Ouvi falar de Maurizio Bianchi em entrevistas antigas do falecido Corbelli (Atrax Morgue). Logo me interessei, devido à paixão com a qual ele foi mencionado. Na época, o primeiro disco a que tive acesso foi o “Synphony For A Genocide”, cujo o título já trazia inquietação.
Maurizio Bianchi é italiano, como você deve ter imaginado, e é, embora um pouco distante do guetto, contemporâneo ao experimentalismo eletrônico dos alemães e também do barulho feito pelo Throbbing Gristle. Dialoga com o industrial de forma rítmica, trazendo a idéia de desgaste e da deteriorização tecnológica com as timbragens escolhidas.
Seus primeiros trabalhos datam do fim da década de 1970, primeiro sob a alcunha de Sacher-Pelz . Foram quatro cassetes feitas entre 79 e 80 – na ordem, “Cainus”, “Venus”, “Cease To Existe” e “Velours” – e com distribuição bem limitada à época. Provavelmente, chegou apenas aos amigos etc. As quatro foram relançadas num único pacote, um CD quádruplo, todas juntas, por um label italiano chamado Marquis Record, em 2001. O Sacher-Pelz já apontava pra sonoridade que o Maurizio Bianchi viria a desenvolver quando adotasse seu próprio nome como nome artístico.
“Synphony For A Genocide” é um trabalho minucioso de beats processados, delays, tapeloops, distorção e sintetizadores pontuando bem alguns momentos. Algo que me chamou muito atenção quando ouvi o disco pela primneira vez foi o uso radical do estéreo. Ouvindo com fones, você terá uma experiência curiosa ao retirar um dos lados, tanto faz se o direito ou esquerdo. A mixagem foi feita colocando cada lado de certa forma “independente”. Left e right travam uma batalha dentro da sua cabeça. As construções são interessantíssimas. As repetições que te mantém em transe ao mesmo tempo te confundem com as pequenas nuances apresentadas às vezes apenas em um dos lados.
Não queria destacar uma ou outra faixa desse disco, o bom é ouvi-lo na íntegra, como sempre prego. Mas tenho um carinho especial pelas três últimas.
Ouça “Treblinka”:
Ouça “Auschwitz”:
Bem, agora você já tem um disco pra ouvir vou continuar a falar um pouco sobre o artista, que tem uma obra bem extensa.
Ele teve processos de hiperatividade e períodos de hiato. O primeiro hiato foi anunciado quando ele aderiu à religiosidade, o que, sem desvalorizar e com todo respeito, lembra-me um pouco minha adolescência, quando presenciei alguns conhecidos deixando de ouvir rock, beber e fumar seus baseados, e começarem a ir à igreja e “a ficar mais felizes”.
Em 1998, voltou à ativa, apresentando trabalhos com loops mais melodiósos e temáticas diferentes. Em 2009, um novo hiato foi anunciado. Recentamente, nesse mês de agosto, pra ser preciso, uma edição remasterizada de “Regel” (1982), outro grande disco, foi lançada. Interessante é que Maurizio Bianchi em pessoa acompanhou a remasterização.
“Symphony For A Genocide” ganhou um relançamento há relativamente pouco tempo, em CD, pela Hospital Procuction, de Dominick Fernow, mais precisamente em 2007.
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Um pouco mais: uma história curiosa é uma que envolve William Bennet, um dos mentores do Whitehouse, e sua gravador na época da Come Org. Em 1981, ele propôs a Maurizio um contrato com a gravadora que na realidade fora um “contrato piada” redigido pelo Steven Stapleton (Nurse With Wound) e que, reza a lenda, Maurizio Bianchi assinou sem ler.
A conclusão é que o contrato dava a Bennet direito às obras de Maurizio Bianchi. Isso acabou gerando o “side project” Leibstandarte SS MB, onde Bennet mixou parte do trabalho já existente de Bianchi com discursos de líderes nazistas, o que tornou a sonoridade de tudo ainda mais aterrorizante. O nome Leibstandarte SS, o qual no projeto foi acrescido do “MB” no fim, foi retirado do nome da unidade de guarda-costas de Hitler. Bianchi não considera esse material como parte de sua discografia oficial, mas vale a garimpada.
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LADO A
1. Treblinka
2. Auchwitz
3. Maidanek
4. Auchwitz (Reprise)
LADO B
1. Belzec
2. Chelmno
3. Sobibor
Data de lançamento: 1981
Gravadora: Sterile Records
Produtor: Maurizio Bianchi
Tempo total: 46 minutos e 22 segundos
[…] como a Monorail Trespassing e a própria Hospital Productions (já citada nessa coluna – veja aqui e […]