EDITORS EM BARCELONA – COMO FOI

Dia 13 de novembro de 2015. Em Estrasburgo, França, quase fronteira com a Alemanha, o Editors subia ao palco do La Laiterie pra mais um show da turnê do quinto disco, “In Dream”, lançado um mês antes. A quatrocentos e noventa quilômetros dali, Paris sofria os ataques terroristas que deixaram mais de cem mortos. Um dos ataques, no show do Eagles Of Death Metal, foi o mais cruel, dentro de uma casa de show, encurralando as vítimas, mortes a esmo.

Dois dias depois, o show que o Editors faria em Lyon foi cancelado. Não havia clima pra qualquer tipo de celebração pública – e, por questão de segurança, aglomerações não eram aconselháveis.

Como seguir em frente? Um atentado terrorista é algo acachapante porque pega de surpresa civis que não tem nada a ver com a agressiva geopolítica aplicada pelos governantes (que eles elegem, é claro), pela luta de poder e pelo desequilíbrio de forças ideológicas que vai aumentando essa diferença e a animosidade. Morre gente que poderia ser qualquer um, do nada.

Há várias formas de seguir em frente, é verdade, depende de como cada um encara a situação. A Europa toda, chocada, ficou de sobreaviso. Não só lá. Brasileiros, que são tão acostumados a esse estado de violência iminente nos grandes centros urbanos, preocupam-se com as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Todos estão de sobreaviso.

Marina Forato é uma brasileira que mora em Barcelona há dez anos. Talvez ela tenha se afastado dessa realidade violenta que sua São Paulo vive, mas está próxima demais dessa violência igualmente insana causada pela tensão Europa-EUA-Oriente Médio-Norte da África. Não há paz no mundo desde sempre.

Ela, fã do Editors, estava pronta pra ir ao primeiro dos dois shows que o grupo faria na Espanha – o primeiro, dia 16 de novembro, apenas três dias após os ataques, em Barcelona, no famoso Razzmatazz (o segundo seria no dia seguinte, em Madri).

“Esse show foi justo na semana seguinte ao que rolou em Paris. Muita dó… Aqui tem gente que tem medo de que role algum atentado terrorista, a polícia está em alerta, claro que dá medo, mas eu não acho que vai rolar nada de novo tão cedo. Não podemos viver apavorados no dia a dia e deixar de fazer as coisas que a gente gosta, ou deixar de ter uma vida normal. Pelo menos não aqui em Barcelona, por enquanto – em Paris ou em Bruxelas a coisa é diferente. Pelo menos estes dias…”, diz.

Bem… As pessoas, enfim, seguem em frente. Vivem a vida. Vão a bares, à praia, vêem os amigos, vão trabalhar, se encontram e torcem pra que nada demais aconteça. Que a loucura ou o desespero ou a busca por justiça dos outros não lhe atravesse o caminho. E, assim, o show no Razzmatazz aconteceu. E Marina foi.

Bem antes das primeiras notas, é possível, apesar do clima de suspeição, deixar os problemas (e o medo) um tanto pra lá. O Editors (ou qualquer banda, na verdade) está lá pra cumprir seu papel de entreter, de fazer com a arte o mundo um pouco melhor, por algumas horas. Você canta, abre os pulmões, se emociona com a proximidade do ídolo, com a sensação de liberdade de que não há nada mais a se preocupar a não ser adivinhar qual será a próxima canção.

Cada um venera os ídolos que quiser. Ninguém deveria ser atacado por isso.

ALL THE KINGS
Texto e fotos: Marina Forato

Embora com um pouco de atraso, é um prazer relatar as emoções vividas no show do Editors no Razzmatazz, no dia 16 de novembro, em Barcelona. Esperava ansiosamente até esse dia, quando tive a sorte de ver os britânicos pela terceira vez.

No início da turnê “In Dream”, era de se esperar escutar um pouco mais as novidades, pra apresentar ao público as novas músicas de um CD tão aguardado pelos fãs, depois de um hiato de dois anos.

