Todas as fotos deste post são de Fernando Barrientos, dos shows em Luján.
No Brasil, a coisa funciona assim, mais ou menos: ou sua banda puxa um saco bacana da mídia grande, dos jornalistas e produtores certos, ou vai ficar no limbo, confinada num circuito de abnegados que montam qualquer estrutura pra ouvir suas bandas nacionais preferidas.
Ok, ok, o parágrafo acima resume demais a encrenca que é o mercado alternativo nacional e deve cometer diversas injustiças. Mas não foge muito de uma regra que as badas conhecem bem.
A Electro Mind, quinteto de Porto Alegre formado por Nyh Vignoli (guitarra e vocal), Kika Hare (guitarra), Marina Jaskulski (baixo), Gabriela Tellini (teclado e vocais) e Giana Cognato (bateria), ainda desabrocha e não poderia esperar logo de cara grandes portas abertas. Mas conseguiu já uma turnê fora do território brasileiro.
Mês passado, a banda esteve na Argentina pra uma série de shows. Nyh Vignoli conta como essa história se solidificou: “no periodo entre janeiro e julho desse ano, a Electric Mind se afastou um pouco dos palcos, devido a nossa guitarrista, Kika Hare, ter se mudado pra Buenos Aires. Tentamos evitar ao máximo apresentações sem ela, pra conservar a formação original, agendando apenas datas que coincidissem com a possibilidade dela viajar ao Brasil. Nos viramos bem (risos), dentro dessas condições, e o lado bom disso tudo, foi o fato dela ter divulgado bastante o nosso trabalho por lá”.
Eis que surgiu a primeira turnê internacional da Electro Mind. Mas devido a problemas de agenda, profissionais e pessoais, a banda teve que se apresentar como um trio, apenas com Kika, Giana e Nyh.
Nyh conta como um pouco dessa experiência: “o primeiro show foi na quinta-feira, dia 11 de agosto, num lugar chamado Le Bar. Fomos muito bem recebidas, embora ainda estivéssemos nos familiarizando com o espaço e com o fato de estarmos tocando sem baixo e teclado. O palco era bem pequeno, direcionado mais para apresentaçoes acústicas. Fizemos o que podíamos, mas não saimos satisfeitas com o show – confesso que o meu humor tava um pouco abalado, pois tinha acabado de ser roubada no metrô (ela ri)”.
Tudo foi muito corrido e Nyh mostra o quanto – e como foi recompensador: “algumas horas depois, já estávamos correndo pro Emergente Bar, onde fizemos mais uma apresentação. Lá, foi exatamente o oposto. Já estávamos entrosadas e dava pra ouvir tudo muito bem. Foi um show incrível, talvez o melhor da turnê. Todo mundo pediu bis, e acabamos tocando mais umas três músicas, depois de ter fechado o set”.
Dois shows em um dia, mas a Electro Mind ainda tinha chão e palco na Argentina. No dia seguinte, 12 de agosto, a banda foi pra Termperley, tocar no Black Bird, com as bandas Jersey Killers e Beautiful Sundays.
Nyh: “trocamos material antes mesmo de começarem os shows, pois tinha uma banquinha com CD, adesivos e bottons de bandas independentes locais. Na hora de ‘subirmos’ ao palco (que era no chão, bem junto à galera), Fernanda Schabarum, nossa grande parceira no Brasil, que já estava careca de escutar as nossas músicas, assumiu o baixo. O show teve uma boa repercursão. Muitas pessoas vieram falar com a gente, e rolou até propostas para uma volta à Argentina em outubro, pra participar de um Festival em La Plata. Ficamos pra uma festinha, que teve no bar e foi aí que acabei com a minha voz, bebendo cerveja, falando alto e respirando fumaça (risos)”.
Mas quem tá nessa se empenha também – e principalmente – por diversão. “Acabar com a voz” não é sinônimo de fim da linha. No dia seguinte, a banda pegou um ônibus até Luján, localizada na província de Buenos Aires e com 68 mil habitantes. “Que cidade linda”, resume em exclamação Nyh, ignorando o pormenor policial que ocorreu no dia: “lá, tocamos no The Fedex Fex Fest, com mais três bandas argentinas (Los Pus, Jersey Killer e Evil Cannival). Fomos a segunda. Eu já tava bem rouca, mas a Giana me deu uma força nos vocais – e depois do show saiu louca a vender nossos EPs. Pena que a polícia bateu no local pra cortar o nosso barato e a Jersey Killers e Los Pus não tiveram a oportunidade de fechar a noite”.
Mais com cara de aventura do que estampa de turnê estruturada, a passagem da Electro Mind pela Argentina deixou um saldo positivo pras meninas: “voltamos pra casa sem nenhum CD e com aquela vontade de retornar com a banda completa. Foi a melhor experiência que tivemos esse ano, e é realmente gratificante saber que as nossas músicas já estão sendo ouvidas e admiradas pelos nossos hermanos”, diz Nyh.
Sim, essa história continua, certo? “Me chupa uno huevo!”, ri Nyh, por fim. A Argentina é aqui do lado.