (quando perguntam o que a banda toca). “É como uma experiência de entrega em que as ilusões de estarmos separados são suspensas”, diz, rindo.
Quando o quarteto foi formado, seus integrantes ainda eram muito jovens, na faixa dos dezessete anos. Hoje, eles têm vinte, e estão totalmente fora da curva dos desejos musicais da maioria dos da sua idade: preferem se embrenhar nas possibilidades da improvisação.
“O grupo acompanhou todo o nosso próprio amadurecimento como pessoas, amigos e sobretudo como músicos, passando por algumas mudanças de sonoridade ao longo dos anos de existência da banda. O maluco disso tudo é que não foi muito uma questão de escolha estética. Em 2014 – no regresso do Gabriel França do intercâmbio na Dinamarca – a gente se reuniu no nosso local de ensaio, e passamos uma noite inteira tocando de improviso, e registrando as composições. Quando a gente viu, tinha um EP instrumental inteiro, que fugia de qualquer estética que a gente já tinha visto, e que era diferente de tudo o que a gente já tinha tocado”, conta Bley.
“Foi como se uma energia, força – seja lá como denominar isso – muito maior do que nós mesmos, nos atravessasse. E a gente tinha a opção ou de assumir isso, e ver o que tinha nesse universo novo, ou de frear, e seguir tentando planejar as composições. Então, a gente optou pelo primeiro caminho, e foi como se passássemos do lugar de compositores pra veículos de uma música que simplesmente nos atravessava, e que era difícil reivindicar como se fosse de fato uma composição racional nossa. O ‘Quarenta E Cinco Minutos’ é literalmente o título do álbum. Nós ligamos os gravadores e nos deixamos ser atravessados por isso, pela duração do álbum. É uma gravação de um take só, 100% improvisada, que a gente separou depois em faixas”, revela.
Ao vivo, a banda tenta ir além do que faz em estúdio, afinal os discos são como um show gravado, mas sem plateia – uma tomada só, improviso, sem pré-arranjos: “ao vivo é bem mais pegado, entra bateria e tudo. E a gente mescla com músicas cantadas também (como em “Incenso/Ascenso”, EP de 2014), mas tem muito improviso também”.
O disco foi gravado em Curitiba e lançado pelo Coletivo Atlas, no dia 1º de agosto de 2015. A arte de capa é Matheus Franceschi.
São dez canções que são melhor admiradas se ouvidas na sequência, de preferência de madrugada, no silêncio.
Faça isso aqui:
E fique de olho no Dunas. Como nas montanhas de areia litorâneas que se moldam com os ventos do mar e engolem o passado, remodelando o presente, o grupo sempre pode se reinventar. Já fez isso uma vez, pode fazer de novo.
“A gente vai aprendendo a lidar com a sensibilidade e com o que esperar da música”, aposta Bley.
01. Tudo Atua Perante As Fileiras Do Vazio
02. O Universo Contido
03. Das Cadeiras Superiores, Observo O Ciclo
04. A Amplitude Humana Se Desprende do Corpo E Da Alma E Flui Em Hino
05. “Posso Tocar Minha Pele, Posso Espalhar Meu Âmago”
06. Os Cernes Meus E Teus Colidem
07. Valsa Dos Lumes
08. O Ciclo Se Quebra E No Palco Se Deita
09. Canta Aos Outros Enquanto Morre
10. Desfazer/Refazer