Começo dizendo que este terceiro show seguiu a mesma fórmula dos que vi em 2009 e em 2011: eles tocaram algumas músicas do último álbum mais um bom pot-pourri de toda a sua carreira. Eu já sabia que isso ia rolar, mas é um pouco decepcionante depois de ter comprado o CD diretamente do site do grupo e ter a sorte de ser uma das primeiras fãs a escutá-lo, ter as músicas favoritas escolhidas e um setlist imaginário cantando na minha mente, e ter que escutar “Munich”, seu primeiro hit que muitos de nós dançamos alguma vez, em alguma balada, ao vivo novamente.

O “In Dream” é o quinto disco e nasceu na Escócia, filho de todos os integrantes, criado democraticamente. Foi lançado há menos de dois meses e não recebeu boas críticas deste lado do oceano. Considerado o disco mais escuro da banda, mas seguindo a linha mais “doce” do álbum anterior (“The Weight Of Your Love”, 2013) também tem alguns singles mais suaves ou mais “discotequeiros”, com muitos falsetes de Tom Smith, que foram postos à prova e elegantemente demonstrados com total domínio no palco.

O guitarrista Justin Lockey não pôde vir a este show porque sua esposa estava dando à luz seu filho em Londres, mas a performance dos cinco que enchiam o palco foi espetacular, com algumas versões diferentes e outras canções que faziam o público se sentir como se escutasse a música em casa, porque soavam à perfeição.

Tom e a sua trupe, em um pouco mais de dez anos de história, já têm experiência suficiente pra saber como animar a galera e fazer todo mundo sacudir o esqueleto. Passando por sons mais experimentais e eletrônicos, eles sabem como chacoalhar as massas e por esse motivo apelam pros hits do “Back Room”, de 2005. Em todo esse tempo, a banda passou por algumas mudanças de integrantes e mudanças de estilos – embora muitos discordem, eu acredito que eles evoluíram e que é bom demonstrar versatilidade. Eu, pessoalmente, curti todas essas fases.

A banda que abriu o show foi a Twilight Sad, com muita energia e gratidão perante o público, que vibrou e curtiu bastante.

O show foi organizado com uma estrutura que não deixou os fãs esquecerem que se tratava de uma turnê do “In Dream”: começou com a primeira música do álbum, “No Harm”, depois eles intercalaram algumas músicas dos outros discos com as novas “Life Is A Fear”, “Forgiveness”, “Salvation”, “All The Kings”, “Ocean Of Night” e acabaram com a última do disco, a belíssima “Marching Orders”.

Escutar “Munich”, “All Sparks” e “The Racing Rats” (com direito à gritos de coro estilo torcida de futebol, incentivado pelos músicos no palco) sempre é legal, mas acho que mais legal ainda é quando a banda surpreende o público com as músicas novas e versões de outras, o que não faltou, como em “Smokers Outside The Hospital Doors”, do segundo álbum, cantada em versão acústica – só voz e violão – pelo Tom.

Eu que tive a oportunidade de ir a três shows dos Editors, e em um deles fomos surpreendidos por um cover do The Cure. Comparo e destaco que neste último não fomos presenteados com nenhuma surpresa, mas correspondeu às minhas expectativas: uma performance enérgica, voz e sons potentes, emocionantes e dançantes.

Em uma hora e meia, o Editors fez o povo dançar, cantar e gritar. Tom revezava entre o microfone, o piano, o sintetizador, a guitarra, o violão e alguma dancinha. Uma das coisas boas de ver o show na segunda fila (além das fotos legais que podem sair e poder pegar uma palheta e um setlist no final) é que os músicos chegam pertinho de você. Este não foi o caso deste show. Infelizmente meus queridos inglesinhos se limitaram às suas comfort zones e à beira do palco, e não estenderam a mão nem com um high five pros fãs, que estavam morrendo de vontade de arrancar um pedaço de algum deles (hehehe). O que estes Kings tocaram foram os coraçõezinhos da gente…

01. No Harm
02. Sugar
03. Life Is A Fear
04. Blood
05. An End Has A Start
06. Forgiveness
07. All Sparks
08. Eat Raw Meat = Blood Drool
09. The Racing Rats
10. Formaldehyde
11. Salvation
12. Bones
13. Smokers Outside The Hospital Doors (acústica)
14. Bricks And Mortar
15. All The Kings
16. A Ton Of Love
17. Nothing
18. Munich

BIS
19. Ocean Of Night
20. Papillon
21. Marching Orders

Veja “Forgiveness”:

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